Marcus Drymon: “Saber onde se situam os habitats dos tubarões é o primeiro passo para os proteger”

Com mais de 15 anos de carreira a estudar os bad boys dos mares, Drymon foi um dos especialistas chamados a participar no programa Shark Beach with Anthony Mackie.

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Marcus cresceu no interior dos Estados Unidos, a centenas de quilómetros do oceano, mas nem isso o impediu de se apaixonar por tubarões. O fascínio que cultivou em criança e em adolescente acabou por se transformar no seu emprego. Nascido e criado no Kentucky, viajava várias vezes por ano para a costa dos EUA, para fazer mergulho com o pai. "Tive muitas oportunidades para observar estes animais nos seus habitats naturais. Quanto mais os via na água, mais fascinado ficava", recorda.

Com mais de 15 anos de carreira a estudar os bad boys dos mares, Drymon foi um dos especialistas chamados a participar no programa Shark Beach with Anthony Mackie, um dos documentários que fazem parte da programação Sharkfest, que o canal Nat Geo Wild emitiu durante todo o mês de Julho. Neste documentário, Anthony Mackie, actor que dá vida a Sam Wilson/Falcão​ nos filmes do Capitão América, explora os rumores crescentes de que os encontros entre pescadores e tubarões podem estar a aumentar no golfo do México. Com uma equipa de especialistas, Anthony parte numa viagem para explorar soluções que podem ajudar humanos e tubarões a coexistirem no grande estado do Luisiana.

Em conversa com o PÚBLICO, Marcus, que também é professor associado na Universidade do Estado do Mississípi, refere que nos últimos 15 anos que passou a estudar tubarões no golfo do México (e não só) conseguiu aprender coisas novas quase todos os dias. E reforça que, apesar de ser um "equilíbrio delicado", é importante que "encontremos uma forma de fazer com que os seres humanos e a vida selvagem possam coexistir no mesmo ecossistema".

Estuda tubarões através do método "apanhar, etiquetar e libertar" há vários anos. O que é que aprendeu sobre estes animais?
Aprendemos imenso sobre os seus movimentos, hábitos migratórios, sazonalidade, distribuição e abundância relativa dos tubarões no Norte do golfo do México. Quando apanhamos um tubarão, colocamos um rastreador e depois libertamo-lo, assim sabemos sempre por onde anda. Isto exigiu mais de 15 anos de trabalho, mas também é interessante continuarmos a aprender coisas novas todos os dias. Sei que nunca compreenderemos completamente este ecossistema e que haverá sempre coisas novas a descobrir.

Os tubarões são animais muito temidos, mas também geram muita curiosidade em nós, humanos. Porque acha que isto acontece?
Acho perfeitamente normal que os seres humanos se sintam fascinados e ligeiramente receosos em relação aos grandes predadores. Se pensarmos num leão ou num tigre, eles são intrinsecamente interessantes. Na minha opinião, é importante recordar primeiro a parte do fascínio e não deixar que a parte do medo conduza a forma como as pessoas se sentem em relação aos tubarões.

Este documentário da National Geographic foi a sua primeira experiência no meio audiovisual?
Não foi a minha primeira experiência, mas foi uma das melhores que já tive porque foi um prazer trabalhar com aquela equipa. Contactaram-me por causa de alguns dos meus trabalhos sobre a depredação, que acontece quando um tubarão morde um peixe que um pescador já apanhou com a sua cana ou rede. E, como estavam interessados nesse processo para alguns dos episódios, quiseram incluir o meu trabalho. Este documentário mostra-nos a viagem de Anthony Mackie, um actor famoso de Nova Orleães, para compreender melhor a importância dos tubarões, dos ecossistemas costeiros e da sua interacção e relação com os seres humanos. Fala-nos de temas como perda de habitat e sobrepesca. É uma história muito interessante porque Mackie viaja por vários ecossistemas diferentes, o que nos permite ver os problemas de vários ângulos.

Num dos primeiros episódios, Anthony Mackie fica fascinado ao aprender algumas curiosidades sobre os primeiros meses de vida de um tubarão-touro. O que nos pode dizer sobre isso?
Os primeiros meses de vida de um tubarão dependem muito da espécie. Há cerca de 500 tipos no planeta, mas as mães de espécies como os tubarões-touro, que acompanhamos no documentário, vêm para estas áreas protegidas, muito pouco profundas, e deixam as suas crias. Os bebés ficam ali durante os primeiros anos da sua vida porque estão protegidos de grandes predadores, têm muitas fontes de alimento e um habitat que lhes é benéfico.

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Marcus Drymon National Geographic

Sendo que tudo isso se passa em águas perto da costa, o que podemos fazer para proteger estas crias?
É um equilíbrio bastante delicado. Sabemos que precisamos de proteger estes habitats para os tubarões-fêmea e os habitats que servem de berçário e onde os tubarões jovens residem durante os primeiros anos das suas vidas. Para isso, compreender onde se situam esses habitats é o primeiro passo. Os pescadores precisam de compreender que, quando pescam nestas zonas costeiras, estão a partilhar a água com tubarões adultos e bebés e precisam de ajustar as suas expectativas. O oceano é a casa do tubarão e eles são predadores que comem peixe. Lembrar isto pode tornar todas as interacções menos frustrantes. Já tive várias experiências de depredação, então sei que é um tema importante para pescadores. Fisguei um peixe e estava a tentar puxá-lo quando um tubarão passou mesmo por cima do meu ombro e arrancou o peixe da minha lança. Também sou pescador e partilho as mesmas frustrações, mas é importante que encontremos uma forma de fazer com que os seres humanos e a vida selvagem possam coexistir no mesmo ecossistema.

Até porque a presença dos tubarões nestes habitats é muito importante para a quantidade de peixe a que os pescadores têm acesso...
Sem dúvida, sim.

Durante a realização deste documentário, aprendeu alguma coisa nova que não soubesse sobre tubarões? Sei que isso é um pouco difícil depois de tantos anos no terreno, mas pode acontecer...
Não diria que aprendi algo novo, mas relembrei como é único estar com alguém que vê um tubarão de perto pela primeira vez, algo que aconteceu com Anthony Mackie. Diria que é uma das coisas de que mais gosto, ver a reacção das pessoas ao ver um tubarão, seja de que espécie for, pela primeira vez.

Há alguma espécie de tubarão que consiga eleger como sua preferida?
A resposta curta é todos. Mas se tivesse de vos dar alguns favoritos, o tubarão-azul sempre foi um dos meus favoritos desde a infância. É um viajante global, um belo tubarão com uma bela coloração azul, tem umas barbatanas peitorais longas e finas, é muito gracioso. Na minha opinião, é único. Mas também gosto de tubarões-tigre, por outras razões. São abundantes nas águas costeiras e nas águas pelágicas ao largo da costa. Os seus hábitos alimentares são fascinantes, têm uma estratégia de reprodução que é incrivelmente única. Há tantas espécies que captam a imaginação...