Clima: “A série de meses de valores recorde chegou ao fim, mas apenas por um triz”

Série de 13 meses com temperaturas recorde terminou, mas por muito pouco, de acordo com análise do serviço do programa europeu Copérnico. “O contexto global não mudou”, avisa responsável.

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Julho último foi o mais quente em vários países do mundo Martin Harvey/Getty Images
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Apesar de ter oferecido o dia mais quente alguma vez registado, o mês de Julho foi globalmente o segundo mais quente – com uma temperatura média do ar à superfície de 16,91 graus Celsius, 0,04 graus abaixo do valor de Julho de 2023, de acordo com um comunicado do Serviço Copérnico para as Alterações Climáticas (C3s, sigla em inglês), programa da União Europeia, divulgado esta quinta-feira de madrugada.

De acordo com a base de dados ERA5, usado pelo Copérnico, aquele valor é 0,68 graus acima da temperatura média de Julho para o período de 1991 a 2020 e 1,48 graus acima da média pré-industrial. Estes valores marcam dois términos: o fim de 13 meses seguidos, entre Junho de 2023 e Junho de 2024, em que a temperatura média de cada mês foi sempre a mais alta para aquele mês, em relação aos registos passados; e marca o fim de 12 meses seguidos em que a temperatura média da Terra foi pelo menos 1,5 graus superior em relação ao período pré-industrial.

Mas esta pequeníssima diminuição, relacionada também com o fim do fenómeno El Niño – quando as águas superficiais de parte do oceano Pacífico atingem temperaturas acima da média –, não retira as altas temperaturas vividas em muitas regiões do planeta.

“A série de meses de valores recorde chegou ao fim, mas apenas por um triz”, apontou Samantha Burgess, directora-adjunta do C3s, no comunicado do Copérnico. “O contexto global não mudou, o nosso clima continua quente. Os efeitos devastadores das alterações climáticas começaram muito antes de 2023 e vão continuar até as emissões líquidas globais de gases com efeito de estufa terem chegado ao zero”, vaticinou a especialista, referindo-se aos poluentes lançados para a atmosfera, durante a queima de combustíveis fósseis nas actividades humanas, que estão a fazer com que a Terra acumule mais calor vindo do Sol.

Nesse sentido, Julho de 2024 continuou a quebrar recordes, foi o mês mais quente na Bulgária, na China, na Grécia, na Hungria, no Japão, entrou outros países, de acordo com um comunicado da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre a continuação de calor extremo e do seu impacto, divulgado nesta quarta-feira​. “No último ano, pelo menos dez países registaram uma temperatura diária de mais de 50 graus em mais do que uma localização”, disse por sua vez Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, sublinhando que a actual situação está a tornar-se insuportável.

De acordo com o Copérnico, ao longo dos últimos 12 meses, entre Agosto de 2023 e Julho de 2024, a temperatura média da Terra foi 1,64 graus acima da era pré-industrial, ultrapassando a barreira de 1,5 graus definida pelo Acordo de Paris, a partir da qual torna-se difícil evitar os piores efeitos das alterações climáticas. Embora esta barreira só seja de facto ultrapassada quando a temperatura média da Terra for consistentemente acima daquele valor, é cada vez mais difícil evitar aquele patamar.

“A adaptação climática não é suficiente. Precisamos de atacar a raiz do problema e sermos sérios na redução dos níveis recorde das emissões de gases com efeito de estufa”, afirmou Celeste Saulo.