Água nas praias portuguesas está mais contaminada este ano, alerta a Zero

Foram proibidos banhos em 41 praias, mais 13 do que em 2023. APA diz que maior quantidade de chuva está a realçar problemas dos sistemas de tratamento e de drenagem de águas residuais.

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O concelho de Cascais é o que registou o maior número de praias afectadas por "qualidade imprópria ou interdições" Nelson Garrido
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A associação Zero alertou esta terça-feira para o agravamento da qualidade da água nas praias portuguesas, referindo que durante a presente época balnear 41 já estiveram interditas e 46 com banhos desaconselhados, a maioria no concelho de Cascais. Em comunicado, a associação ambientalista explica que estas preocupações resultam de uma comparação entre os resultados da qualidade das águas das praias portuguesas entre este ano e o ano passado. "Existem actualmente 664 águas balneares cuja monitorização é reportada, com um número limitado de praias a revelarem problemas, mas de forma mais expressiva do que na época balnear passada", indica a Zero.

Desde o início da época balnear (1 de Maio) já foram desaconselhados ou proibidos banhos em 46 praias, mais 17 do que em período semelhante do ano passado e já foram interditadas 41 praias, mais 13 do que em 2023, a maioria por "má qualidade", sendo que 15 eram costeiras e 26 interiores. "Nestas zonas balneares as análises ultrapassaram os limites fixados tecnicamente a nível nacional relativamente a, pelo menos, um dos dois parâmetros microbiológicos que são avaliados (Escherichia coli e Enterococcus intestinais)", aponta.

Em resposta às preocupações levantadas pela Zero, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já veio esclarecer, em comunicado, que o número mais expressivo de restrições a banhos está relacionado com as "deficiências ainda existentes nos sistemas de tratamento e de drenagem de águas residuais". Com o aumento da precipitação durante este Verão, a degradação deste sistema, em resultado de "necessidades de manutenção e reabilitação que ainda não foram supridas", fica ainda mais a nu. "Estas deficiências permitem a afluência indevida de águas residuais aos sistemas de drenagem pluvial que, em ocasiões de precipitação intensa, provocam descargas em rios e no oceano que impactam águas balneares", lê-se na nota da APA, emitida horas depois do comunicado da Zero.

Conclusões "especulatórias"

Segundo a Zero, as águas balneares que apresentaram maior número de situações de água imprópria para banhos foram Matosinhos, com três situações de desaconselhamento ou proibição de banhos e Parede (Cascais), Camilo (Lagos), Bitetos (Marco de Canavezes), Vieira (Marinha Grande), Molhe Leste (Peniche) e Azenhas do Mar (Sintra), cada uma delas com duas situações de desaconselhamento ou proibição de banhos. O concelho de Cascais, no distrito de Lisboa, foi o que registou o maior número de praias afectadas por "qualidade imprópria ou interdições" (seis praias).

Mas o método para avaliar a qualidade da água das praias portuguesas utilizado pela Zero é contestado pela APA, que diz que esse estudo é feito anualmente depois do fim da época balnear e que qualquer conclusão retirada nesta altura é "extemporânea e especulatória". "A simples contagem de símbolos de desaconselhamento ou de interdição no SNIRH não é a metodologia adequada para apurar a qualidade da água nas praias", refere-se ainda no comunicado do organismo estatal.

A Zero lamenta também a existência de "falhas na informação que é disponibilizada no site da APA", uma vez que "nem sempre se esclarecem devidamente os motivos de interdição das zonas balneares e os procedimentos por parte dos Delegados Regionais de Saúde".

"Há 92 águas balneares sem quaisquer resultados de análises disponibilizados (14% do total de águas balneares), sendo que praticamente todas as praias são da Região Autónoma dos Açores. Por exemplo, a página da APA dedicada a comunicar desaconselhamentos e interdições da prática balnear representa uma melhoria no esforço de comunicação, mas não está totalmente consistente com a informação do Sistema de Informação de Recursos Hídricos", aponta.

Sobre esta falta de dados referente à região dos Açores, a APA diz que estará, entretanto, "colmatada" e garante que disponibiliza todas as informações sobre ocorrências registadas e resultados das análises às águas balneares no seu site. "Neste momento, apenas existem duas águas balneares sem dados no SNIRH: uma que ainda não iniciou a época balnear (Praia Fluvial de Oriola, no concelho de Portel) e outra que, devido ao fecho do caminho de acesso, (Alverangel, concelho de Tomar), não permite a colheita de amostras, mas também não permite o acesso a banhistas."

Como ponto positivo, a associação ambientalista destaca o facto de "nenhuma 'Praia Zero Poluição' ter apresentado "problemas significativos de qualidade de água". "Nenhuma das 59 praias classificada pela associação como Praia Zero Poluição (zonas balneares onde não foi detectada qualquer contaminação nas análises efectuadas ao longo das três últimas épocas balneares) foi abrangida por interdição associada à ultrapassagem de parâmetros microbiológicos. Porém, não foi possível verificar esta circunstância para as águas balneares da Região Autónoma dos Açores por ausência de informação no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos", salienta a associação.


Notícia actualizada às 17h30: foi acrescentada informação do comunicado da APA