Itália nomeia comissário para combater a propagação do caranguejo-azul que ataca amêijoas

“O caranguejo-azul comprometeu algumas actividades económicas. Mas, acima de tudo, corre o risco de prejudicar todo o ecossistema marinho”, disse o Ministro da Agricultura Francesco Lollobrigida.

Foto
Caranguejos azuis que atingiram a costa de Porto Tolle, em Itália FISHERMEN'S COOPERATIVE OF POLESINE / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
02:16

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Itália nomeou na terça-feira um comissário especial para combater a propagação do caranguejo-azul, uma espécie agressiva que está a atacar as amêijoas locais e a ameaçar uma parte lucrativa da produção alimentar nacional.

Originários do Atlântico ocidental, os caranguejos azuis têm proliferado em vários locais da costa italiana, particularmente no delta do rio Pó, no norte, onde as tentativas de reduzir os números com grandes campanhas de pesca têm tido pouco sucesso.

Os especialistas dizem que os caranguejos azuis chegaram provavelmente a Itália através das águas de porão dos navios, mas não se sabe ao certo por que razões se estão a multiplicar tão rapidamente ou se poderá haver uma ligação às alterações climáticas.

"O caranguejo-azul comprometeu algumas actividades económicas. Mas, acima de tudo, corre o risco de prejudicar todo o ecossistema marinho", disse o Ministro da Agricultura Francesco Lollobrigida numa conferência de imprensa, onde anunciou a nomeação do Comissário Enrico Caterino.

O grupo de pressão agrícola Coldiretti - que também representa o sector das pescas - afirmou num comunicado que o caranguejo-azul causou, até agora, cerca de 100 milhões de euros (109 milhões de dólares) de prejuízos, acabando com a produção de amêijoas nas regiões do norte de Veneto e Emilia Romagna.

A Itália é o maior produtor de amêijoas da Europa e o terceiro maior do mundo, atrás da China e da Coreia do Sul, segundo dados da ONU de 2021. É também o berço do "spaghetti alle vongole" (esparguete com amêijoas), um clássico da cozinha italiana.

No ano passado, o governo da primeira-ministra Giorgia Meloni afectou cerca de 2,9 milhões de euros para ajudar as empresas afectadas pelo caranguejo azul. "É uma catástrofe. A nossa produção é nula. Só estamos a apanhar caranguejos", disse Paolo Mancin, chefe da Cooperativa de Pescadores de Polesine, parte do delta do Pó.

O Ministro do Ambiente, Gilberto Pichetto Fratin, manifestou a sua preocupação com a possibilidade de o predador se espalhar para outras partes de Itália a partir do Mar Adriático oriental, cujas águas atingiram temperaturas acima da média nas últimas semanas.

"O nosso objectivo é reduzir a presença (dos caranguejos azuis) no Adriático e evitar uma propagação maciça para outras áreas", disse o ministro aos jornalistas, sem dizer que tipo de medidas podem ser tomadas para combater as espécies invasoras.