“Fez-me chorar”: casal voltou a glaciar na Suíça 15 anos depois. O post tornou-se viral

Duncan e Helen Porter visitaram o glaciar do Ródano, nos Alpes suíços, há 15 anos. Voltaram ao mesmo lugar. As duas imagens, publicadas lado a lado, mostram a radical diferença na paisagem.

Foto
Duas fotografias no mesmo lugar, separadas por 15 anos e um dia Duncan Porter/DR
Ouça este artigo
00:00
05:38

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Praticamente do dia para a noite, Duncan Porter tornou-se famoso. Tudo por causa de uma mensagem na rede social X onde mostrou, lado a lado, duas fotografias separadas por 15 anos. As imagens captadas exactamente no mesmo local mostram a diferença radical na paisagem. A publicação original, publicada a 4 de Agosto, tem um curto, mas impactante, comentário: "Quinze anos menos um dia entre estas fotografias. Tiradas hoje no glaciar do Ródano, na Suíça. Não vou mentir, fez-me chorar."

"Foi impressionante ver o quanto um glaciar pode recuar numa parte tão pequena de uma vida humana. Estávamos à espera de ver uma pequena redução, mas a imagem era muito clara", conta Duncan Porter num e-mail enviado ao PÚBLICO, acrescentando que a fotografia original era de uma viagem de carro com a mulher há 15 anos. "A fotografia era tão boa que a mandámos emoldurar e esteve pendurada na nossa cozinha durante quase 15 anos."

Saiu da parede para o imenso mundo da Internet agora, depois de umas novas férias que planearam para visitar o mesmo local. A família tinha crescido e, desta vez, o casal britânico Duncan e Helen partiram para a viagem com os filhos Maisie e Emily. "Quando planeámos estas férias, era para ser uma viagem de carro para evitar andar de avião e queríamos mesmo levar os nossos filhos ao mesmo sítio que estava na fotografia antes de eles nascerem. Eles tiveram a ideia de recriar a fotografia para nós", explica.

"A segunda fotografia foi tirada algumas horas antes de a publicar. Queria partilhar a minha experiência com as pessoas que me seguem, pois não é habitual ver uma comparação com datas tão semelhantes, com uma ligação humana. Não estava à espera que se tornasse viral."

Responder aos novos seguidores

Olhando para o perfil de Duncan Porter, percebe-se que a preocupação ambiental é mais do que um acaso ou curiosidade. "Nas últimas décadas, tenho estado fortemente envolvido em muitos projectos de acção climática baseados no Reino Unido. Ver uma visão tão visceral do impacto no glaciar foi um momento comovente, porque os defensores do clima estão a lutar contra uma maré de apatia e negacionismo. Estamos a perder esta luta", alerta.

O post de "@misterduncan" teve um impacto inesperado. Mas se, por um lado, a impressionante imagem despertou a percepção da rapidez das mudanças climáticas à nossa volta, à volta de qualquer pessoa, também mereceu uma contestação imediata de algumas vozes a querer desdramatizar o fenómeno.

Como reagir? "Já não tenho tempo para as pessoas que a refutam. O meu post recebeu o apoio de climatologistas e glaciologistas. Se alguém for abusivo, eu bloqueio-o. Se alguém discordar, mas for respeitoso, encorajo-o a ouvir os especialistas na matéria que estão a fazer soar o alarme bem alto", diz ao PÚBLICO. Na rede social assume: "Tem sido uma manhã agitada para bloquear pessoas profundamente desagradáveis que usam o seu tempo para insultar publicamente de estranhos nas redes sociais. Além disso, houve comentários muito simpáticos, que são aqueles em que me vou concentrar".

Foto
A fotografia do casal no mesmo local, nos Alpes suíços Duncan Porter/DR

E agora?

Duncan Porter poderia aproveitar a exposição mediática de um simples post para criar uma tendência popular, mas não é esse o plano. "Não tenho planos actuais para visitar outros lugares transformados pelas alterações climáticas, mas quero garantir que os meus filhos possam testemunhar as mudanças que estamos a viver, mas também compreender que viajar, mesmo evitando voar, tem os seus próprios problemas."

Ainda assim, esta visibilidade acidental pode ser um oportunidade para (mais) um alerta: "Penso que muitas pessoas têm dificuldade em compreender o que podem fazer para mudar a situação a nível global, mas há muitas coisas que as pessoas podem fazer a nível comunitário para reduzir o impacto e preparar-se para o que está para vir. Há muitas organizações que desenvolvem um trabalho prático e influente que precisam de voluntários e de dinheiro. Cada indivíduo pode escolher cuidadosamente em quem votar, fazer lobby junto do seu representante eleito e ter muito cuidado com as empresas com que gasta o seu dinheiro. A mudança pode ser conseguida com uma pequena minoria, mas temos de agir rapidamente e ouvir os especialistas na matéria".

Foto
A fotografia do casal Ducan e Helen tirada há 15 anos na Suíça Duncan Porter/DR

O manto de gelo da Suíça sofreu em 2023 a segunda pior taxa de derretimento, após perdas recordes em 2022, diminuindo o seu volume total em 10% nesses dois anos, segundo os responsáveis do organismo nacional de monitorização Glacier Monitoring Switzerland (Glamos).

Em 2023, no terceiro Verão mais quente de que há registo na Suíça, observou-se que, em dois anos, os glaciares perderam tanto gelo como nas três décadas anteriores a 1990, segundo o Glamos, que descreveu as perdas como "catastróficas".

"Este ano foi muito problemático para os glaciares porque houve muito pouca neve no Inverno e o Verão foi muito quente", disse na altura à Reuters Matthias Huss, que lidera a Glacier Monitoring Switzerland. "A combinação destes dois factores é o pior que pode acontecer aos glaciares." Mais de metade dos glaciares dos Alpes está na Suíça, onde as temperaturas estão a aumentar cerca do dobro da média global devido às alterações climáticas.

O cientista Matthias Huss também usa as redes sociais para espalhar as notícias sobre o degelo. As imagens publicadas por Huss nas redes sociais durante as viagens de recolha de dados nas últimas semanas mostraram, pela primeira vez, a formação de novos lagos junto às línguas dos glaciares, correntes de água derretida que atravessam cavernas de gelo e rochas nuas que sobressaem do gelo fino. Nalguns locais, corpos perdidos há muito tempo foram recuperados à medida que as camadas de gelo diminuíram.

Em resposta a algumas das críticas no seu post na rede social X, Ducan Porter aproveita para apresentar este seus novos e curiosos seguidores ao cientista Matthias Huss, para, desta forma, terem acesso aos dados que explicam a radical diferença entre as duas populares fotografias que publicou este domingo.