Quase 300 mortos em protestos no Bangladesh desde o início de Julho
Estudantes convocaram uma marcha até Daca esta segunda-feira. Domingo foi um dos dias mais mortíferos desde o início dos protestos. Governo decretou recolher obrigatório e cortou Internet.
Estudantes que protestam em Bangladesh convocaram uma marcha até Daca esta segunda-feira, desafiando o recolher decretado, para pressionar a primeira-ministra, Sheikh Hasina, a renunciar ao cargo. Cerca de 100 pessoas morreram e centenas ficaram feridas este domingo em protestos antigovernamentais no país. Desde o início de Julho, registaram-se pelo menos 283 mortes.
Veículos blindados e tropas patrulham as ruas da capital, segundo a Reuters TV. Esta manhã viam-se poucas pessoas nas ruas, havia apenas algumas motos e táxis.
Pelo menos 91 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas este domingo, numa onda de violência que se estendeu por todo o país, que tem cerca de 170 milhões de habitantes. A polícia disparou gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar dezenas de milhares de manifestantes. A partir da noite de domingo, foi imposto um recolher obrigatório em todo o país a partir das 18h.
Também este domingo, o Governo anunciou feriados de segunda a quarta-feira. Os tribunais foram encerrados por tempo indeterminado. O serviço de Internet móvel foi cortado e a rede social Facebook e as aplicações de mensagens, incluindo o WhatsApp, ficaram inacessíveis.
Os manifestantes exigem a demissão de Sheikh Hasina, na sequência dos protestos do mês passado, que começaram com estudantes que exigiam o fim do sistema de quotas para os empregos públicos.
O número de mortos registados nos protestos e confrontos de domingo, entre os opositores da primeira-ministra, a polícia e os apoiantes do partido no poder tornam este dia um dos mais mortíferos desde o início dos protestos antigovernamentais no país, e eleva o total de mortos para pelo menos 283 desde o início dos protestos em Julho.
"O Governo matou muitos estudantes. Chegou a hora da resposta final", disse o coordenador do protesto, Asif Mahmud, numa publicação no Facebook na noite de domingo. "Todos virão para Daca, especialmente dos distritos vizinhos. Venham para Daca e tomem uma posição nas ruas."
Outro líder estudantil, M. Zubair, disse à Reuters TV: "Ninguém nos pode impedir de marchar hoje. Se os enfrentarmos uma vez, vamos libertar o Bangladesh. E quero dizer aos irmãos das Forças Armadas que não se alinhem com a autocrata. Estejam com o povo ou fiquem neutros."
Hasina afirmou que os manifestantes que se dedicavam à "sabotagem" e à destruição já não eram estudantes, mas criminosos, e disse que o povo devia lidar com eles com mão de ferro.
Pelo menos 11 mil pessoas foram detidas nas últimas semanas, com a agitação civil a provocar o encerramento de escolas e universidades em todo o país.
Os protestos tinham sido interrompidos após o Supremo Tribunal eliminar a maioria das quotas que tinham desencadeado as manifestações, mas os estudantes voltaram a sair à rua para exigir justiça para as famílias de quem morreu nos primeiros protestos e para pedir a demissão de Hasina.
Serviços parados em todo o país
Durante o fim-de-semana houve protestos em 39 dos 64 distritos do país. A empresa Bangladesh Railways suspendeu todos os serviços por tempo indeterminado devido à escalada de violência. As fábricas de vestuário do país, que fornecem roupas para algumas das principais marcas do mundo, também fecharam por tempo indeterminado.
Um grupo de oficiais militares aposentados pediu à primeira-ministra do Bangladesh que retire os militares das ruas e tome "iniciativas políticas" para resolver a crise. Os críticos de Hasina, juntamente com grupos de direitos humanos, acusaram o seu Governo de usar força excessiva contra os manifestantes, uma acusação que ela e os seus ministros negam.
Os sites dos principais jornais do Bangladesh e as suas redes sociais pararam de ser actualizados e os canais de YouTube dos meios de comunicação social deixaram de ser transmitidos na manhã desta segunda-feira.
O partido no poder, a Liga Awami, afirmou que a exigência de demissão de Hasina mostrava que os protestos tinham sido assumidos pelo Partido Nacionalista do Bangladesh, principal partido da oposição, e pelo partido Jamaat-e-Islami, agora proibido.
Tarique Rahman, o presidente interino exilado do Partido Nacionalista de Bangladesh, da oposição, disse que os protestos eram agora uma "luta sangrenta entre a autocracia e a democracia". "Enquanto o regime continua a intensificar a sua repressão [...] a nação implora à comunidade internacional [...] que defenda a verdade e a justiça e aja a partir de suas respectivas posições", escreveu Rahman no X.