Metade dos batalhões do Hamas “reconstruiu parte das suas capacidades de combate”
“Se os batalhões do Hamas tivessem sido em grande parte destruídos”, como assegura Netanyahu, “as forças israelitas não estariam ainda a combater”, diz Peter Mansoor, coronel dos EUA na reforma.
A poucos dias de partir para Washington, Benjamin Netanyahu garantia que “a fase intensa da luta contra o Hamas” estava “a terminar”. No mesmo dia, as Forças de Defesa de Israel (IDF) declaravam que a brigada do movimento na cidade de Rafah estaria “prestes a ser derrotada”. Já nos Estados Unidos, o primeiro-ministro israelita insistiu nos bons resultados militares da guerra, sublinhando que se tivesse “cedido às pressões” para pôr fim à brutal ofensiva que iniciou há mais de dez meses nunca teria sido possível alcançar o que descreve como “bons resultados”.
“A vitória está à vista”, afirmou no seu discurso no Congresso, recorda a CNN num trabalho divulgado nesta segunda-feira.
Mas não é isso que vão mostrando os sinais no terreno, com as IDF a recomeçarem os combates (e a ordenarem a retirada de centenas de milhares de civis palestinianos) em zonas que já tinham considerado controladas ou “seguras”. Segundo um estudo dos think tanks American Enterprise Institute e Institute for the Study of War, em conjunto com a CNN, “quase metade dos batalhões militares do Hamas no Norte e no centro de Gaza reconstruiu parte das suas capacidades de combate”.
Numa altura em que Israel tem celebrado a morte de vários líderes do movimento, esta investigação, que abrange as operações do Hamas até Julho, “mostra que o grupo parece ter utilizado eficazmente os recursos cada vez mais escassos no terreno” e que “várias unidades regressaram a zonas-chave que foram ‘limpas’ pelos militares israelitas após batalhas campais e bombardeamentos intensivos, recuperando o que restava dos seus batalhões numa tentativa desesperada de reconstituir as suas fileiras”.
Na última quarta-feira, durante as cerimónias fúnebres do máximo líder político do Hamas, Ismail Haniyeh (assassinado num ataque em Teerão), as IDF confirmavam a morte do comandante da ala militar do Hamas na Faixa de Gaza, Mohammed Deif, num ataque em Junho.
O estudo baseia-se em análises forenses das actividades militares do Hamas, a partir de imagens do campo de batalha, entrevistas com peritos e testemunhas, e das declarações militares tanto do Hamas como de Israel.
“Os israelitas diriam que limparam um local, mas não limparam totalmente estas áreas, não derrotaram de todo estes combatentes”, disse Brian Carter, responsável do Médio Oriente pelo Projecto de Ameaças Críticas do American Enterprise Institute, que dirigiu a investigação. O Hamas “está pronto para lutar e quer lutar” afirmou, citado pela CNN.
Nas contas destes investigadores, oito batalhões do Hamas são actualmente “ficazes em combate” e os restantes 13 estão “degradados”: os do Norte são os que se estão a reconstruir mais rapidamente e os do centro os menos atingidos. Em Abril, precisamente quando redireccionavam os seus esforços para as cidades de Khan Younis e Rafah, no Sul, as autoridades israelitas afirmavam que 18 dos 24 batalhões originais do Hamas tinham sido desmantelados.
Olhando para zonas como o campo de refugiados de Jabalya, perto da Cidade de Gaza, e para o bairro de Zeitoun, na maior cidade do enclave, o estudo dá várias provas de ressurgimento – em Jabalya, por exemplo, as próprias IDF admitiram em Maio estarem a encontrar uma resistência “feroz” de três batalhões do Hamas, isto depois de “quase três meses de bombardeamentos”, no Outono.
“Se os batalhões do Hamas tivessem sido em grande parte destruídos, as forças israelitas não estariam ainda a combater”, disse à televisão norte-americana Peter Mansoor, coronel reformado do Exército americano que participou na supervisão do que ficou conhecido como “surge”, quando os Estados Unidos enviaram mais 30 mil soldados para o Iraque, em 2007, conseguindo, assim, travar a insurreição mortífera que operava então na região de Bagdad e na província árabe sunita de Anbar.
O facto de as IDF continuarem em Gaza, “a tentar expulsar elementos dos batalhões do Hamas, mostra-me que o primeiro-ministro Netanyahu está enganado”, acrescentou Mansoor. “A capacidade do Hamas para reconstituir as suas forças de combate não diminuiu.”