Yellow, a nova série “no bullshit” vinda do México — que sim, é para si

Portugal verá primeiro, com a estreia mundial no TVCine Edition esta terça-feira, esta produção fresca, divertida e dramática. Crime, amor, episódios curtos. É deixar-se ir com Sofía Auza.

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Lizeth Selene numa cena de Yellow Vicente Pouso/The Immigrant
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Martín Saracho numa cena de Yellow Vicente Pouso/The Immigrant
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Tessa Ía e Lizeth Selene numa cena de Yellow Vicente Pouso/The Immigrant
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Uma estreia mundial em Portugal, de uma série mexicana tão especial quanto divertida, visualmente cativante, cheia de coração e ao mesmo tempo despreocupada, é de assinalar. É isto que traz aqui Yellow, que o canal TVCine Edition estreia na próxima terça-feira às 22h10. Criação da jovem autora Sofía Auza, é uma road trip jovem, criminosa, um produto da geração Z para todas as gerações com fome de objectos culturais de consumo rápido mas de libertação indie prolongada.

Sofía Auza já passou a barreira dos 30 anos, mas por uma nesga, e a sua curta-metragem, que depois se tornou longa-metragem, Adolfo (é o nome de um cacto, claro), recebeu o Urso de Cristal no Festival de Berlim em 2023. Na janela do Zoom é um sorriso jovial constante, acompanhada noutra janela pela produtora Camilla Jiménez Villa, da The Immigrant. Estão felizes com esta série que, pergunta o PÚBLICO, apesar dos seus económicos 15 a 20 minutos por episódio, tem uma largueza de horizontes que, juntando tudo, comporia uma média-metragem.

“A ideia era que talvez pudesse funcionar das duas formas, como se fosse um programa de televisão, mas também com uma estrutura muito cinemática. Sim, podia juntar os episódios, mas queria mesmo fazer uma série na linha de The End of the Fucking World [Netflix] e afins, em que identifico essa estrutura.”

Yellow é a história de duas raparigas, ou de um rapaz que se cruza na árida paisagem raiana mexicana, num momento crítico da sua vida, com essas duas raparigas. Que são do mais raparigas de hoje que se pode encontrar: seguras, engraçadas, não levam as coisas demasiado a sério e falam de forma encantatória, têm os seus problemas e… lidam. A atravessar a dura realidade está ainda uma força policial e uma investigadora de nome “rojo” (vermelho) que persegue a dupla que se torna trio.

Podíamos explicar mais, mas digamos que elas roubam e que ele não está emocionalmente bem, e que há uma road trip e, portanto, um aroma a road movie nesta história de amizade e amor. Elas são Dan (Tessa Ía, de Narcos) e Nico (Lizeth Selene), os motores de tudo, ele é Richie (Martín Saracho), aparentemente impotente perante a vitalidade das duas amigas. O casting é certeiro.

Sofía Auza, realizadora, argumentista e co-showrunner da série com Silvana Aguirre, ajuda a explicar uma das características distintivas de Yellow: pelo meio dessa história há quadros (ou inserts, em linguagem técnica) estilizados em modo paisagem onírica sardónica, de cores bem fortes. “É como se Dan e Nico estivessem sempre a mentir e a inventar coisas, e finalmente dissessem a verdade nesses quadros, mas de uma forma que também é fantasiosa. É como quando o som e a imagem às vezes estão dessincronizados”, sorri. “Para não ter verdadeiros flashbacks, são como uma janela para as suas mentiras e a forma como vêem as coisas.” O mesmo é válido para o drama combustível de Richie.

A série é uma comédia, mas “um tipo estranho ou não típico de comédia” em que há situações de crise, mas também banhos de mar, música e beleza. O tom é precisamente o de um humor subtil, leve e jovem, muito geracional (na história que conta e na mente dos contadores de histórias mais jovens que as oferecem hoje). Uma forma de contar histórias “no bullshit”, sem tretas, expressão que faz sorrir as entrevistadas, em que não interessa mesmo saber os motivos para certos actos mais ou menos centrais do enredo. É deixar-se ir.

Para que pessoas como Sofía Auza possam trabalhar, são precisas pessoas como Camilla Jiménez Villa e a sua produtora The Immigrant. “Este não é o tom habitual para um programa de televisão mexicano”, reconhece Villa, cuja produtora se foca mais no cinema. “Conhecemos a Sofia através do nosso programa para argumentistas e daí saiu Adolfo. Apaixonámo-nos por ela e pelo seu tom.”

Mas as séries premium são irresistíveis, o streaming é uma porta escancarada e aqui está Yellow. The Immigrant nasceu em 2019 com o objectivo de reflectir o mundo na sua diversidade, nomeadamente no que toca à imigração e à identidade. Narcos:México ou Señorita 89, para citar exemplos recentes, são muito mais séries típicas mexicanas do que Yellow, mas com ela fazem parte da constelação cada vez mais visível a olho nu de histórias que não nos chegam a partir de Hollywood.

Ainda assim, The Immigrant tem o apoio da Fremantle e Yellow vai circular pelo mundo na Lionsgate+. Portugal vê primeiro, terça no TVCine Edition, e a partir de quarta on demand no TVCine+. Yellow é a cor do carro em que o trio viaja, e surge em inglês porque Auza morava no Canadá quando escreveu a série, e é também “a cor do sol e da esperança". Mas não só: "Descobri que também é [calão para] ‘cobarde’ em inglês, coisas que parecem contraditórias, mas que também encaixam muito bem no tema da série”, remata a autora.

Notícia corrigida: a série passa no TV Cine Edition e não no TV Cine Emotion, como inicialmente indicado

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