De 2000 a 2023: veja como o Verão aqueceu em Portugal e no seu concelho

As temperaturas registadas em todo o país durante os meses de Verão têm estado a aumentar. Nos anos de 2020 e 2022, registaram-se temperaturas máximas que quase atingiram os 40 graus Celsius.

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Os dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo IPMA mostram uma tendência gradual de aquecimento nos meses de Junho a Setembro Nuno Alexandre
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O Verão em Portugal está a ficar cada vez mais quente, indicam as temperaturas médias registadas pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) nos concelhos de Portugal continental desde 2000. Entre 2009 e 2023, só em dois anos é que as temperaturas ficaram abaixo dos 35 graus Celsius nos meses de Verão.

Os dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo IPMA mostram uma tendência gradual de aquecimento nos meses de Junho a Setembro. Na última década, em cinco anos foram registadas temperaturas médias acima dos 36 graus Celsius, sendo que 2022 foi um dos mais quentes do milénio, com concelhos a registarem uma temperatura média de quase 39 graus Celsius em Julho.

Se olharmos apenas para os valores mais extremos, a tendência é clara. Tomemos o caso do concelho de Alijó, Vila Real. No mês de Agosto de 2000, a temperatura média deste concelho era de 29ºC. Desde então, o concelho bateu o máximo de temperatura anteriormente registado por oito vezes: em 2021, 2003, 2005, 2010, 2013, 2016, 2018 e em 2022 – neste último, a temperatura do mês de Agosto rondou os 36ºC.

Apesar de este concelho ter sido aquele que mais vezes viu o seu recorde do milénio ser batido, é no Alentejo que as temperaturas mais altas continuam a registar-se. Destacam-se Mourão, Barrancos e Reguengos de Monsaraz, que registam temperaturas médias que são quase o dobro do que se verifica nos outros concelhos.

Mourão é onde o fenómeno do calor mais se sente. Em sensivelmente 20 anos, Mourão viu a sua temperatura média aumentar de forma drástica. Em Setembro de 2002, o município registou uma temperatura média de 29 graus Celsius, a mais baixa de sempre desde o começo do milénio. Em contraste, 20 anos depois, em Julho, o concelho registou 38ºC, a maior temperatura média nos últimos 20 anos.

Ainda que 2023 tenha sido o ano mais quente desde que há registo, foi em 2022 que todos os distritos, à excepção de Faro e de Viana do Castelo, registaram a temperatura mais alta de sempre desde a viragem do milénio. De todos os distritos que tiveram a sua temperatura máxima registada em 2022 (dado que diz respeito à média da temperatura máxima no concelho em cada mês), apenas três não ultrapassaram os 35 graus, sendo que Vila Real, Viseu, Portalegre, Santarém, Évora e Beja registaram valores muito próximos dos 40ºC.

A epidemia do calor extremo

O aumento da temperatura em Portugal faz parte de uma tendência global, mas em 2023 Portugal foi poupado a algumas das mais graves ondas de calor que assolaram a Europa. Em 2024, os termómetros continuam a seguir a assustadora tendência global de aumento de temperatura. Junho de 2024 foi o 13.º mês consecutivo de temperaturas globais que batem recordes, e o 12.º seguido em que a temperatura média esteve mais do que 1,5 graus acima dos valores pré-industriais”. Mais concretamente, a temperatura média esteve 1,65 graus acima da que se estimava vigorar antes da Revolução Industrial

Na semana passada, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou aos países para que abordem a epidemia de calor extremo. O pedido foi feito pouco depois de os cientistas terem a anunciado o recorde do dia mais quente alguma vez registado na Terra a 22 de Julho, de acordo com dados preliminares do Copérnico, programa de monitorização do clima da União Europeia.

O número anual de pessoas que morrem devido ao excesso de calor no contexto laboral é de 18.970 indivíduos, de acordo com um relatório da Organização Internacional de Trabalho (OIT) divulgado recentemente. O documento sublinha que “devem ser aplicadas medidas preventivas contra o stress térmico com carácter de urgência”, lê-se no sumário executivo do relatório da organização pertencente à Organização das Nações Unidas.

A grande maioria dos trabalhadores expostos ao excesso de calor vive em África, na península Arábica e na Ásia e Pacífico (nas contagens do relatório, o continente asiático está dividido ao meio, a Ásia Central junta-se à Europa, e a região do Irão às Coreias junta-se à Oceânia). No entanto, entre 2000 e 2020, foi na região Europa e Ásia Central que mais aumentou a percentagem de trabalhadores expostos ao excesso de calor – 17,3%.

O relatório Lancet Countdown, publicação dedicada à saúde humana e à crise climática, calcula que em 2023 o número de mortes relacionadas com o calor extremo possa mais do que quadruplicar até meados deste século.

Excepções à regra

A tendência de subida de temperatura não é, no entanto, geral: é o caso de Melgaço, Peniche e Gouveia, que atingiram temperaturas médias iguais ou abaixo dos 20 graus Celsius nos meses de Verão a partir de 2018 – algo que tinha ocorrido apenas em 2009 e 2003, no concelho de Manteigas.

Peniche é, entre os concelhos analisados, aquele que não só contraria a tendência como se mostra aquele em que a temperatura mínima não acompanha a subida generalizada. O concelho no distrito de Leiria registou 52 vezes a temperatura média mensal mais baixa no país nos meses de Verão – quase o triplo das vezes quando comparado com o segundo da lista, Cascais.

Ainda assim, a temperatura média mais baixa registada nos meses de Verão desde o ano 2000 não foi nem em Peniche, nem em Cascais, mas em Manteigas, Guarda, em Setembro de 2022: com o registo de uma mínima de 18,3 graus Celsius. Nesse mesmo mês, o município com a temperatura média mensal mais baixa também foi na região da serra da Estrela, com Gouveia a registar 20,6ºC.

Sem surpresas, as temperaturas mais baixas nos concelhos foram registadas em Junho e Setembro, sendo que nenhuma temperatura média em Junho ultrapassou os 24 graus nos concelhos.