Gabriel, um “gajo” que diz que o quinto lugar sabe a pouco

O quinto classificado dos trampolins fala de forma crua, descomplexada e despreocupada – a forma como compete. Como ele diz, é um “gajo” que, por vezes, se sente “à rasca”. E queria mais em Paris.

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Gabriel Albuquerque em acção em Paris JOS?? SENA GOUL??O / LUSA
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Aos 18 anos, Gabriel Albuquerque tem os traços e o discurso de quem ainda não tem vícios. Não cede a subterfúgios comunicacionais ou a frases ocas que o protejam de manchetes. Fala de forma crua, descomplexada e despreocupada – no fundo, a forma como compete. Como o próprio diz, é um “gajo” que, por vezes, se sente “à rasca” e que, se não fossem os trampolins, estaria a trabalhar numa cadeia de fast food ou a escrever músicas rap, "daquele underground e agressivo".

E é por isso que, aos 18 anos, não tem pudor em dizer, em Paris, depois do quinto lugar na ginástica de trampolins, que um diploma olímpico foi coisa pouca, mesmo sendo a estreia em Jogos. “Sei que sou ainda melhor do que isto. O quinto lugar soube-me a pouco, mas sinto-me meio satisfeito. Não quero parecer convencido, mas sei que estou ao nível daqueles gajos. Eles hoje foram melhores do que eu. Mas é bom saber que agarro um recorde na minha primeira presença olímpica”, apontou, referindo-se ao registo melhor do que o sexto lugar de Nuno Merino em Atenas 2004.

Quanto à nota altíssima do medalhado de ouro, o português foi humilde, mas confiante. "Ele está muito consistente nestas notas altas. Por agora, eu se calhar não conseguiria superar a nota dele, mas daqui a uns aninhos. Um gajo vai continuando a trabalhar e ninguém sabe o que acontecerá nos próximos".

Sobre a ansiedade patente nos momentos antes do exercício, assumiu-se também a cru, sem problema de exibir fragilidade. “Às vezes, um gajo deixa-se levar e é difícil fazer a série bem executada. Mas consegui lidar bem com as minhas emoções. Sou muito irrequieto e não consigo estar parado. Estava nervoso, era a minha primeira final olímpica. Tinha de andar ali para a frente e para trás”.

Questionado sobre o que aprendeu nestes Jogos, foi claro: a desfrutar. “Aprendi a desfrutar, que é o mais importante. Andei aí numas fases em que não estava a gostar dos momentos que passava no trampolim. E não poderia ter desfrutado mais destes Jogos”.

Sobre o que correu menos bem, e que lhe vedou o caminho para a medalha, o português apontou um pequeno problema a meio da série, que o levou a conter o risco. “Era suposto fazer uma série mais complicada, mas senti-me à rasca no quarto salto. Aí é que ia fazer uma coisa mais difícil e ir atrás da medalha. Não consegui e tive de agarrar-me à série mais simples. Nesses milésimos de segundo em que estive no ar tive de decidir assim”.

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