Gabriel Albuquerque, que sentia poder ir à medalha, leva um diploma para Portugal
O ginasta deu mais um diploma a Portugal nos Jogos e é, depois de Patrícia Sampaio, mais um atleta em destaque por entre os pingos da chuva, não tendo o renome de outros no desporto nacional.
Depois de Patrícia Sampaio, Portugal voltou a ter um português em destaque nos Jogos Olímpicos, mesmo que sem medalha. Horas depois do show de Simone Biles e Rebeca Andrade, embaladas por Nadia Comaneci, a Arena Bercy, em Paris, ainda tinha vestígios de genialidade – Gabriel Albuquerque, português, foi recolher alguns deles, juntou-os aos seus, que não são poucos, e usou-os em proveito pessoal e nacional: ainda “cheirou” a medalha e leva de França um quinto lugar no trampolim que nunca tinha sido alcançado.
A prova foi conquistada por Ivan Litvinovich (63,090), a competir como atleta neutro, a prata para Zisai Wang, da China (61,800), e o bronze para Langyu Yan, também chinês (60,950). Gabriel Albuquerque (59, 750) talvez não tivesse nível para a nota que valeu o ouro a Litvinovich – o próprio ginasta português assumiu isso em Paris –, mas as notas da prata e bronze estavam ao alcance, motivo pelo qual diz que o quinto lugar lhe soube a pouco.
Antes dos Jogos Olímpicos, falou-se bastante de Pedro Pablo Pichardo, de Fernando Pimenta e de Jorge Fonseca. Mesmo que um pouco menos, falou-se também de Iúri Leitão, Gustavo Ribeiro e Angélica André. Até de Agate de Sousa, Messias Baptista, João Ribeiro, Catarina Costa e Diogo Ribeiro se falou. Todos estes tinham em comum, mesmo que uns mais do que outros, a perspectiva de um resultado de destaque nos Jogos Olímpicos. Faltaram dois: Patrícia Sampaio e Gabriel Albuquerque. Uma deu medalha, o outro andou lá perto.
Não estamos a falar de dois desconhecidos “caídos do céu”. No caso de Gabriel, é evidente que um quarto classificado no Mundial de trampolim, em 2023, já tinha sido mencionado em redacções de jornal que planeiam os Jogos. Mas não estava, assumamos frontalmente, na primeira linha de favoritos. E isto serve tanto para redacções como para um país de futeboladas e futeboleiros.
Nesta sexta-feira, o ginasta português tratou da saúde aos adversários, mas também aos portugueses: caros compatriotas, ele é homem para medalhas – não foi em Paris, mas Los Angeles vem aí.
Desafiado a dizer o que gosta mais e menos na ginástica, apontou que adora a liberdade aérea e que não gosta da falta de visibilidade. Talvez isso mude agora para a ginástica – patrocínio de Gabriel Albuquerque.
Melhor de sempre
Com 18 anos feitos em Abril, o ginasta de Almada, a treinar há alguns anos no Algarve, superou o sexto lugar de Nuno Merino em Atenas 2004.
Gabriel Albuquerque foi embalado pelo muito apoio na Arena Bercy – apenas o atleta francês teve mais apoio. Mas embalou-se a si próprio também.
Ele que escreve músicas nos tempos livres cumpriu o hobby à risca e foi o único dos finalistas que levou música nos ouvidos até não poder mais – foi até ao trampolim, no aquecimento, com o som a ajudar na descontracção. E pareceu livre, leve e solto, depois do seu rap agressivo. "Estava a ouvir aquele rap underground. Daquele mesmo agressivo”, confidenciou, após a prova, prometendo, ainda que a brincar, que vai fazer um álbum com as músicas que ele próprio vai escrevendo nas viagens de autocarro para treinos e provas.
Nos trampolins, o preceito é relativamente simples: o atleta faz o seu exercício, no qual são avaliados a execução, o tempo no ar, o desvio em relação ao centro, entre outros detalhes técnicos como a recepção e a correcção postural – tudo isto suportado por uma premissa-base: o nível de dificuldade da rotina escolhida pelo atleta.
E Gabriel apostou, na qualificação, num equilíbrio entre risco e segurança – não foi dos que arriscaram mais na dificuldade, mas também não se “cortou”. Foi o sétimo com exercício mais difícil à partida e fê-lo bem feito.
Os dez saltos previstos no exercício foram “certinhos”, sem grandes desvios do centro – apenas uma correcção a meio da rotina –, e os sorrisos do treinador, no final da prova, mostravam a satisfação com o desempenho. Final garantida e acabou por cair na segunda rotina – que já não contava “para o totobola”.
Na final, apresentou um exercício de alto nível de dificuldade e ganhou alguma margem para pequenas falhas – que existiram. A pontuação foi praticamente a mesma feita na qualificação e não chegou para o pódio, por conta de um pequeno desvio a meio do exercício. O próprio atleta explicou, depois, que nesse momento teve de ajustar o nível de dificuldade da rotina, que poderia ter sido ainda maior.
"Era suposto fazer uma série mais complicada, mas senti-me à rasca no quarto salto. Aí é que ia fazer uma coisa mais difícil e ir atrás da medalha. Não consegui e tive de agarrar-me à série mais simples. Nesses milésimos de segundo em que estive no ar tive de decidir assim”, explicou.
Gabriel teve um pequeno lapso, mas, com 18 anos, em Los Angeles está tudo à mercê do português.