Tesla que matou motociclista nos EUA estava no modo autónomo mais avançado

Este é o segundo acidente fatal que envolve a tecnologia na qual o CEO da Tesla, Elon Musk, está a depositar todas as esperanças. Polícia diz que o caso continua em investigação.

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Especialistas dizem que há limitações na tecnologia da Tesla, que depende de câmaras e inteligência artificial para operar, não incluindo sensores nem radares REUTERS/MIKE BLAKE
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Um Tesla Model S tinha accionado o sistema Full Self Driving (FSD), quando atingiu e matou um motociclista de 28 anos na região de Seattle, em Abril. O FSD, diz a marca, admite uma experiência de condução totalmente autónoma, ainda que sob supervisão humana. Este é o segundo acidente fatal que envolve a tecnologia na qual o CEO da Tesla, Elon Musk, está a depositar todas as suas esperanças.

O homem que conduzia o automóvel foi detido e acusado de homicídio, uma vez que admitiu a distracção, dizendo que estava a olhar para o telemóvel enquanto usava a modalidade avançada de assistência à condução, informou a polícia num comunicado. A Tesla recusa qualquer responsabilidade no acidente, apontando que o software exige a supervisão activa do condutor e que não torna os veículos autónomos.

A Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário norte-americana (NHTSA, na sigla original) já tinha avançado ter o registo de um acidente fatal que envolveu um veículo Tesla que possuía este software entre Agosto de 2022 e Agosto de 2023. A NHTSA disse que "está ciente do acidente e que está a recolher informações das autoridades policiais locais e da Tesla".

A polícia disse que o caso continua sob investigação, mas especialistas ouvidos pela Reuters dizem que há limitações na tecnologia da Tesla, que depende de câmaras e inteligência artificial para operar. Os rivais da Tesla, como a Waymo, da Alphabet, além das câmaras, também usam sensores para detectar o ambiente em redor do automóvel.

"Há muitas coisas que podem correr mal" com o sistema da Tesla, que utiliza apenas câmaras, observou Sam Abuelsamid, analista da Guidehouse Insights. O sistema pode, por exemplo, medir de forma imprecisa a distância a que um objecto está do veículo. "É extremamente desafiante recolher e organizar dados de todos os tipos de elementos do mundo real, como motociclos e bicicletas, numa ampla gama de condições possíveis de meteorologia, estradas e tráfego", disse Raj Rajkumar, professor de engenharia electrónica e de computação da universidade norte-americana Carnegie Mellon.

Este ano, Musk arquivou os projectos dos novos modelos económicos da Tesla e aumentou a aposta nos veículos autónomos, dizendo que ficará chocado se a Tesla não conseguir atingir a capacidade total de condução autónoma no próximo ano.

Numa entrevista ao clube Tesla Owners of Silicon Valley, no último fim-de-semana, o CEO disse que o veículo do futuro será como um "pequeno lounge móvel" onde os condutores poderão assistir a filmes, jogar, trabalhar e até mesmo beber ou dormir. Musk tem como objectivo alcançar a capacidade de condução autónoma há vários anos, com a tecnologia sob crescente escrutínio legal por parte das autoridades dos EUA.

A NHTSA abriu uma investigação a esta tecnologia em 2021 após identificar mais de uma dúzia de acidentes nos quais modelos da Tesla atingiram veículos de emergência que estavam estacionados e analisou centenas de acidentes que envolveram o Autopilot, o sistema de condução semiautónoma da marca, disponibilizado de série em todos os modelos do emblema, que combina o cruise control adaptativo, capaz de regular a velocidade do veículo à do trânsito circundante, e a direcção automática, que mantém o automóvel dentro das linhas de uma faixa de rodagem, desde que aquelas sejam visíveis.

A Tesla disponibiliza ainda, entre os opcionais e dependendo do mercado, o Autopilot Aperfeiçoado, com mudança automática de faixa em auto-estrada, estacionamento automático e remoto. Por fim, o FSD ou capacidade de condução autónoma total conjuga as funcionalidades do Autopilot básico e do Autopilot Aperfeiçoado, juntando a identificação de sinais de stop e de semáforos, abrandando o veículo até parar numa aproximação.

Apesar de ter escolhido usar os termos Autopilot e Full Self Driving, ambos a remeterem para a ideia de que os seus veículos beneficiam de sistemas de condução autónoma, nenhum dispensa a presença e intervenção humana. Por isso, a Tesla ressalva, no manual de instruções dos seus modelos, que, "enquanto utiliza o Autopilot, é da responsabilidade [do condutor] manter-se alerta, manter as mãos no volante em todos os momentos e manter o controlo do seu veículo", reforçando que "antes de activar o Autopilot, o condutor tem de concordar em "manter sempre as mãos no volante" e em "manter sempre o controlo e a responsabilidade pelo seu veículo".