Supervisão actual “curva-se menos a sensações de poder que possam existir”, diz CEO do BPI

João Pedro Oliveira e Costa refere que os actuais líderes do sector “são menos banqueiros e mais bancários, e isso é bom”.

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Queda do BES continua a marcar imagem da banca, admite João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI TIAGO PETINGA / LUSA
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O actual sistema regulatório de supervisão “é muito robusto”, e “curva-se menos às sensações de poder que possam existir”, defendeu esta quarta-feira o presidente executivo (CEO) do BPI, a propósito da queda do Banco Espírito Santo (BES), ocorrida há dez anos.

João Pedro Oliveira Costa também afirmou que os actuais líderes do sector “são menos banqueiros e mais bancários, e isso é importante”, numa alusão directa à gestão familiar do BES, cuja resolução pelo Banco de Portugal aconteceu a 3 de Agosto de 2014.

O CEO do BPI falava no final da conferência de imprensa de apresentação de resultados semestrais da instituição, marcados por uma subida de 28% nos lucros, para 327 milhões de euros.

Admitindo que a queda da instituição teve um grande impacto na credibilidade do sector, o responsável também destacou que representou “uma grande lição para todos”.

Ainda relativamente à queda do banco, e à supervisão nessa época, o gestor referiu que “até agora não foi devidamente clarificado o que poderia ter sido feito”. E lamentou a falta de memória, nomeadamente “daqueles que têm conhecimento e depois dizem que não têm memória”. Sem referir nomes, João Oliveira e Costa disse ainda que “a falta de memória “tem a ver com o carácter das pessoas”, e que “o problema de memória” verifica-se “na área económica e na área política”, e que “não foi só nesse caso e não foi só nesse banco”.

O presidente do BPI sublinhou ainda que actualmente o sector financeiro “está muitíssimo mais bem preparado” do que há dez anos, acrescentando que “há uma nova geração que está na banca que pensa diferente. É mais profissional.”

Garantia pública sem data de arranque

Relativamente à garantia pública para permitir a compra de primeira habitação através do acesso a 100% do financiamento bancário, destinada a jovens até aos 35 anos, medida criada pelo Governo e prometida para 1 de Agosto, o presidente do BPI disse desconhecer quando arrancará, admitindo, contudo, que terá um impacto reduzido, tendo em conta o preço das casas e as regras da Medida Macroprudencial para o Crédito.

“Penso que a ideia é positiva, o problema é que, como não há casas, e os preços são elevados, penso que a medida terá um efeito relativamente reduzido”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa, acrescentando que “é preciso não esquecer que as pessoas vão pagar 100% do crédito” e, por isso, terá de se ter em conta as regras relativas à taxa de esforço, ou seja, ao peso dos encargos com o crédito no rendimento de quem pede.

“Nós iremos emprestar a quem cumprir os níveis da taxa de esforço para que o regulador e toda a gente têm chamado a atenção”, no sentido de se evitar “o sobreendividamento” das pessoas.

Esta medida ainda está a ser discutida com o Banco de Portugal, que já mostrou reservas relativamente à sua aplicação, e também com o sector bancário.

BPI tranquilo sobre cartel na banca

O presidente do BPI diz manter “total convicção” de que a instituição a que preside teve uma actuação “correcta”, contrariando assim a acusação da Autoridade da Concorrência, e o entendimento do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), que esta semana admitiu que os principais bancos portugueses possam ter falseado a concorrência por terem partilhado informações por email e por telefone, durante mais de dez anos, sobre as taxas spreads (margem de lucro) que iriam praticar e sobre os volumes de crédito já concedidos.
Questionado sobre a matéria, João Pedro Oliveira e Costa começou por manifestar alguma irritação pela designação dada ao caso. “Cartel? Esse nome faz lembrar filmes americanos, não é para a banca, é para outras coisas”, afirmou.

O gestor escusou-se a entrar em detalhes sobre o processo movido pela AdC, referindo que o banco aceitará o que “a justiça venha a decidir".

Esclareceu, no entanto, que o BPI não constituiu qualquer provisão específica para a multa aplicada pela AdC, por considerar que “as probabilidades de o processo vir a terminar sem o banco ter de pagar esta coima são mais elevadas do que as de suceder o inverso”.

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