Eugénio de Andrade foi “paciente”, e a Feira do Livro do Porto vai homenageá-lo

O poeta de Os Amantes sem Dinheiro terá uma tília com o seu nome, e uma atenção especial, no Palácio de Cristal, que acolhe a feira de 23 de Agosto a 8 de Setembro.

Foto
Eugénio de Andrade, Prémio Camões em 2001, aqui fotografado em Vila Nova de Gaia, em 1990 Jose Rocha/arquivo
Ouça este artigo
00:00
04:38

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

À 11.ª edição no seu formato renovado, a Feira do Livro do Porto “amadureceu” e vai finalmente homenagear Eugénio de Andrade (1923-2005), “o poeta da luz”, com um programa diversificado e inclusivo, que vai decorrer entre 23 de Agosto e 8 de Setembro nos jardins do Palácio de Cristal.

Na apresentação do evento, realizada na manhã nevoenta desta quarta-feira na Avenida da Tílias do parque portuense, o presidente da autarquia, Rui Moreira, justificou o “atraso” na homenagem ao poeta de As Mãos e os Frutos recorrendo a um “conselho” do próprio Eugénio: “Cometemos, porventura, uma injustiça ao só agora convocar a vida e a obra de Eugénio de Andrade para um justo reconhecimento”, disse. Mas, socorrendo-se de um poema do livro Os Amantes sem Dinheiro (1950), citou-o: “Sê paciente; espera/ que a palavra amadureça/ e se desprenda como um fruto/ ao passar o vento que a mereça”.

Depois de Sophia, Vasco Graça Moura, Ana Luísa Amaral e Manuel António Pina, entre outros nomes já reverenciados, a feira vai agora prestar tributo a este “outro poeta maior da língua portuguesa” – notou Rui Moreira –, cuja poesia estabeleceu uma “osmose extraordinária” com a cidade do Porto, como um dia referiu Eduardo Lourenço.

Antes do autarca, João Gesta, que desde há mais de uma década é o programador literário da feira, citou também várias vezes Eugénio, “o poeta da luz e do corpo”, e a sua relação indissolúvel com a cidade, a justificar aquilo que classificou como “uma programação lucipotente para que nunca se extinga o lume da palavra”.

Ao longo de 17 dias, a Feira do Livro do Porto contará com apresentações de livros, sessões de autógrafos, conversas, momentos de poesia e humor, filmes, concertos e inúmeras propostas para o público infanto-juvenil, numa agenda que Gesta assegurou ser “diversificada e inclusiva”. O programa incluirá o lançamento de sete novas edições literárias, entre as quais – adiantou na apresentação Paula Pinto Costa, directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto – uma colectânea de poemas de Eugénio, numa nova edição da Modo de Ler, de José da Cruz Santos, intitulada Os Meses, os Dias, Um a Um, que incluirá igualmente um texto autobiográfico e um quadro inéditos do autor.

Ainda no âmbito da homenagem ao poeta que foi Prémio Camões em 2001 – e que, na tarde de 24 de Agosto, terá o seu nome inscrito numa nova tília na avenida do Palácio de Cristal: “O Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore”, escreveu Eugénio –, o primeiro fim-de-semana da feira contará com duas conversas no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, sob o motes Arco e Flecha: temas de Eugénio hoje (dia 24) e A suprema festa da língua: Eugénio de Andrade e a poesia como tradição/tradução (dia 25).

A programação de cinema abrirá também sob o signo do autor de Rente ao Dizer com a exibição de Eugénio de Andrade, Coração Habitado, um documentário assinado por Arnaldo Saraiva (dia 24); e, a partir desse fim-de-semana, o Gabinete Gráfico da biblioteca acolhe a exposição Post Scriptum sobre a Alegria, um olhar sobre a colecção de arte do poeta (até 22 de Setembro).

Mais candidaturas do que espaço

A Feira do Livro do Porto deste ano vai acolher, em 130 stands, 115 editoras, livreiros e alfarrabistas, um número aquém das candidaturas recebidas, que excediam o espaço disponível no Palácio de Cristal, referiu Rui Moreira, assegurando, contudo, que ela se afirmará de novo como “um dos maiores certames livreiros” e simultaneamente “um dos principais festivais literários do país”.

Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Dulce Maria Cardoso, Pilar Del Río, Carlos Tê, Nuno Artur Silva, Minês Castanheira, Teresa Coutinho, Rui Couceiro, Raquel Marinho, do lado dos livros; mas também Gisela João, Capicua, António Zambujo, Frankie Chavez, Valter Lobo, Milhanas e Tiago Nacarato, do lado da música, são nomes já confirmados, estes com concertos ao final da tarde na Concha Acústica, num ciclo designado É a música, este romper do escuro – que vai contar também, junto ao Lago dos Cavalinhos, com um programa de jazz da responsabilidade da associação portuense Porta-Jazz.

Entre os novos livros e edições que verão a luz do dia na feira contam-se A Urgência da Cidade – O Porto e 100 Anos de Fernando Távora (dia 25), a encerrar o programa do centenário do arquitecto que é uma referência da Escola do Porto; Teatro Municipal do Porto 2013-2023, de Helena Teixeira da Silva; e Feira do Livro do Porto 2013-2023, de Filipa Vaz Teixeira (ambos no dia 28). Haverá ainda lugar para as “pré-apresentações exclusivas” da colecção Erros Meus – Poesia Incompleta (dia 1 de Setembro), de Nuno Artur Silva, com saída anunciada para 2025; e Um Romance com Pessoas, novo livro de José Luís Peixoto (dia 6).

Sugerir correcção
Comentar