Em 2024, já se contam dez linces mortos nas estradas de Doñana em Espanha. Em 2023 foram 13

Em 2023, 13 linces foram atropelados na zona de Doñana. Entre Janeiro e Julho de 2024 o número de exemplares mortos no mesmo local já atingiu uma dezena. Um aviso na app Waze pode ser uma solução?

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Estrada encontra-se na área natural de Doñana e é considerada a de “maior incidência de acidentes e maior mortalidade de fauna de toda a região" Ecologistas en Acción
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No passado dia 26 de Julho foi atropelado o décimo lince-ibérico (Lynx pardinus), na estrada A-483, que liga as localidades de Almonte e Matalascañas, perto do Parque Nacional de Doñana. O porta-voz da organização ambientalista espanhola Ecologistas en Acción (EA), Juan Romero, no Conselho de Participação do Espaço Natural Doñana, que denunciou o incidente, lembrou que, ao longo de 2023, houve 13 linces mortos nas estradas que atravessam o parque nacional, mas este ano já foram contabilizados dez atropelamentos. Em Portugal, durante 2023 registaram-se oito mortes de linces-ibéricos por atropelamento e em 2024 somam-se, por agora, três mortes.

A invulgar sinistralidade que ocorre na A-483 regista, além de uma dezena de linces, a morte de 11 exemplares de sete espécies diferentes: lontras, texugos, mangustos, raposas e um veado, realçam os ecologistas.

Esta estrada encontra-se na área natural de Doñana e é considerada a de “maior incidência de acidentes e a maior mortalidade de fauna de toda a região”, vincou Juan Romero, explicando que o principal problema desta estrada reside na elevada densidade de tráfego que ocorre, sobretudo, nos meses de Verão, e também pela sua passagem por uma zona de grande valor ecológico, como é o Parque Nacional de Donãna.

Para reduzir os incidentes com animais, os EA propõem que sejam corrigidos “todos os pontos negros” que colocam em causa a segurança da fauna que tem o seu habitat em Donãna. As medidas reclamadas pelos ambientalistas passam pela identificação e sinalização dos locais mais críticos da rede de estradas, pela criação de corredores ecológicos que liguem a região a outros territórios, pela manutenção constante de todas as vedações que ladeiam as rodovias e pela aplicação de medidas eficazes de controlo da velocidade. Os censos realizados à população do lince-ibérico no Parque Nacional de Donãna, no ano de 2023, contabilizaram 139 exemplares (74 machos, 25 fêmeas e 40 crias).

O relatório técnico elaborado no contexto do Grupo de Trabalho do Lince-Ibérico em Espanha e em Portugal documenta que o censo total de linces na Península Ibérica alcançou os 2021 indivíduos, com 1299 adultos ou subadultos e 722 crias nascidas em 2023, distribuídos por Espanha (1730) e Portugal (291). Deste total, 602 são machos e 611 fêmeas. A reprodução em cativeiro permitiu, entre 2011 e 2023, a libertação de 372 linces, e em apenas três anos duplicou a população ibérica. A expansão territorial do lince continuou em 2023.

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Durante o ano de 2023, foram registadas em toda a Península Ibérica um total de 189 mortes de linces-ibéricos, das quais 76,2% (144 linces) foram devido a acidentes em caminhos rurais e estradas que atravessam os seus territórios. É um dado adquirido que as principais causas de mortalidade do lince-ibérico, durante a última década, são de origem humana, assinala por seu turno o World Wide Fund for Nature (WWF).

Avisos para linces no Waze?

Em Portugal, os atropelamentos mataram oito linces em 2023. Em 2024 registou-se a morte de três linces por atropelamento, um na Nacional 2 e dois na Nacional 122, avançou o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) ao PÚBLICO. O ICNF assinala que estão à solta, em Portugal, mais de 200 indivíduos, todos acompanhados à distância graças às coleiras com tecnologia de rede LoRa (radiofrequência de longo alcance, mas com um consumo relativamente baixo de energia).

Alertar os motoristas para que usem a aplicação Waze para localizarem a proximidade de linces-ibéricos é uma das funcionalidades previstas neste dispositivo, que está a ser testada desde o passado mês de Março pelo ICNF e a Infra-Estruturas de Portugal. Os atropelamentos constituem a principal causa de mortalidade não natural desta espécie de felinos selvagens. O objectivo é que, após tamanho esforço para a recuperação da espécie, mais nenhum Lynx pardinus perca a vida por atravessar uma estrada.

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“Se não fizermos nada, a nossa alegria por ter retirado o lince-ibérico da categoria de perigo poderá levar-nos de volta ao mesmo ponto de partida.” A espécie, que em Junho de 2024 passou da categoria de “Em perigo de extinção” a “Vulnerável” na Lista Vermelha elaborada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), “corre o risco de ser novamente considerada em perigo de extinção, se a situação actual não mudar drasticamente”, adverte Juan Romero.

A par da mortalidade por acção do homem, outro pesadelo continua a deixar apreensivos os investigadores envolvidos na recuperação do lince-ibérico: a baixa diversidade genética da espécie, apesar do seu crescimento exponencial, uma vez que “está a crescer a um ritmo de 20% ao ano”, adiantou ao PÚBLICO Francisco Javier Salcedo Ortiz. Mas avisa: “Ainda há muito trabalho a fazer. Nós recuperámos o lince-ibérico do ponto de vista demográfico, mas pelo caminho houve uma grande erosão genética. Assim, o investigador diz ser imperioso “continuar a criar novas populações e chegar a um total de 1100 fêmeas reprodutoras”.