Meloni em Pequim para “reforçar a cooperação” e relançar as relações entre Itália e China

Primeira-ministra italiana encontrou-se com Xi Jinping e com o primeiro-ministro chinês na capital chinesa menos de um ano depois de a Itália ter abandonado o projecto da Nova Rota da Seda.

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Xi pediu a Meloni para a Itália assumir um “papel construtivo” na promoção de uma relação “positiva e estável” entre a China e a UE FILIPPO ATTILI/ PALAZZO CHIGI PRESS OFFICE HANDOUT / EPA
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Menos de um ano depois de o Governo de Itália ter anunciado a sua retirada da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative, segundo a designação oficial chinesa), o megaprojecto de infra-estruturas e investimento da República Popular da China em todo o mundo, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, está de visita ao gigante asiático, decidida a melhorar as relações entre Roma e Pequim.

Nesta terça-feira, no terceiro de cinco dias de visita à China, Meloni sinalizou que “o investimento italiano na China é cerca de três vezes superior ao investimento chinês em Itália” e defendeu a necessidade de “remover obstáculos” para que os produtos italianos possam “aceder ao mercado chinês.

“[Queremos] reforçar a nossa cooperação com o objectivo de (…) reequilibrarmos de forma clara as trocas comerciais” entre os dois países, disse a chefe do Governo italiano à imprensa internacional, citada pela Reuters. Em declarações à emissora televisiva estatal chinesa, a CCTV, acrescentou que pretende “desenvolver uma parceria mais próxima e de nível mais elevado” com a China, em áreas como a energia verde ou a biomedicina.

Crítica da política económica e do sistema de governo chinês, a dirigente política de direita radical retirou Itália da Belt and Road Initiative em Dezembro do ano passado, depois de o país ter aderido em 2019, argumentando que o projecto “não trouxe os resultados que eram esperados”, mas opta agora pelo pragmatismo.

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano, o défice comercial entre a China e a terceira maior economia da zona euro tem vindo a crescer desde 2019, tendo atingido quase 37 mil milhões de euros em 2023.

No domingo, Meloni encontrou-se como o seu homólogo chinês, Li Qiang, com quem assinou um plano de acção a três anos e seis acordos de cooperação nos campos do Ambiente, da Educação e da Agricultura, tendo enfatizado, segundo o site Politico, “a vontade de começar uma nova fase nas relações diplomáticas”.

Na segunda-feira, foi a vez de a primeira-ministra italiana se reunir com o Presidente da China e o secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, que, segundo o South China Morning Post, lhe disse que espera que a Itália desempenhe um “papel construtivo” na promoção de uma relação “positiva e estável” entre a China e a União Europeia.

“É expectável que Itália compreenda e apoie a filosofia de desenvolvimento da China”, afirmou Xi. “A China e a Itália, duas extremidades da antiga Rota da Seda, têm uma longa história de interacção que contribuiu significativamente para a interacção entre as civilizações chinesa e ocidental.”

O timing da visita de Meloni à China e estas palavras de Xi sobre a Europa são particularmente relevantes, tendo em conta os planos dos últimos anos apresentados pela Comissão Europeia para tentar reduzir a dependência económica da UE na China. Um desses planos, que conta com o apoio do Governo de Itália, passa pelo aumento das tarifas aduaneiras aplicadas às importações de veículos eléctricos produzidos na China, que ainda terá de ser aprovado pelos 27 Estados-membros.

Defendendo o reforço, em vez do afastamento, da cooperação económica no campo dos veículos eléctricos e da inteligência artificial, X Jinping sublinhou que, “na era da globalização económica, só mantendo uma cooperação aberta nas cadeias globais industriais e de abastecimento é que se pode alcançar um desenvolvimento vantajoso para todos”.

Citado pelo South China Morning Post, Nicola Casarini, investigador no think tank italiano Istituto Affari Internazionali, acredita que a visita de Meloni à China pretende enviar “uma mensagem à Comissão Europeia para que seja menos agressiva nas suas relações” como a China.

“Uma posição que será certamente apoiada pela Hungria”, acrescenta, referindo um dos Estados-membros da UE que tem melhores relações económicas e políticas com Pequim, e lembrando que o Governo de Viktor Orbán “detém a presidência da UE até ao final do ano.”

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