Multidão entra em base militar israelita em protesto por investigação de reservistas por abuso

No grupo estava um ministro e vários deputados extremistas, que são contra a investigação de nove militares israelitas suspeitos de ataque sexual a detido palestiniano.

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Manifestantes da extrema-direita à entrada da base de Sde Teiman, no Sul de Israel Jill Gralow / REUTERS
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Uma multidão em que estavam deputados ultranacionalistas, reservistas armados e pelo menos um ministro entrou à força numa base militar de Israel, uma acção de protesto que aconteceu depois da notícia de que a polícia militar estava no local para investigar um grupo de reservistas por suspeitas de abuso grave de um detido palestiniano.

A base de Sde Teiman, no deserto do Negev, é o primeiro local de interrogatório feito aos palestinianos que o Exército israelita prendeu na Faixa de Gaza desde 7 de Outubro. Os reservistas são suspeitos de abuso com gravidade, segundo a procuradoria militar.

Nove de um grupo de dez suspeitos foram detidos nesta segunda-feira, no que, segundo vários media israelitas, terá sido um ataque sexual. A vítima, que terá ficado em estado crítico, era um elemento de uma unidade de elite do Hamas, indicava a agência Reuters.

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O ataque ocorreu há cerca de três semanas, segundo o diário Times of Israel, e o detido, hospitalizado e sujeito a uma cirurgia, já está fora de perigo de vida.

O diário norte-americano The New York Times diz que vários vídeos publicados nas redes sociais mostram reservistas a gritar contra os que levavam a cabo a operação de detenção, numa rara ocasião de confronto de soldados contra outros soldados.

Quanto à multidão, havia ainda um vídeo que mostrava a entrada do ministro do Património Amihai Eliyahu na base, enquanto outro ministro, Yitzhak Wasserlauf (que tem a pasta do Negev, Galileia e Resiliência)​, participou no protesto, mas disse não ter entrado.

O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu emitiu um comunicado apelando à calma e condenando a entrada forçada, assim como o ministro da Defesa Yoav Gallant, que lembrou que, “mesmo em tempos difíceis, a lei aplica-se a toda a gente – ninguém pode entrar à força em bases das IDF [Forças de Defesa de Israel] ou violar as leis do Estado de Israel”.

O chefe do Estado-Maior das IDF, Herzi Halevi, disse que a investigação mantém a honra do Exército do país. “Estamos no meio de uma guerra, e este tipo de acções põe em risco a segurança do Estado”, disse. “São precisamente estas investigações que protegem os nossos soldados em Israel e no mundo e preservam os valores das IDF.”

Halevi não se referiu especificamente de que modo é que a investigação protege soldados, mas os tribunais internacionais têm apontado a falta de processos de investigação credível a acções de militares, por exemplo na Faixa de Gaza, como uma das justificações para processos.

O caso, comenta Barak Ravid, “é mais um sinal da desintegração da cadeia de comando das IDF e da lei e ordem com o encorajamento dos políticos ultranacionalistas”, algo que está a acontecer “quando há uma guerra em Gaza e quando Israel está à beira de uma guerra com o Hezbollah no Líbano”.

Há ainda vários relatos de abusos contra detidos palestinianos, que aumentaram depois dos ataques de 7 de Outubro. O New York Times publicou, no início de Junho, uma reportagem sobre casos de maus tratos em Sde Teiman, incluindo a detidos que mais tarde se provou não terem quaisquer ligações ao Hamas ou a outros grupos palestinianos.

Segundo o jornal, até ao final de Maio, cerca de 4000 detidos de Gaza tinham passado até três meses em Sde Teiman. Dos interrogados, 70% foram enviados para outros locais para serem acusados, ou para continuar a investigação. Os outros foram enviados de novo para a Faixa de Gaza.

Os detidos libertados não tiveram acesso a advogado durante períodos de até três meses, não puderam apresentar o seu caso a um juiz por períodos de até 75 dias, e a sua localização não foi partilhada com organizações de defesa de direitos humanos nem com o Comité Internacional da Cruz Vermelha.

As agressões a que foram sujeitos resultaram, em vários casos, em costelas partidas, e choques eléctricos eram também comuns, segundo o jornal.

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