Há um Otro renovado por detrás da Avenida da Liberdade

O espaço tem cerca de 60 lugares sentados e alguns recantos que permitem ter um jantar de amigos ou uma refeição a dois. O serviço é simpático e atento, com todos os cuidados.

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Otro Restaurante faz parte do grupo liderado por Hugo Banha Jorge Simão
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À entrada há um bar e, em frente, ficam as mesas altas e escuras. À noite, o negro do mármore com apontamentos decorativos em dourado dá um toque de sofisticação que é completado com as boas-vindas dadas pela chefe de sala. A noite é especial porque há um chef convidado, mas a ideia é que todas as noites sejam diferentes, sobretudo as de vésperas de feriado, sextas e sábados, altura em que a música não é ambiente, mas um DJ anima o restaurante Otro.

Hugo Banha, o fundador, lembra que o restaurante faz parte do Otro Group que tem ainda perfumaria de nicho — com lojas em Lisboa, Porto, Cascais e Vilamoura —, e negócio de arquitectura e design de interiores, além de private tailoring. E tudo isto se reflecte no espaço, sublinha, referindo que o cliente que chega ao restaurante pode experimentar os perfumes — por exemplo, na ida à casa de banho, lá estão eles, expostos e prontos a serem experimentados, "podem ser encomendados, se quiser", diz —, observar as fardas que foram feitas pelo Otro Private Tailoring, e o espaço desenhado e decorado pelo ramo de negócio ligado à arquitectura e design de interiores. "O design vai mudar", promete à Fugas.

Situado na Rua Rodrigues Sampaio, o restaurante fica por detrás da Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde estão outros espaços que apostam também no cliente de luxo, como o Seen, no último piso do Tivoli Avenida, ou as propostas do JNcQUOI na mesma avenida. Hugo Banha olha para esses espaços como concorrência mas acredita que esta é "saudável". E justifica com humor: "A concorrência é boa. O meu cliente precisa de jantar todos os dias." Mais a sério, explica que embora a morada do Otro possa ser "mais discreta", aquela é uma rua que está a crescer em termos de novas aberturas, por exemplo, na área da hotelaria. "Não temos pressa [em crescer], é tudo pensado ao pormenor com o foco no cliente", reforça.

O espaço tem cerca de 60 lugares sentados e alguns recantos que permitem ter um jantar de amigos ou uma refeição a dois. O serviço é simpático e atento, com todos os cuidados. O Otro está aberto só para jantares mas é possível reservar o espaço para almoços, sejam privados, de família, ou de empresas, informa o proprietário. Abrem para almoços com um mínimo de 12 pessoas, acrescenta.

A entrada do restaurante Otro Jorge Simão
A sala do restaurante dá para cerca de 60 pessoas Jorge Simão
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A entrada do restaurante Otro Jorge Simão

Se, quando abriu, no final de 2020, a carta estava a cargo de Vítor Sobral, agora a cozinha está sob a tutela de João Mealha com uma carta "mais leve, sustentável e portuguesa", diz o comunicado de imprensa. Para as entradas, os pratos mais pedidos é o Carabineiro em Brioche Japonês com maionese de ervas, ovas de salmão selvagem e cinza de cebola; ou a Cavala Braseada com Molho à Espanhola, creme de uva branca, panko e pimentão verde. Entre os pratos principais, destaca-se o Bacalhau Fresco com sabayon de chalota, “à brás” trufado e pó de alga Nor e a Terrine de Pato Confitado com caldo de especiarias, laranja, udons fritos e coentros.

A Fugas não provou nenhum destes pratos porque o convite foi para conhecer a cozinha do chef brasileiro Guga Rocha, que se inspirou nas viagens dos portugueses para fazer um menu que levou os convivas a percorrer caminhos marítimos até à Índia, São Tomé, entre outros, sem esquecer o Brasil. O menu chama-se "Grandes Navegações" e começa em Lisboa com uma espécie de pastel de nata e uma bica, uma entrada com foie gras e trufa. Passa pela Índia com gamba e ovas de salmão, segue em direcção à Indonésia, depois ao Japão.

Os ingredientes são muitos e variados, da banana dos Açores, passando pelo porco preto alentejano, atum, amendoim ou mandioca. Comunicativo, o chef tem um programa na TV Record, Guga Rocha vem à mesa apresentar o seu menu especial e conta entusiasmado como mistura tantos ingredientes diferentes, criando pratos com sabores surpreendentes. "Minha mãe sempre diz: ‘Meu filho, tinha tudo para dar errado, mas deu certo!’”, diz numa gargalhada, ao mesmo tempo que segura uma espécie de ralador branco. Trata-se da língua de um peixe da Amazónia, o pirarucu, e neste passa uma semente de puxuri, transformando-a num pó que cai em cima de um pedaço de manteiga Rainha do Pico. O cheiro e o sabor lembram uma mistura de noz-moscada, canela, anis e açafrão que sublima o sabor da manteiga açoriana.

Guga Rocha fica feliz com o efeito provocado nos clientes. Conta que está a viver em Portugal, mas não deixa de ir ao Brasil gravar os seus programas, refere que já fez consultoria para a Cervejaria Canil, em Lisboa, e que o desafio é explorar ainda mais este tema do menu "Grandes Navegações". Falta-lhe um sítio para o trabalhar, para chegar à estrela Michelin, ambiciona. Será no Otro? Nem Guga Rocha, nem Hugo Banha respondem, mas o chef chega ao final da noite "feliz", confessa.


O Fugas jantou a convite do restaurante Otro

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