Inapa entregou pedido de insolvência no tribunal

Empresa de distribuição de papel tem o Estado como maior accionista.

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Inapa foi afectada pelo negócio na Alemanha Adriano Miranda
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A Inapa avançou esta segunda-feira com o pedido de insolvência, junto do Juízo de Comércio do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste, na sequência do que tinha anunciado pela administração da empresa no dia 21 de Julho.

“A situação de insolvência da Inapa IPG foi espoletada por uma carência pontual de tesouraria de curto prazo da sua subsidiária Inapa Deutschland GmbH (“Inapa Deutschland”), em montante de 12 milhões de euros, para a qual não se encontrou solução de financiamento até dia 22 de Julho, prazo estabelecido pela lei alemã, o que resultou na apresentação à insolvência da Inapa Deutschland nesse dia”, refere a empresa no comunicado enviado ao regulador do mercado de capitais, a CMVM.

O Estado, por via da Parpública, é o maior accionista da empresa de distribuição de papel, com 44,89%. O resto está nas mãos da empresa Nova Expressão (10,85%), Novo Banco (6,55%) e disperso por vários pequenos investidores (37,71%).

“Aguarda-se agora a distribuição do processo de insolvência” e a nomeação administrador de insolvência “que ficará responsável pela condução do processo e pela determinação dos próximos passos processuais”, esclarece a empresa. Este processo inclui a composição dos credores, como os bancos e os trabalhadores, que irão ajudar a desenhar o futuro da empresa.

No comunicado, a Inapa faz uma demonstração do efeito dominó da queda da subsidiária alemã no resto do grupo. De acordo com a empresa, a Inapa IPG (a holding) “emitiu uma carta conforto à Inapa Deutschland a favor dos bancos financiadores desta última (entre os quais o Deutsche Bank AG, Hamburger Sparkasse AG e Norddeutsche Landesbank Girozentrale), nos termos da qual se comprometeu a contribuir os montantes necessários para a Inapa Deutschland cumprir as suas obrigações junto de qualquer credor a cada momento”. Ora, essa carta conforto foi accionada pela subsidiária alemã a 19 de Julho e verificou-se “impossível de cumprir pela Inapa IPG no dia 22 de Julho”.

Por sua vez, “o incumprimento da carta conforto e a insolvência da Inapa Deutschland determinavam o vencimento antecipado do financiamento obtido junto do consórcio alemão de bancos”, no montante de 17,7 milhões de euros, “igualmente coberto pela carta conforto”. Adicionalmente, a holding portuguesa, para se financiar junto do BCP, ao qual deve 34,7 milhões de euros, tinha apresentado como garantia as acções da sua empresa alemã.

“A declaração de insolvência da sociedade Inapa Deutschland Holding implicava o vencimento antecipado dos referidos financiamentos contraídos pela Inapa IPG junto do Millennium BCP, não tendo a Inapa IPG capacidade para liquidar tal dívida”, esclarece-se no comunicado. Pelo meio, há ainda factores como o incumprimento do pagamento de três milhões de euros referentes à terceira série de obrigações convertíveis subscritas pela sociedade Papyrus GmbH”, a empresa alemã que a Inapa comprou em 2018.

O negócio envolveu cerca de 50 milhões, dos quais 15 milhões foram via de obrigações convertíveis em acções. Por essa altura, o então presidente da Inapa, Diogo Rezende, afirmou ao Jornal de Negócios que após a aquisição a empresa iria ser “um grupo diferente”, por causa “da sua dimensão, dos seus níveis de eficiência e da consolidação do mercado”. Outros credores de relevo da empresa, além do BCP, são o Novo Banco e a Caixa Geral de Depósitos (ex-accionista, que passou a sua posição para Parpública).

Apresentando-se como líder na distribuição de papel na Europa Ocidental, a empresa até agora liderada por Frederico Lupi (que entretanto se demitiu) emprega 1478 trabalhadores. Neste momento, e conforme se refere no comunicado enviado esta segunda-feira à CMVM, a Inapa “encontra-se em sérias dificuldades para prosseguir a sua actividade, em face dos impactos que as circunstâncias descritas têm na sua relação com entidades financiadoras, fornecedores, seguradoras de crédito e demais stakeholders”, o que, explica-se, conduziu à entrega do pedido de insolvência que vai ser analisado pelo tribunal.

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