Doze crianças e adolescentes mortos em ataque a campo de futebol nos Montes Golã. Israel promete retaliar
Vítimas tinham entre os 8 e os 14 anos de idade. Israel diz que o ataque foi lançado a partir do Líbano pelo Hezbollah. Movimento extremista nega autoria. EUA temem escalada da violência na região.
Um campo de futebol em Majdal Shams, uma vila nos Montes Golã, território ocupado por Israel, foi atingido este sábado com um rocket que terá sido disparado a partir do Líbano. Pelo menos 12 pessoas morreram. As vítimas eram crianças e adolescentes, com idades entre os 8 e os 14 anos, que jogavam à bola ou brincavam no local, diz fonte médica ao diário israelita Haaretz.
É o pior ataque contra civis israelitas desde os atentados do Hamas de 7 de Outubro de 2023. Israel aponta a autoria do ataque de sábado ao Hezbollah, indicando que o rocket utilizado era do modelo iraniano Falaq 1, com uma ogiva de 50 quilos. Por seu turno, um representante do movimento libanês, Mohammad Afif, negou quaisquer responsabilidades.
Há ainda registo de mais de 20 feridos, incluindo vários em estado grave, acrescenta o Haaretz. De acordo com os serviços de emergência, os feridos têm entre 10 e 20 anos de idade.
Majdal Shams é uma vila de maioria drusa nos Montes Golã, território sírio ocupado por Israel na sequência da Guerra dos Seis Dias, em 1967, e anexado em 1981. Os drusos são uma minoria árabe, não muçulmana, presente em vários países da região.
O ataque aconteceu horas depois de uma investida israelita contra o Hezbollah no Líbano, que resultou na morte de quatro combatentes. Duas fontes dos serviços de segurança libaneses, contactadas pela Reuters, afirmaram que os quatro combatentes mortos no ataque israelita a Kfarkila pertenciam a diferentes grupos armados, incluindo o Hezbollah.
O Hezbollah, apoiado pelo Irão, e as forças israelitas têm trocado ataques com maior intensidade desde Outubro de 2023, após a investida do Hamas no Sul de Israel e da brutal retaliação israelita em Gaza que ainda prossegue. Numa declaração escrita, o Hezbollah afirmou que "a Resistência Islâmica não tem absolutamente nada a ver com o incidente e nega categoricamente todas as falsas alegações a este respeito". Mas o Hezbollah tinha anunciado anteriormente vários ataques com rockets contra posições militares israelitas.
Este sábado, o Chefe do Estado-Maior do Exército israelita, Herzl Halevi, garantiu que o ataque a Majdal Shams vai ter "uma reacção muito significativa" por parte de Israel. Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, anunciou que irá reunir o seu governo assim que regressar dos Estados Unidos, onde se encontra. "O Estado de Israel não ficará em silêncio", declarou: “O Hezbollah pagará um preço elevado, como até agora não pagou”, declarou o governante israelita numa conversa telefónica com o líder da comunidade drusa em Israel, segundo um comunicado do seu gabinete.
O serviço de ambulâncias israelita disse que o campo de futebol estava cheio de crianças e adolescentes. “Estavam a jogar futebol, ouviram as sirenes e correram para o abrigo... podem demorar cerca de 15 segundos [a chegar ao abrigo]. Mas não conseguiram chegar lá porque as rochas estavam no caminho”, disse MourhafAbu Saleh, uma testemunha.
As imagens publicadas nas redes sociais mostram o momento em que o rocket explodiu. Ouve-se uma sirene que alerta para um ataque aéreo iminente, seguida de uma grande explosão e imagens de fumo a subir. Idan Avshalom, um médico do serviço de ambulâncias Magen David Adom, disse que os primeiros socorristas encontraram um cenário de grande destruição. “Havia vítimas na relva e o cenário era horrível”, disse.
Netanyahu, que já deveria regressar dos Estados Unidos a Israel durante a noite de sábado, disse que iria antecipar o seu voo e reunir o seu gabinete de segurança à chegada.
Os norte-americanos, que têm liderado os esforços diplomáticos com o objectivo de aliviar o conflito na fronteira entre o Líbano e Israel, condenaram o atentado, considerando-o horrível, e afirmaram que o apoio dos EUA à segurança de Israel é “firme e inabalável contra todos os grupos terroristas apoiados pelo Irão, incluindo o Hezbollah libanês”. Os Estados Unidos “continuarão a apoiar os esforços para pôr fim a estes terríveis ataques ao longo da Linha Azul, que deve ser uma prioridade máxima”, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca em comunicado. A Linha Azul refere-se à fronteira entre o Líbano e Israel.
Moscovo, que mantém relações com a maioria dos principais actores do Médio Oriente, incluindo Israel, Irão, Autoridade Palestiniana e Hamas, condenou os ataques nos Montes Golã. “Condenamos todas as acções terroristas levadas a cabo por qualquer entidade”, afirmou a agência noticiosa russa TASS, citando o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, no domingo.
Do lado libanês, o primeiro-ministro Najib Mikati condenou "todos os actos de violência e de agressão contra todos os civis" e apelou à suspensão imediata das hostilidades entre o Hezbollah e Israel.
Líder do Líbano "devia pagar com a cabeça"
Os militares israelitas afirmaram que o lançamento do rocket foi efectuado a partir de uma área localizada a norte da aldeia de Chebaa, no sul do Líbano. Numa declaração transmitida pela televisão, o porta-voz das forças armadas israelitas, contra-almirante Daniel Hagari, disse que, por enquanto, não houve mudança nas instruções do Comando da Frente Interna, indicando que o exército não estava à espera de uma escalada iminente em Israel.
O aliado de coligação de extrema-direita de Netanyahu, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, apelou a uma retaliação dura, incluindo contra o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah. “Pela morte de crianças, Nasrallah deveria pagar com a sua cabeça. Todo o Líbano deve pagar”, publicou Smotrich no X.
O conflito obrigou dezenas de milhares de pessoas, tanto no Líbano como em Israel, a abandonarem as suas casas. Os ataques israelitas já mataram cerca de 350 combatentes do Hezbollah no Líbano e mais de 100 civis, incluindo médicos, crianças e jornalistas. Os militares israelitas afirmaram, após o ataque de sábado, que o número de civis mortos em ataques do Hezbollah tinha subido para 23 desde Outubro, juntamente com pelo menos 17 soldados.
Andrea Tenenti, porta-voz da força de paz da UNIFIL, que opera no sul do Líbano, disse à Reuters que o seu comandante estava em contacto com as autoridades do Líbano e de Israel “para compreender os pormenores do incidente de Majdal Shams e manter a calma”. Um diplomata de alto nível que se ocupa do Líbano disse que agora são necessários todos os esforços para evitar uma guerra total.
Israel tinha atacado o Líbano no sábado
O Hezbollah é o mais poderoso de uma rede de grupos apoiados pelo Irão em todo o Médio Oriente que, desde Outubro, entraram na luta em apoio ao seu aliado palestiniano Hamas. Tanto os grupos iraquianos como os houthis do Iémen estão contra Israel. O Hamas também efectuou ataques com rockets contra Israel a partir do Líbano, tal como o grupo sunita libanês Jama'a Islamiya.
Mais de 40 mil pessoas vivem nos Montes Golã, mais de metade das quais são residentes drusos.
O ataque ao campo de futebol seguiu-se a um ataque israelita no Líbano que matou quatro militares no sábado. Duas fontes de segurança no Líbano afirmaram que os quatro combatentes mortos no ataque israelita a Kfarkila, no sul do Líbano, pertenciam a diferentes grupos armados, sendo que pelo menos um deles pertencia ao Hezbollah.
Pelo menos 30 rockets foram então disparados do Líbano através da fronteira, segundo os militares. O Hezbollah reivindicou pelo menos quatro ataques, incluindo com rockets Katyusha, em retaliação aos ataques de Kfarkila.