Ataque israelita mata pelo menos 30 pessoas abrigadas numa escola em Gaza

Em Khan Younis, ordens de evacuação de “zonas humanitárias” chegam poucos minutos antes dos ataques. Mais de 180 mil pessoas fugiram nos últimos dias.

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Palestinianos junto ao Hospital Al-Aqsa, em Deir Al-Balah, no Centro de Gaza Ramadan Abed/Reuters
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Israel lançou uma série de raides aéreos no centro e Sul da Faixa de Gaza, fazendo pelo menos 50 mortos e 200 feridos: no pior destes ataques, pelo menos 30 pessoas morreram, quando três bombas atingiram a escola Khadija, na cidade de Deir al-Balah, onde milhares tinham encontrado abrigo. Muitos dos cerca de 100 feridos da escola foram levados para o Hospital de Al-Aqsa, onde, “num instante, o cenário passou de calmo a caótico”.

“A situação é absolutamente terrível; todos os que se encontram no hospital sofreram ferimentos graves. Estão a receber tratamento no chão, em todos os departamentos”, relatou Tareq Abu Azzoum, correspondente da Al-Jazeera.

O número de vítimas, que continuava a ser actualizado, foi divulgado pelo Ministério da Saúde de Gaza, cujos dados são publicamente disputados por Israel, mas considerados fiáveis por muitos governos e serviços secretos (incluindo os israelitas).

“O pátio do hospital está sobrelotado com pessoas vindas a correr do abrigo nas proximidades”, afirmou Abu Azzoum, descrevendo “muitos civis a chegar de ambulância, completamente ensopados em sangue ou em pedaços, mortos”. A agência Reuters tem fotografias de famílias a levarem ao colo crianças feridas e a Associated Press noticiou que muita gente procurava restos mortais nas salas de aula em ruínas, “vasculhando os escombros para recolher partes de corpos”.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) dizem ter atacado a escola Khadija, porque a “área” era utilizada como “complexo de comando e controlo” por membros do Hamas, garantindo que o ataque “matou operacionais” que se tinham escondido na antiga escola da ONU, transformada em abrigo para os deslocados.

Os ataques deste sábado concentraram-se no centro do enclave palestiniano, onde ao longo da última semana chegaram milhares de famílias em fuga de novos ataques e de ordens de evacuação israelita que visam partes das cidades de Khan Younis e de Rafah, no Sul do território.

Na sexta-feira, as Nações Unidas disseram que mais de 180 mil palestinianos fugiram em quatro dias dos bombardeamentos na área de Khan Younis, onde a “intensificação das hostilidades” está a provocar “novas vagas de deslocações internas em toda a Faixa de Gaza”, mais de nove meses depois do início da guerra de Israel. Ainda segundo a ONU, “centenas de outras pessoas continuam retidas” e rodeadas por ataques e combates no Leste de Khan Younis.

Israel voltou a ordenar a evacuação de uma zona da cidade, desta vez no Sul – sábado foi o sétimo dia consecutivo de avisos para os civis abandonarem os seus abrigos. Muitas destas pessoas chegaram à cidade depois de fugirem dos ataques israelitas em Rafah, muitas também já tinham escapado de outras áreas de Khan Younis.

Segundo as IDF, o regresso dos ataques a estes bairros deve-se “a numerosos actos de terrorismo e ao disparo de mísseis antiaéreos” e a última ordem de evacuação baseou-se em “informações” segundo as quais o Hamas tinha “infra-estruturas terroristas” numa área “definida como zona humanitária”.

Ao longo da semana, as ordens para a população abandonar cada zona têm chegado minutos antes dos ataques. Os avisos foram feitos através de SMS, telefonemas, mensagens áudio e emissões em televisões e rádios em língua árabe.

Segundo o Ministério da Saúde, os ataques de sábado em Khan Younis mataram pelo menos 23 pessoas e feriram 89 entre o início da manhã e meio da tarde.

As IDF lançaram no início do ano uma ofensiva contra Khan Younis, a segunda maior cidade da Faixa de Gaza, retirando-se três meses depois, quando anunciaram que as unidades de combate do Hamas que ali operavam tinham sido desmanteladas.

Na última semana, Israel voltou a atacar bairros onde já tinha estado – um padrão que se tem repetido, com o Hamas a reaparecer em áreas onde as IDF tinham dado as operações como encerradas –, mas, de acordo com a imprensa israelita, a ordem de evacuação deste sábado inclui zonas entre Khan Younis e Rafah (mais a sul), onde as forças terrestres israelitas ainda não tinham estado nesta guerra.

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