Um dia curto para Catarina Costa em Paris

Judoca portuguesa estava preparada para ir longe no torneio olímpico, mas ficou-se pelo segundo combate, frente a uma paraguaia que pouco compete no circuito internacional.

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Catarina Costa, judoca portuguesa HUGO DELGADO / LUSA
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Portugal ia ter um primeiro dia épico nos Jogos Olímpicos de Paris. Tinha alto potencial medalhístico, com Gustavo Ribeiro a competir no skate e Catarina Costa a entrar em acção no tatami olímpico. O dia olímpico de Ribeiro foi adiado pela chuva (para segunda-feira), o de Catarina Costa foi demasiado curto para o que ela própria pensava. Ela era uma das judocas de topo em -48kg, mas acabou por cair perante o perigo desconhecido de uma adversária que nunca tinha enfrentado. O que se pensava que fosse uma potencial medalha acabou por ser uma imensa frustração.

A cumprir o seu segundo dia olímpico, Catarina Costa tinha ambições. Depois de ter chegado ao combate pelo bronze há três anos em Tóquio, a portuguesa chegava a Paris com o estatuto consolidado de uma das melhores na sua categoria e estava preparada para ir longe. No seu lado da chave, estava um potencial cruzamento com a mongol Baasankhuu Bavuudorj, campeã mundial, e uma das favoritas. Esse seria um problema para os quartos-de-final, já identificado e para o qual a portuguesa teria um plano.

Antes, teria de passar pela experiente alemã Katharina Menz, vice-campeã mundial em 2022, na primeira ronda, o que fez com relativa facilidade, com uma projecção pontuada com waza-ari a menos de um minuto do fim do combate. Seguia-se a paraguaia Gabriela Narvaez, que se qualificara para Paris via quota continental, não por ranking (é 60.ª do mundo). Era uma desconhecida dos principais palcos do judo internacional, com pouca experiência frente a judocas de topo, apesar de já ter 29 anos.

Catarina Costa era favorita teórica, mas a sul-americana representava o tal perigo desconhecido. Depois de quatro minutos, com penalizações, mas sem pontos, o combate avançou para o “golden score”. A portuguesa parecia estar em vantagem, mas acabou projectada pela paraguaia, que pontuou com ippon aos 80 segundos do prolongamento. Catarina Costa levou alguns segundos até se levantar do tapete, a processar o facto de que o seu segundo dia olímpico tinha acabado.

Depois, passou pela zona mista e pediu mais uns segundos, para limpar as lágrimas dos olhos. “Uma adversária algo difícil que não costuma aparecer no circuito, apesar de a estudarmos, é sempre diferente fazer [judo] com ela em competição. O combate até estava a pender ligeiramente para mim, com os castigos que ela tinha, ainda assim uma adversária complicada, com um bom ritmo de ataque e técnicas um bocadinho diferentes”, começou por dizer a judoca de Coimbra.

Ainda a rever o filme do combate na cabeça, Catarina Costa explicou o que aconteceu: “Quando vamos para o ponto de ouro, pode ser de qualquer uma. Eu fiz um movimento muito bom primeiro e ela a seguir teve a felicidade de me conseguir projectar numa técnica de sacrifício, ela nunca tinha feito isto em outras competições.”

A portuguesa admitiu que tinha preparado melhor os combates com as cabeças-de-série da sua parte do quadro e que não sabia bem o que valia a paraguaia (que seria eliminada pela mongol na ronda seguinte), nem as técnicas que ela mais favorecia: “Fizemos todo esse trabalho na semana passada, com as cabeças-de-série do meu lado, já as tínhamos estudado todas. Trabalhei isso nos treinos, pensamos andar para a frente. Éramos 31, não podemos ver todas. Esta atleta do Paraguai não compete muito. É complicado ter as sensações reais do que é um combate, não podia fazer mais, foi uma infelicidade ter caído.”

Aos 27 anos, a judoca portuguesa continua a ter nos seus planos, pelo menos, mais um ciclo olímpico, mantendo-se na alta competição enquanto concluiu o seu curso de Medicina em Coimbra. “É algo que me dá muito prazer e logo se vê, vao ser mais quatro anos, vou fazer mais um ciclo, vou fazer mais competições”, disse. Mas a isso chama-se futuro. Naquele momento, Catarina Costa só queria uma coisa: “Agora quero é estar com a minha família, o que eu quero é abraçá-los.”

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