Associações reúnem-se para tentar resolver “desespero” de trabalhadores imigrantes

Meia centena de associações representativas de imigrantes vão decidir “formas de luta colectiva” contra o fim da manifestações de interesse.

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Alterações na política migratória estão a causar apreensão entre os imigrantes cujos processos de regularização se arrastam Adriano Miranda (arquivo)
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Perto de meia centena de associações de imigrantes vão discutir este sábado novas formas de sensibilização para tentar resolver a situação de milhares de "trabalhadores desesperados" que perderam o direito a regularizar a sua situação.

Desde o início de Junho que a mudança na Lei de Estrangeiros "deixou na incerteza" a vida de imigrantes em Portugal, ao pôr fim a um direito que permitia a regularização de estrangeiros que já estivessem a trabalhar no país, lembrou a presidente da associação Casa do Brasil em Lisboa, alertando para "a catástrofe" que se aproxima. A responsável refere-se ao fim das chamadas "manifestações de interesse" - dois artigos da Lei de Estrangeiros que permitiam a quem entrava em Portugal como turista abrir actividade profissional, começar a trabalhar, a descontar para a Segurança Social e para as Finanças e solicitar autorização de residência.

"As pessoas foram apanhadas de surpresa e há uma grande confusão nas suas vidas, porque não sabem o que lhes vai acontecer. Mas já sabemos que vai ser uma catástrofe, porque agora temos milhares de pessoas sem direitos garantidos, sem se conseguirem regularizar", defendeu Cyntia de Paula, em declarações à Lusa.

Em situação ilegal, estas pessoas ficam mais expostas ao risco da imigração clandestina, da pobreza e da exclusão social, lembrou a representante de uma das 50 associações que têm lutado para reverter as recentes mudanças da lei. Segundo a responsável, há já casos de pessoas que "foram demitidas por não se conseguirem regularizar", mas também do lado dos empregadores há relatos de preocupação: "Não sabem o que fazer, apesar de precisarem destas pessoas para trabalhar".

As 50 organizações agendaram uma nova reunião para sábado à tarde, às 15h00, na Associação Solidariedade Imigrante, em Lisboa, para "tomar decisões colectivas" no sentido de conseguir que a nova lei da imigração volte a prever o direito à manifestação de interesse. Ao revogar a manifestação de interesse, o actual governo retirou "direitos básicos a milhares de imigrantes que trabalham e contribuem para o país", refere a convocatória da reunião.

"Esta será uma reunião aberta de planeamento, na qual iremos decidir os próximos passos de forma colectiva e fazer uma avaliação das reuniões que já tivemos, quer com o Presidente da República quer com alguns partidos", explicou Cyntia de Paula.

Na agenda das associações está outra reunião, a 14 de Agosto, com um assessor do primeiro-ministro, mas as organizações querem ser recebidas por Luís Montenegro, "tal como aconteceu com o Presidente da República". "Pedimos esta reunião há cerca de um mês e responderam-nos dizendo que seria com o adjunto, mas ontem reforçámos o pedido de que queríamos ser recebidos pelo primeiro-ministro", contou a presidente da Casa do Brasil.