Chegaram 11 veados à Quinta do Pisão para ajudar a renaturalizar a paisagem

Animais vão viver na Quinta do Pisão, juntando-se a cavalos, vacas e cabras. Veados vão ajudar a controlar a vegetação do Parque Natural de Sintra-Cascais, dificultando a propagação de incêndios.

Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais, Portugal, 25 de julho de 2024
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Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais, a 25 de Julho de 2024 Catarina Póvoa
Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais, Portugal, 25 de julho de 2024
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Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais, Portugal, 25 de julho de 2024? Catarina Póvoa
Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais, Portugal, 25 de julho de 2024
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Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais, Portugal, 25 de julho de 2024? Catarina Póvoa
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A Quinta do Pisão, no concelho de Cascais, ganhou esta quinta-feira onze veados-vermelhos-ibéricos, dez fêmeas e um macho, que vão ajudar a tornar a paisagem do Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC) mais resiliente aos incêndios florestais. A introdução dos mamíferos da subespécie Cervus helaphus hispanicus faz parte da política de renaturalização daquele território, que já conta com ovelhas campaniças, cabras serranas, vacas maronesas, alguns corços e outros herbívoros.

“O que temos feito é transformar a Quinta do Pisão num depositário das raças autóctones e, ao mesmo tempo, num laboratório de paisagem, onde estes animais desenvolvem a sua actividade, com todos os serviços ecológicos que prestam”, explicou ao PÚBLICO Luís Almeida Capão, director municipal do ambiente de Cascais e presidente do conselho de administração da Cascais Ambiente, empresa municipal que gere aquele terreno.

Adquirida pela Câmara Municipal de Cascais em 2007, a Quinta do Pisão é uma propriedade de 380 hectares, na freguesia de Alcabideche, que faz parte do PNSC. O terreno situa-se na fronteira entre a malha urbana e a região mais silvestre que se espraia até à serra de Sintra. A visão que a Cascais Ambiente tem para a quinta é a de obter “uma representatividade de ecossistemas mediterrânicos”, disse Luís Almeida Capão. “A área florestal da quinta era praticamente composta por pinheiro-bravo, eucalipto e acácias”, adiantou o responsável. Hoje, “temos na zona florestal uma área de carvalhais e nalgumas zonas conseguimos encontrar sobreiros”, referiu o responsável, explicando que desde 2007 houve um trabalho de renaturalizar o espaço, que hoje é visitável com vários trilhos pedestres e de bicicleta.

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Veados chegaram esta quinta-feira ao Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais Catarina Póvoa

Além da vertente florestal, o terreno conta com uma zona de pastagem e outra de agricultura, com a produção de trigo barbela, já usado na produção de pão. Há ainda zonas de produção de fruticultura, com medronheiros e abrunheiros, uma horta, cuja produção fica disponível para venda, e apiários.

Os animais que foram sendo introduzidos na quinta ao longo do tempo não foram trazidos com o objectivo de criar uma quinta pedagógica, vêm antes integrar a paisagem, trazendo complexidade. “Temos uma visão naturalista dos serviços do ecossistema a funcionar naturalmente”, apontou Luís Almeida Capão, explicando que a Cascais Ambiente está em contacto com a Rewilding Europe, uma organização europeia que já tem uma grande experiência no processo de renaturalização das paisagens.

João Melo, diretor da Cascais Ambiente Catarina Póvoa
João Moura, secretário de Estado da Agricultura Catarina Póvoa
Além da recepção dos 11 veados, a comitiva visitou outros animais que vivem na Quinta do Pisão Catarina Póvoa
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João Melo, diretor da Cascais Ambiente Catarina Póvoa

Além das ovelhas, das cabras e das vacas, o projecto municipal conta ainda com burros mirandeses, cavalos garranos e cavalos sorraia. O veado é uma nova adição que vai cumprir um papel específico de herbivoria. “Estamos a reintroduzir os veados para podermos ter uma actividade de pastoreio em várias franjas da vegetação. Temos os animais que pastam o pasto mais rente ao chão, e estes veados vão trabalhar em zonas de vegetação de média altura”, explicou Luís Almeida Capão. Os animais vão ficar num espaço com cerca de 240 hectares, e também terão um papel importante em espalhar sementes e nutrientes através das fezes, além de ajudarem a produzir um mosaico arbustivo, que dificulta a propagação dos incêndios florestais.

“O que estamos a fazer é para melhorar a paisagem, para potenciar os serviços dos ecossistemas, protegendo o território e tornando-o mais resiliente aos riscos que advêm das alterações climáticas”, referiu Luís Almeida Capão. “Não podemos continuar a olhar para a floresta como algo que tem de ser limpo quando [o tempo] começa a aquecer.”

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Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais Catarina Póvoa

Vontade de longo prazo

Os onze veados vieram de uma reserva cinegética da região de Mértola e custaram ao todo 7800 euros. O montante foi pago com parte de um financiamento de 56.000 euros vindo da Rewilding Europe, que ajudou ainda a construir cercados, comprar cavalos sorraia e aparelhos de GPS.

O financiamento externo tem ajudado o município de Cascais a progredir na sua visão para o PNSQ. Em Outubro de 2023, o município iniciou um Programa Life, da União Europeia (UE), no valor de 3,9 milhões de euros, com o objectivo de “promover uma paisagem resiliente e adaptada às alterações climáticas”, lê-se no site da Cascais Ambiente. “O projecto é para a área toda da encosta da Peninha, [já na serra de Sintra], até à Quinta do Pisão”, explicou Luís Almeida Capão. “Estamos a falar de cerca de 3300 hectares que necessitam de ser geridos.”

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Introdução de veados no Parque Natural Sintra-Cascais, Quinta do Pisão, Cascais Catarina Póvoa

Muitos destes hectares pertencem a terrenos privados. Parte do trabalho do município passa por encetar um diálogo com os proprietários e atraí-los para os meios de gestão natural, recorrendo a actividades produtivas como a apicultura, tal como acontece na Quinta do Pisão, que funciona como exemplo. “Um terreno numa área protegida não tem, obrigatoriamente, de ser alvo de especulação ou um passivo económico de uma família”, defendeu o responsável. “Passo a passo, com a ajuda da autarquia, pode tornar-se motivo de orgulho e, eventualmente, rendimento futuro.”

Em Março último, o município ganhou o prémio de platina Green Destinations Awards 2024, atribuído aos destinos que apostam no turismo sustentável. Mas Luís Almeida Capão também valoriza aspectos menos visíveis, que falam de uma vontade de longo prazo: “Tivemos um registo, pela primeira vez esta semana, do esquilo-vermelho no Pisão. Fazer com que um esquilo apareça é uma coisa que demora décadas. E muito do que estamos a fazer vai ser para a geração dos nossos filhos. Estamos a recuperar os valores dos nossos sistemas mediterrânicos, isso dá-nos imenso prazer.”