Inapa diz que Parpública tinha “plena consciência das consequências” ao recusar empréstimo de liquidez

A “insolvência súbita da Inapa” era “absolutamente evitável” se a Parpública tivesse realizado empréstimo de emergência de 8,4 milhões, queixa-se o conselho de administração demissionário da empresa.

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Parpública, gestora das participações do Estado, tem 45% da Inapa e é a maior accionista, mas o Governo considera que esta empresa "não é estratégica" Daniel Rocha
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O conselho de administração da Inapa (cujos membros renunciaram aos cargos no domingo passado, depois de reconhecerem um buraco financeiro de 12 milhões de euros na tesouraria da sua subsidiária alemã) assina esta quinta-feira um comunicado em que justifica a decisão na sequência das “repetidas tentativas infrutíferas por parte da Inapa de obter o apoio do seu principal accionista, a Parpública, para diversas soluções alternativas de reforço de capital, apesar do apoio de outros stakeholders”.

Num comunicado publicado no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), nesta quinta-feira, a administração demissionária da empresa cotada explica que a decisão da Parpública de negar apoio financeiro à Inapa foi “tomada com plena consciência das consequências” e que, por isso, os membros do conselho de administração entenderam “terem deixado de subsistir condições para manter as funções” para as quais foram escolhidos pela própria Parpública, considerando “[não restar] alternativa senão apresentar a sua renúncia”.

A Parpública, gestora de participações empresariais do Estado português, é dona de quase 45% do capital da Inapa.

O comunicado enviado à CMVM (que na segunda-feira suspendeu a negociação em bolsa das acções da Inapa), relata que, desde o início de 2020, a gestão apresentou à Parpública, “enquanto maior accionista, diversas alternativas de capitalização, envolvendo sempre outros accionistas de referência”, que são actualmente a Nova Expressão (10,8%) e o Novo Banco (6,5%).

“Após três anos de apresentação de diversas propostas alternativas devidamente fundamentadas, não foi possível avançar com qualquer solução por indisponibilidade da Parpública, comunicada à Inapa em Janeiro de 2023”, detalha o comunicado.

A presidência da Parpública é hoje ocupada por José Realinho de Matos, que em Novembro de 2023 sucedeu a Jaime Andrez, que por sua vez substituiu Miguel Cruz na liderança da holding estatal, em Julho de 2020.

“Em 2024, a Inapa retomou contactos com a Parpública”, para obter apoio para uma “restruturação da empresa, com base num empréstimo de médio e longo prazo de 15 milhões de euros”. Para esta restruturação, explica a Inapa, os principais bancos credores “contribuiriam com uma significativa redução da dívida (haircut)”, refere a empresa. Entre estas instituições estão o BCP, o Novo Banco e em menor dimensão a CGD.

Num comunicado em que repete mais do que uma vez que a Parpública é a principal accionista da Inapa, a administração demissionária afirma que alertou a holding pública “para a necessidade premente de uma solução de capitalização” que permitisse à empresa “apoiar as suas operações”.

“Na ausência de uma solução estrutural, e face às estritas regras sobre prazos de pagamento vigentes na Alemanha, a Inapa viu-se forçada em Julho a solicitar aos seus accionistas de referência, Parpública (44,89%), Nova Expressão (10,85%) e Novo Banco (6,55%), um empréstimo de muito curto prazo a ser integralmente reembolsado até Outubro de 2024”, destaca o conselho de administração.

Uma proposta que, no entender do Ministério das Finanças (como este esclareceu na segunda-feira), “não reunia condições sólidas, nem demonstrava a viabilidade económica e financeira que garantisse o ressarcimento do Estado”. O ministério liderado por Joaquim Miranda Sarmento adiantou que o Governo irá “acompanhar a insolvência” (que segundo fonte da empresa deverá ser formalizado amanhã, sexta-feira, dia 26 de Julho).

No comunicado desta quinta-feira, a administração da Inapa revela ainda que o empréstimo de 12 milhões de euros necessários à empresa alemã “seria proporcionalmente financiado pelos três principais accionistas, cabendo à Parpública 8,4 milhões de euros”.

Era um valor “crucial para resolver a carência de tesouraria sazonal da Inapa Deutschland e assim evitar a sua insolvência”, sublinha a administração, frisando que a Parpública sabia que a inexistência do apoio de tesouraria “resultaria na declaração de insolvência na Alemanha, atendendo às estritas regras sobre prazos de pagamento vigentes” naquele país.

A Parpública sabia, sustenta a gestão da Inapa, que haveria um “inevitável e imediato contágio à Inapa IPG e consequentemente a todo o Grupo Inapa”. Foi ainda “sensibilizada” a holding estatal “para a circunstância de que a insolvência súbita, mas absolutamente evitável, acima referida, teria o efeito devastador numa empresa nacional com acções admitidas a negociação, que é, ademais, um dos principais distribuidores de papel europeu”.

Dizendo-se “ciente das dificuldades e preocupações” que afectam trabalhadores, clientes e fornecedores o conselho de administração garante que “continuará a trabalhar para no mais curto espaço de tempo possível apresentar a Inapa à insolvência”.

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