Detectado um “super-Júpiter” que demora mais de um século a dar a volta à sua estrela

Planeta identificado por equipa de cientistas da Alemanha pode demorar até 250 anos a dar a volta à sua estrela. Mesmo a mais de 12 anos-luz da Terra, podemos observar este planeta no hemisfério Sul.

Foto
Ilustração artística do planeta gigante gasoso a orbitar a sua estrela T. Müller/MPIA/HdA
Ouça este artigo
00:00
02:51

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Um “​super-Júpiter” foi avistado em torno de uma estrela vizinha pelo telescópio espacial James Webb, revelou esta quarta-feira uma equipa de cientistas alemã, acrescentando que o planeta tem também uma “​super-órbita”​ – ou seja, bem mais longo do que os 365 dias que demora a Terra a circundar o Sol.

O planeta tem aproximadamente o mesmo diâmetro que Júpiter, mas a sua massa é seis vezes maior. A sua atmosfera é também rica em hidrogénio, tal como a de Júpiter. A grande diferença é que este planeta demora mais de um século, possivelmente até 250 anos, a dar uma volta em torno da sua estrela. A distância é 15 vezes maior para a sua estrela do que da Terra ao Sol.

Os cientistas já suspeitavam há muito tempo de que um grande planeta orbitava esta estrela a 12 anos-luz de distância da Terra, mas não sabiam que seria tão maciço ou tão distante da sua estrela. Um ano-luz tem cerca de 9,46 biliões de quilómetros.

Estas novas observações mostram que o planeta orbita a estrela Épsilon do Índio A​, parte de um sistema de três estrelas. Uma equipa internacional liderada pela investigadora Elisabeth Matthews, do Instituto Max Planck de Astronomia (Alemanha), recolheu as imagens no ano passado e publicou as descobertas na edição desta semana da revista Nature.

Os astrónomos observaram directamente o gigante gasoso incrivelmente antigo e frio – um feito raro e complicado. Ao bloquear a luz das estrelas, o planeta destacou-se como um pequeno ponto de luz infravermelha.

O planeta e a estrela têm 3500 milhões de anos, ou seja, são mil milhões de anos mais novos do que o nosso sistema solar, mas ainda assim considerados antigos e mais brilhantes do que o esperado, de acordo com Elisabeth Matthews.

A estrela está tão próxima e brilhante do nosso sistema solar que é visível a olho nu no hemisfério Sul. “Este é um gigante gasoso sem superfície dura ou oceanos de água líquida”, explicou Elisabeth Matthews, em declarações à agência Associated Press (AP).

É improvável que este sistema solar tenha mais gigantes gasosos, realçou a astrónoma, mas pequenos mundos rochosos podem estar à espreita. Mundos semelhantes a Júpiter podem ajudar os cientistas a compreender “como estes planetas evoluem em escalas de tempo de giga anos”, acrescentou.

Os primeiros planetas fora do nosso sistema solar –​ ou exoplanetas – foram confirmados no início da década de 1990. A contagem da NASA é agora de 5690 exoplanetas detectados até meados de Julho. A grande maioria foi identificada através do método de trânsito, em que uma queda fugaz da luz das estrelas, repetida a intervalos regulares, indica um planeta em órbita a passar à frente da sua estrela.

Os telescópios no espaço e também no solo estão à procura de ainda mais, especialmente planetas que possam ser semelhantes à Terra. Lançado no final de 2021, o telescópio James Webb da NASA e da Agência Espacial Europeia é o maior e mais poderoso observatório astronómico alguma vez colocado no espaço.