“O calor extremo é o novo anormal. O mundo tem de estar à altura do desafio”, pede António Guterres
ONU exige acção contra calor extremo depois do anúncio do dia mais quente desde que há registos. Apelou aos governos para que reduzam as emissões e para que reforcem a protecção dos mais vulneráveis.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou esta quinta-feira aos países para que abordem a urgência da epidemia de calor extremo, alimentada pelas alterações climáticas - dias depois de se ter confirmado esta semana que o mundo enfrentou o dia mais quente desde que há registos.
“O calor extremo é o novo anormal”, afirmou António Guterres. “O mundo tem de estar à altura do desafio do aumento das temperaturas”, afirmou. As alterações climáticas estão a tornar as ondas de calor mais frequentes, mais intensas e mais duradouras em todo o mundo.
Já este ano, os calor extremo terá sido responsável pela morte de 1300 peregrinos do hajj, fecharam escolas para cerca de 80 milhões de crianças em África e na Ásia e registou-se um aumento de hospitalizações e mortes no Sahel.
Todos os meses desde Junho de 2023 foram classificados como os mais quentes do planeta desde o início dos registos em 1940, em comparação com o mês correspondente nos anos anteriores, de acordo com o Serviço de Alterações Climáticas Copérnico da União Europeia.
A ONU apelou aos governos para que não só reduzam as emissões de combustíveis fósseis - o motor das alterações climáticas - mas também reforcem a protecção dos mais vulneráveis, incluindo os idosos, as mulheres grávidas e as crianças, e aumentem as salvaguardas para os trabalhadores.
De acordo com um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicado esta quinta-feira, mais de 70% da força de trabalho mundial - 2,4 mil milhões de pessoas - correm actualmente um risco elevado de sofrerem calor extremo.
Em África, cerca de 93% da força de trabalho está exposta ao calor excessivo e 84% da força de trabalho dos Estados Árabes, segundo o relatório da OIT. O calor excessivo é responsável por quase 23 milhões de lesões no local de trabalho em todo o mundo e por cerca de 19.000 mortes por ano.
“Precisamos de medidas para proteger os trabalhadores, baseadas nos direitos humanos”, disse Guterres, apelando também aos governos para que “protejam do calor” as suas economias, sectores críticos como os cuidados de saúde e o ambiente construído.
As cidades estão a aquecer ao dobro da taxa média mundial devido à rápida urbanização e ao efeito de ilha de calor urbana. Até 2050, alguns investigadores estimam um aumento global de 700% no número de pessoas desfavorecidas que vivem cidades suportando condições de calor extremo.
"Precisamos de um sinal político e este é o sinal”, disse Kathy Baughman Mcleod, directora executiva da Climate Resilience for All, uma organização sem fins lucrativos centrada nos efeitos do calor extremo.
“É o reconhecimento da dimensão do problema e da sua urgência. É também o reconhecimento de que nem toda a gente se sente da mesma maneira e paga o mesmo preço por isso.”