Ucrânia exige “boa-fé” para negociar com a Rússia
Dmitro Kuleba esteve na China para mais um esforço de persuasão junto de Pequim para influenciar a Rússia. Moscovo diz estar aberta a negociações.
A Ucrânia diz estar disponível para negociar um cessar-fogo com a Rússia, mas quer ver “boa-fé” da parte do Kremlin, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, em visita à China esta quarta-feira.
O encontro de Kuleba com o homólogo chinês, Wang Yi, em Pequim, é o mais recente esforço por parte de Kiev de tentar persuadir a China a usar a sua influência para travar a agressão russa na Ucrânia, que dura há quase dois anos e meio.
Ao fim de três horas de reunião, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano emitiu uma nota em que dava conta da mensagem transmitida por Kuleba aos dirigentes chineses. A Ucrânia “está preparada para entrar num processo negocial com o lado russo a dada altura, quando a Rússia estiver preparada para negociar em boa-fé”, sublinhando, porém, que “essa vontade não é actualmente observada no lado russo”.
Kuleba é o dirigente ucraniano mais importante a visitar a China desde o início da invasão em larga escala, diz a Reuters. Kiev, tal como os seus aliados ocidentais, acredita que o regime chinês pode pressionar a Rússia a pôr fim à guerra, embora Pequim se apresente como um actor neutro neste conflito.
A Rússia tem na China um importante parceiro comercial e os dois países têm assinado vários acordos diplomáticos. A poucos dias do início da invasão, Xi Jinping e Vladimir Putin proclamaram uma “amizade sem limites” entre os dois regimes, que se unem nas críticas à hegemonia dos EUA na arena global.
A Rússia respondeu às declarações de Kuleba dizendo que a mensagem está “em uníssono” com a posição do Kremlin. “Sabem que o lado russo nunca rejeitou negociar, manteve sempre a abertura para um processo negocial, mas os detalhes são importantes e ainda não os conhecemos”, afirmou o porta-voz Dmitri Peskov.
Rússia e Ucrânia mantêm as suas posições e há poucos sinais de aproximação. Para Kiev é, neste momento, inaceitável negociar com a Rússia um acordo que não inclua a retirada imediata das tropas russas dos territórios ocupados; Moscovo considera as quatro regiões que ocupa parcialmente (Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporijjia) parte do seu território e quer o reconhecimento das anexações.
Apesar das diferenças nas posições dos dois países, nos últimos tempos parece haver sinais de que é possível retomar algum tipo de diálogo. A Ucrânia mostrou-se favorável à presença de representantes russos na próxima cimeira de paz – na primeira, em Junho, na Suíça, a Rússia não foi convidada.
Moscovo não rejeitou participar num eventual encontro, mas exigiu mais pormenores sobre a agenda em discussão. Ainda não há data para a conferência, mas o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apontou para Novembro.
A China chegou a apresentar um roteiro de paz para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, mas a linguagem era ambígua e não havia referência ao estatuto dos territórios ocupados por Moscovo.
Evitando usar o termo guerra, tal como a Rússia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês emitiu um comunicado em que garante estar empenhado em “promover uma solução política para a crise”.
Embora reconheça que “as condições e a altura não são ainda ideais”, a China diz apoiar “todos os esforços que conduzam à paz e está disponível para continuar a desempenhar um papel construtivo para a retoma das negociações de cessar-fogo e de paz”.