Entre Abril e Julho, as barragens sofreram redução de 12% no volume de água armazenada

Só na barragem do Alto Lindoso, no rio Lima, o consumo de água para a produção de energia atingiu os 30%. Em Alqueva a redução no nível de armazenamento ficou-se pelos 10%.

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No Sul é a agricultura que consome grande parte dos recursos hídricos retidos em 34 barragens Rui Gaudêncio
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No boletim semanal publicado pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) sobre os armazenamentos nas 81 barragens públicas nacionais é atribuída uma cor à cota de cada albufeira: o azul-escuro quando o volume de água supera os 80% ou o vermelho para as reservas abaixo dos 20%. Outras cores (azul claro, verde, amarelo e laranja) identificam valores de armazenamento intermédios.

Em meados de Abril, quando houve registo de mais intensa pluviosidade, o azul-escuro identificava a esmagadora maioria das albufeiras localizadas no Centro e Norte do país, tonalidade que era extensiva a 17 albufeiras das 34 situadas no Sul do país, onde se constatava uma menor variedade de cores, devido ao maior volume de água armazenado.

Terminado o primeiro semestre de 2024, o azul-escuro continua a ser dominante nas albufeiras das bacias do Cávado, Douro, Mondego e Tejo, mas no Sul o país regressou ao vermelho e está patente uma maior percentagem de azul claro, amarelo e laranja. Feitas as contas às reservas de água nas 81 barragens monitorizadas pelo SNIRH observa-se, entre 15 de Abril e 22 de Julho, uma redução global de 1768 hm3 (12%) do valor referência que é de 13.274 hm³.

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Aumentar

Em relação a igual período de 2023 há um acréscimo de 460 hm3, uma pequena folga que, no entanto, não garante tranquilidade. O calor está a regressar em força e os consumos de água para a produção de energia, o regadio, o consumo humano, industrial e turístico (além das perdas por evapotranspiração) vão aumentar e rapidamente devem anular a folga deixada pela forte precipitação atmosférica registada nos meses de Março, Abril e Maio. Só em Alqueva são esperadas perdas de 44 hm3.

O SNIRH confirma que a 22 de Julho de 2024 verificou-se o aumento do volume armazenado em 2 bacias hidrográficas (Lima e Ave) e a diminuição em 13 (Cávado, Douro, Vouga, Mondego, Tejo, Ribeiras do Oeste, Sado, Ribeiras da Costa Alentejana, Mira, Guadiana, Arade, Ribeiras do Barlavento e Ribeiras do Sotavento). E das albufeiras monitorizadas, 47% apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total (em meados de Abril era de 70%), e 13% têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total (naquele mês era de apenas 5%).

Diferentes regiões, diferentes consumos

Analisando o tipo de consumo, a água concentrada nas 47 barragens do Centro e Norte do país é utilizada, na sua esmagadora maioria, em produção de energia, fornecimento para consumo humano e muito pouco para rega. A Sul é a agricultura que consome grande parte dos recursos hídricos retidos em 34 barragens, seguindo-se o consumo humano e a indústria (complexo de Sines).

A albufeira do Alto Lindoso, no rio Lima, destaca-se por ter debitado para a produção de energia cerca de 60 hm3 durante a segunda quinzena de Abril (16% do seu armazenamento) e em Junho este nível de consumo foi superado atingindo quase 90 hm3 (23%), passando no espaço de dois meses do azul-escuro para o amarelo. Neste momento, apresenta 168 hm3 cúbicos quando a sua capacidade máxima é de 379 hm3.

Embora em menor escala, outras barragens perderam igualmente cota para a produção de energia: Venda Nova e Vilarinho das Furnas na bacia do Cávado; Guilhofrei na bacia do Ave; Torrão, Varosa e Vilar-Tabuaço na bacia do Douro; Raiva na bacia do Mondego e Cabril e Pragana. Os caudais para rega no Sul do país foram mais acentuados nas albufeiras Maranhão e Montargil, na bacia do Tejo, e no Pego do Altar, Vale de Gaio, Campilhas, Monte Miguéis, Odivelas e Roxo, na bacia do Sado.

Volta a ameaça da escassez

Na bacia do Guadiana o registo de consumos para o regadio foi mais significativo nas barragens de Abrilongo, Beliche, Caia, Lucefecit, Monte Novo e Vigia. Entre meados de Abril e 22 de Julho, a albufeira de Alqueva teve uma descida de 10% na sua cota que equivale 422 hm3, reserva de água que foi destinada ao regadio, produção de energia, consumo humano e caudal ecológico, com um acréscimo de uma descarga de 45 hm3 realizada em Março para “assegurar a manutenção do regime natural” no curso internacional do rio Guadiana entre o Pomarão e Vila Real de Santo António.

A ameaça de escassez de água volta a colocar-se no horizonte do mundo agrícola alentejano e algarvio, com os agricultores a insistir no aumento da dotação de água a fornecer por Alqueva que neste momento é de 590 hm3 para rega e 30 hm3 para abastecimento público e industrial. No entanto, o Plano Anual de Utilização de Água no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), programado para 2024, não prevê quaisquer alterações às dotações previstas para as culturas regadas, nem qualquer aumento no título de utilização de recursos hídricos (590+30 hm3), gerido pela EDIA.

Nesta fase da implementação do empreendimento de Alqueva, a EDIA deixa claro que “já não é viável a autorização de novas áreas regadas a título precário com culturas permanentes (olival, amendoal, vinha e frutícolas) estando igualmente vedada a reconversão da cultura permanente já instalada”.

Na região algarvia, o estado dos recursos hídricos agravou-se com a chegada do Verão, com os maiores consumos observados nas barragens de Odeleite e do Funcho e o regresso da barragem da Bravura ao vermelho de onde tinha saído em Abril.