Juiz que investiga mulher de Sánchez quer ouvir chefe do Governo como testemunha

Magistrado aceita petição das acusações populares, encabeçadas pelo partido de direita extremista Vox. PP pede demissão de Sánchez.

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Sánchez e Begoña Gómez, no décimo aniversário da proclamação do rei Felipe VI, o mês passado Juan Medina/Reuters

O jornal El País fala num “passo de gigante” na investigação por crimes de tráfico de influência e corrupção empresarial contra Begoña Gómez: o juiz Juan Carlos Peinado decidiu interrogar Pedro Sánchez como testemunha e quer ouvi-lo já na próxima semana, dia 30 de Julho, no Palácio da Moncloa, sede do Governo de Espanha.

No Partido Popular voltou a pedir-se a demissão de Sánchez. “Chegou o momento da terceira e última carta, caro Pedro”, reagiu, na rede X (antigo Twitter), o porta-voz dos conservadores no Congresso, Miguel Tellado. A formação radical Vox festejou a decisão do juiz na mesma rede. “Graças ao VOX, Pedro Sánchez terá de declarar como testemunha na alegada corrupção da sua mulher”, lê-se na conta do partido. “Não descansaremos enquanto não desalojarmos o clã corrupto que ocupa a Moncloa e o fizermos pagar em tribunal”, afirmou ainda o porta-voz nacional, José Antonio Fúster, em declarações aos jornalistas.

A referência à “terceira carta” – a carta de demissão – tem sido frequente por parte da oposição, depois da Carta à Cidadania publicada por Sánchez em Abril, quando explicou que cumpriria cinco dias de reflexão para decidir se permanecia no Governo, anunciando depois que ficava, “se possível, ainda com mais força”. Foi precisamente a investigação a Begoña Gómez que o levou a querer “parar e reflectir” se valia a pena continuar face ao “assédio” de que diz ser “alvo há dez anos”, uma “campanha de perseguição e difamação” que acusa o PP e o Vox de promoverem.

A decisão do magistrado do 41.º Tribunal de Instrução de Madrid consta de uma resolução emitida ainda na sexta-feira, a pedido da acusação, lidera pelo Vox, depois de a mulher do líder socialista ter comparecido em tribunal e invocado o seu direito de não depor.

“Considera-se conveniente, útil e pertinente receber o depoimento do marido da arguida, Pedro Sánchez Castejón”, escreveu o juiz, explicando que aceita deslocar-se e recolher e o depoimento do chefe de Governo na Moncloa e que quer gravar o interrogatório – para isso, pede à polícia de Madrid e aos serviços informáticos da comunidade que instalem o equipamento necessário.

Foi no fim de Maio que o tribunal da capital decidiu avançar com a investigação, rejeitando o pedido de arquivamento do Ministério Público e considerando que a denúncia apresentada pelo autodenominado sindicato Mãos Limpas, ligado à direita radical, continha “indícios objectivos” de que poderá ter sido cometido um crime.

Ao Mãos Limpas (dirigido por Miguel Bernard Remón, antigo secretário-geral da Frente Nacional, partido de extrema-direita que sucedeu à Fuerza Nueva, de Blas Piñar López) associaram-se, entretanto, o Movimento de Renegação Política de Espanha, o Partido Justiça Europa e o Vox, de Santiago Abascal, o terceiro maior partido do Congresso espanhol, com 33 deputados.

A denúncia baseia-se unicamente em notícias de jornais digitais que Bernard Remón admite poderem ser falsas.

Gómez esteve pela primeira vez em tribunal no dia 5 de Julho, quando disse que não tinha sido notificada sobre uma nova queixa, da organização ultracatólica Hazte Oír, que o juiz Peinado aceitara, entretanto, incorporar à denúncia origina, ficando o depoimento marcado para dia 19. “A minha representada não declarou não por ter algo a esconder, mas porque esta defesa lhe recomendou que não fizesse esta declaração”, afirmou aos jornalistas o seu advogado, Antonio Camacho, à saída do tribunal, na sexta-feira.

"Caça política"

A primeira reacção do Governo chegou pela voz da vice-presidente Yolanda Díaz (líder do movimento de esquerdas Sumar, parceiro júnior da coligação com o PSOE), que sublinhou o seu “espanto” face à resolução de Peinado.

“Estou verdadeiramente espantada. Tenho muita experiência profissional na prática diária dos tribunais e permitam-me que vos diga que estou estupefacta com o que está a acontecer com este caso”, afirmou a também ministra do Trabalho e da Economia Social, que é advogada. Questionada pelos jornalistas, Díaz disse acreditar que Sánchez e Gómez “vão fazer o que têm de fazer, defender-se”, insistindo no seu “espanto” que, explica, “diz absolutamente tudo” o que pensa sobre o assunto. “Insisto, não vi nenhum caso semelhante”, repetiu.

Já o porta-voz dos socialistas no Congresso, Patxi López, acusou o PP de estar a usar esta investigação “para ver se algum juiz acusa Pedro Sánchez": “Em Espanha, é proibido fazer uma investigação prospectiva para ver se se encontra alguma coisa. O que não é ético e é indecente e imoral é a caça política que Begoña Gómez está a sofrer”, sublinhou, numa conferência de imprensa.

Para López, este caso não passa “de uma armadilha da extrema-direita”, “uma armadilha intolerável dos que querem ganhar em tribunal o que não ganharam nas urnas”.

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