Hungria não pode desqualificar a política da UE para a Ucrânia, lembra Borrell

Alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE cancela reunião informal em Budapeste e convoca ministros para Bruxelas.

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Josep Borrell: “A UE não é pró-guerra. Putin é que é pró-guerra” OLIVIER MATTHYS / EPA
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Boicotar, ou não boicotar, as reuniões informais de ministros organizadas pela presidência húngara do Conselho da União Europeia: esta foi uma das questões em cima da mesa, esta segunda-feira, quando os 27 ministros dos Negócios Estrangeiros se juntaram, em Bruxelas, para falar, como habitualmente, sobre os últimos desenvolvimentos na guerra na Ucrânia.

A questão levantou-se por causa das reuniões informais dos ministros dos Negócios Estrangeiros (conhecida como Gymnich) e da Defesa, agendadas para o fim de Agosto, em Budapeste. O alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Josep Borrell, que é quem dirige estas duas formações do Conselho da UE, ouviu os argumentos apresentados por todos os Estados-membros, a favor e contra, e decidiu em conformidade.

“Decidi convocar estas reuniões informais em Bruxelas”, informou o chefe da diplomacia europeia, recusando usar a palavra boicote. Para Borrell, trata-se de um “sinal simbólico” que entendeu ser fundamental enviar ao Governo de Viktor Orbán, para o lembrar do “dever de lealdade” que está previsto nos tratados, e lhe mostrar que “não se pode desqualificar a política da União Europeia sem consequências”.

Como 25 dos 27 ministros dos Negócios Estrangeiros, Borrell criticou duramente a auto-intitulada “missão de paz 2.0” do primeiro-ministro húngaro, que logo depois de assumir a presidência rotativa da UE decidiu viajar até Moscovo e Pequim para “avaliar” as condições políticas para um eventual acordo que ponha fim à guerra na Ucrânia.

Uma iniciativa unilateral que o alto representante qualificou como “completamente inaceitável” e que todos os ministros lamentaram, excepto o da Eslováquia. “A esmagadora maioria dos Estados condenaram as iniciativas do primeiro-ministro Orbán no quadro das relações para a Ucrânia e foi uma condenação que não deixou margem para dúvidas”, revelou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.

Portugal acompanhou a condenação generalizada, com Rangel a criticar as posições públicas assumidas pelo Governo húngaro, em evidente “contradição com a visão sobre a forma como se deve lidar com o conflito, que está mais do que estabelecida em imensas posições do Conselho Europeu, do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia”.

O ministro lembrou que a presidência rotativa não outorga à Hungria nenhuma competência em termos de política externa, e disse que Portugal se juntou aos restantes parceiros na crítica à “diligência junto da Rússia que, no quadro daquilo que são as decisões prévias da UE, não devia ter tido lugar”.

Paulo Rangel reiterou ainda aquela que é, para já, a “doutrina” do Governo relativamente à participação nas reuniões informais do Conselho da UE na Hungria. “Sem prejuízo de uma avaliação caso a caso, sujeita a revisão permanente, e em função dos desenvolvimentos, do diálogo permanente entre os Estados-membros e até da agenda, Portugal estará representado a nível político mas não a nível ministerial”.

Mas não foi só o périplo de Orbán que incomodou os parceiros europeus. Josep Borrell também se referiu às palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Péter Szijjártó, que a convite do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, se dirigiu ao Conselho de Segurança da ONU, para “acusar a UE de empurrar a Ucrânia para a guerra”. “A UE não está a pressionar para a guerra. A UE está na guerra a defender a Ucrânia de uma agressão”, corrigiu.

​Em nome próprio, e dos 25 ministros da UE que censuraram as palavras do responsável, o alto representante disse que “só há uma parte que está a pressionar para a guerra”: a Rússia. “A UE não é pró-guerra. Putin é que é pró-guerra”, observou.

À saída da reunião, o ministro húngaro defendeu a “estratégia de paz” de Viktor Orbán, com a reabertura de canais diplomáticos com a Rússia e a realização de consultas políticas com a China, e insistiu que o líder do Governo de Budapeste “nunca afirmou representar a UE” nos seus encontros com os Presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping.

“A Hungria enfrentou uma histeria agressiva e belicista sobre a sua missão de paz na reunião desta segunda-feira”, contra-atacou Péter Szijjártó, classificando a decisão anunciada por Borrell como “infantil”.

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