Paris 2024: uma cerimónia de abertura “à grande e à francesa”

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos o espectáculo que marca o início da competição irá decorrer fora de um estádio.

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Paris prepara-se para o começo dos Jogos Olímpicos Athit Perawongmetha / REUTERS
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Os anéis olímpicos na Torre Eiffel Fabrizio Bensch / REUTERS
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Extravagância. É isto que a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024 promete aos mais de mil milhões de espectadores que se estima que assistam ao espectáculo um pouco por todo o mundo na próxima sexta-feira, dia 26. Ou não se estivesse na capital francesa, famosa por essa aura de excentricidade. O que se espera, por isso, é um evento “à grande e à francesa”.

Pela primeira vez na história, a cerimónia de abertura de uns Jogos Olímpicos não se realizará num estádio. Em vez disso, dezenas de barcos transportarão milhares de atletas e artistas num desfile sobre as águas do rio Sena, numa extensão de seis quilómetros.

Partindo da ponte Austerlitz, as comitivas com atletas de todos os países navegarão desde a zona fronteira à catedral de Notre-Dame de Paris e chegarão perto da Torre Eiffel, depois de passarem por algumas das pontes mais emblemáticas da capital francesa, como a Pont des Arts e a Pont Neuf, para além de muitos outros marcos arquitectónicos parisienses.

Os organizadores do evento prometem que vão aproveitar os monumentos históricos, as margens do rio, o céu e a água "e não haverá uma única margem de rio ou ponte que não esteja repleta de música, dança ou performances".

O espectáculo será “um grande fresco” celebrando Paris, França e os Jogos e entrelaçará o desfile de atletas, as performances artísticas e os elementos de protocolo, disse Thomas Jolly, director artístico da cerimónia de abertura e habituado a grandes projectos teatrais que já lhe valeram a conquista de três Molière, o mais importante galardão francês no campo do teatro. Mas há ainda detalhes em segredo, incluindo o nome de alguns dos artistas participantes.

A cerimónia está prevista começar às 19h24 e vai durar pouco menos de quatro horas. O clímax será por volta das 21h35, quando o sol se põe, adiantaram também os organizadores do evento.

O espectáculo contará com a presença de mais de 100 chefes de Estado e de Governo e mais de 300 mil espectadores assistirão ao longo das margens do rio Sena. No percurso haverá cerca de 80 ecrãs gigantes para que todos os detalhes da cerimónia possam ser apreciados.

Os barcos que transportam os atletas também serão equipados com câmaras para permitir que quem assiste pela televisão ou pela Internet possa ver de perto o que se passa entre os atletas.

Inicialmente, apontava-se para que assistissem ao vivo cerca de 600 mil pessoas, mas questões de segurança e de logística (dado que o sistema de transportes parisiense não é tão fiável como o desejável face a uma procura desta dimensão) levaram a que as ambições iniciais fossem reduzidas. Mesmo assim, as anteriores cerimónias de abertura realizadas dentro de estádios tiveram sempre uma moldura humana inferior aos 100 mil espectadores.

Bilhetes para o espectáculo que vai decorrer ao longo do Sena já são só uma miragem. A partir de Maio de 2023 foram colocados à venda 104 mil ingressos para as áreas mais próximas do plano de água, com preços entre os 90€ e os 2700€. E estavam apenas disponíveis a quem previamente se tivesse registado, sendo a sua atribuição sujeita a sorteio.

Para aqueles que não conseguiram o desejado bilhete nesta fase inicial houve outra hipótese de garantir um lugar na cerimónia, embora em áreas mais elevadas das bancadas. Isto porque foram entregues 222 mil bilhetes a cidades francesas e outras entidades envolvidas na organização do evento que depois os entregaram de forma gratuita a quem entenderam.

Segurança, uma dor de cabeça

Organizar uma cerimónia com esta dimensão no coração de uma cidade como Paris pode dar excelentes fotografias, mas é também um enorme desafio de segurança. Serão enviados cerca de 45 mil polícias para garantir a segurança do evento, incluindo forças especiais e de intervenção. Atiradores serão posicionados no topo de edifícios ao longo do percurso e um sistema anti-drone estará instalado.

Os espectadores e residentes locais terão de ser portadores de passes nos quais estará um código QR que lhes permite chegar perto das margens do rio e aceder às suas habitações a partir de 18 de Julho. Os carros não serão permitidos na área em que se vai realizar o evento, havendo poucas excepções. As estações de metro próximas serão encerradas, assim como muitas das pontes. E, neste momento, a França já tem o seu alerta de segurança no seu nível mais elevado.

As autoridades francesas disseram que, até ao momento, não houve ameaças terroristas específicas visando a cerimónia de 26 de Julho, e asseguraram que caso surjam preocupações específicas, existem planos alternativos, que limitariam a cerimónia à praça Trocadero, perto da Torre Eiffel, ou ao estádio Stade de France.

O principal risco potencial seria o de um agressor solitário, disseram as autoridades nos últimos meses, ao mesmo tempo que sinalizam potenciais pequenos crimes e possíveis protestos, de activistas ambientais, da extrema direita e da extrema esquerda, do movimento pró-Palestina ou outros.

Por enquanto, o único incidente registado ocorreu em Maio, quando um homem foi detido em Saint-Étienne, suspeito de planear um ataque em nome do Estado Islâmico no estádio de futebol da cidade durante os Jogos Olímpicos.