Estilo e virtuosismo no Festival da Póvoa de Varzim

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Sergei Nakariakov, a OCP e, à direita, o maestro Pedro Carneiro FIMPV
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A 46.ª edição do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim (FIMPV), que se prolonga até ao próximo sábado, recebeu a Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP) e o virtuoso trompetista russo Sergei Nakariakov para um concerto que já havia quase esgotado, antes de anunciada a afinal não concretizada vinda de Martha Argerich (questões de saúde impediram-na de visitar agora a Póvoa de Varzim, aguardando-se a vinda da pianista numa futura edição do festival).

À frente da orquestra e de frente para o público, munido de dois tímpanos clássicos, Pedro Carneiro dirigiu a “Serenata notturna” em ré maior K239 (1776), de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Embora a opção de colocar os tímpanos à frente (e não atrás da orquestra) não esteja relacionada com a acústica do Cine-Teatro Garrett, o facto é que isso evitou a falsa sensação de amplificação da percussão que o público do FIMPV presenciou dias antes, com a Orquestra XXI.

Sergei Nakariakov entrou, de seguida, para a interpretação da transcrição para fliscorne e orquestra (elaborada por seu pai, Mikhail Nakariakov) do Concerto para violoncelo e orquestra n.º 1, em dó maior, Hob. VIIb (1765), de Joseph Haydn (1732-1809).

Tal como em Mozart, a orquestra mostrou-se em perfeita harmonia com o estilo clássico. Muito assertivo, o solista brilhou nos três andamentos (todos eles pontuados por aplausos do entusiástico público), fazendo parecer naturalíssimas todas as passagens mais acrobáticas. Findo o Concerto de Haydn, e certamente com o propósito de exibir o virtuosismo do trompetista, OCP e Nakariakov interpretaram ainda mais uma transcrição da peça que o violinista romeno Grigoraș Dinicu (1889-1949) criou como número extra para concertos, que o celebrizou: Hora staccato (1906). E, não fosse dar-se o caso de o público não estar ainda completamente rendido aos encantos da estrela, Carneiro e Nakariakov regressaram mais uma vez ao palco para interpretar a Ária da Suite N.º 3 BWV 1068, de Johann Sebastian Bach (1685-1750) – estes dois números de Dinicu e Bach são, aliás, frequentemente revisitados nos espectáculos de Nakariakov.

Na segunda parte do concerto, a OCP regressou ao estilo clássico com o primeiro andamento da Sinfonia “La Casa del Diavolo”, op. 12 n.º 4, em ré menor (1771): andante sostenuto – allegro assai. A noite clássica, com notas de ilusionismo, terminaria com a interpretação de mais uma partitura: a Sinfonia n.º 59 em lá maior Hob. I:59 “Feuersymphonie”.

O que se constata é que, ao longo dos anos, Pedro Carneiro não perde a vitalidade e traz para a direcção de orquestra a mesma exigência que tem para consigo próprio enquanto solista. O seu profundo conhecimento das partituras e do estilo não parece, no entanto, encontrar total correspondência no resultado sonoro das cordas.

O festival prossegue com diversos concertos entre a Igreja de S. Pedro de Rates, Cine-Teatro Garrett, Igreja Matriz e Parque da Cidade da Póvoa de Varzim, com destaque para os programas de quarta e quinta-feira com Barnabás Kelemen.

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