Ex-deputada ultranacionalista ucraniana morta a tiro em Lviv

Irina Farion era conhecida pelas posições radicais em relação ao uso da língua ucraniana e chegou a criticar militares que falam russo. Polícia acredita em crime com motivações políticas.

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Irina Farion era uma defensora acérrima do uso da língua ucraniana Roman Baluk / REUTERS
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Uma ex-deputada ucraniana conhecida pelas ideias ultranacionalistas e defensora do uso da língua ucraniana foi abatida a tiro em Lviv na sexta-feira. As autoridades acreditam que o assassínio foi politicamente motivado.

Irina Farion, de 60 anos, foi baleada numa rua de Lviv, cidade no extremo ocidental da Ucrânia, na sexta-feira, tendo morrido dos ferimentos a caminho do hospital. A polícia lançou uma operação para encontrar o autor do disparo, mas há poucas pistas porque uma falha electrónica no momento do crime afectou o sistema de videovigilância.

O ministro do Interior, Ihor Klimenko, disse que “este não foi um assassínio espontâneo” e poderá ter sido encomendado por algum adversário político da ex-deputada. “Temos várias versões [para as causas do crime]. As principais estão [ligadas] às actividades políticas e sociais e a inimizades pessoais”, explicou Klimenko.

Farion era especialista em Linguística e notabilizou-se por ser uma defensora acérrima da língua ucraniana. Em 2012 foi eleita para o Parlamento pelo partido Svoboda (Liberdade), da direita ultranacionalista, concentrando-se na promoção do ucraniano e condenando o uso da língua russa na Ucrânia.

Em 2018, Farion apelou a que se desse “um murro a cada falante de russo” e já depois do início da invasão em larga escala protestou contra o uso de russo por soldados das forças ucranianas. O russo, disse uma vez, é “a língua do inimigo, que me mata, discrimina, insulta e viola”. “Quão loucos podem ser vocês para combater no Exército ucraniano e falar russo?”

O tema é sensível num país em que grande parte da população continua a usar o russo como língua principal, apesar da promoção cada vez mais intensa por parte das autoridades do ucraniano – desde 2019 que a língua ucraniana é o idioma oficial do Estado, retirando ao russo o estatuto de segunda língua.

A forma agressiva com que Farion defendia o uso do ucraniano era vista pelos seus críticos como demasiado radical e polarizadora, semeando receios de aprofundar as divisões entre falantes de ucraniano e de russo. Farion chegou a ser demitida da universidade onde trabalhava, mas uma decisão de um tribunal de recurso permitiu que regressasse.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, condenou o assassínio e afirmou que “quem quer que seja o culpado por este ataque deve arcar com todas as responsabilidades”.

O Svoboda acusou a Rússia de estar por trás do homicídio que aconteceu no “templo da língua ucraniana”.

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