"É importante perceber que houve sempre um apelo. As pessoas continuaram a querer ouvir-nos e a chamar-nos. Por outro lado, quando a gente se reunia, era sempre bom para nós", diz Manel Cruz, cujas letras se tornaram companhia para cada vez mais pessoas.

A reunião dos Ornatos Violeta em 2012 podia ter sido uma, duas, três noites fugazes. Mas eles foram ficando entre nós e, com o tempo, tornou-se claro: a banda do Porto inaugurara uma segunda vida.

Chegados a 2024 e podemos afirmar com confiança: os festivais precisam de Ornatos. Mas também precisam dos Da Weasel. Ou dos Mind da Gap, que voltam à vida este sábado. Ou de velhas glórias de outros países cujos álbuns atravessam gerações. O Monstro Precisa de Amigos (1999), que será revisitado este domingo no festival Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, é um desses discos.

Com apenas dois álbuns no currículo (O Monstro e Cão!, de 1997), os Ornatos Violeta "nunca provaram o sabor amargo do insucesso e da irrelevância. Acabam quando estavam no auge", disse ao jornalista Luís Filipe Rodrigues o radialista e divulgador de música portuguesa Henrique Amaro.

A história da segunda vida dos Ornatos (que pode vir a incluir novas canções – já gravaram algumas, revelam ao Ípsilon) é também a história de um circuito de música ao vivo que explora a nostalgia – do que se viveu e também, paradoxalmente, do que não se viveu. No primeiro concerto que deram este ano, no Rock in Rio Lisboa, "estava um pai com uma menina de mais ou menos dez anos às cavalitas, os dois a cantarem as letras". Já passou quase um mês e esta imagem ainda não saiu da cabeça do baixista Nuno Prata.

Outro nome forte da música portuguesa dos anos 90 volta aos palcos. Depois de um "fim abrupto e inexplicável", os Mind da Gap ressurgem como estrelas no cartaz do Super Bock Super Rock (Meco, Sesimbra). O hip-hop de hoje, o prato do dia do mainstream, não será o deles, disseram na conversa com Rodrigo Nogueira. "Os putos não sabem quem são os Mind da Gap", frisou DJ Serial. Excesso de humildade para uma banda fundamental da história do rap em Portugal?

No projecto ROOF, agora em livro, Mário Cruz revela o lado "invisível" da crise da habitação em Lisboa. Entre 2013 e 2023, fotografou moradores de edifícios devolutos da capital, pessoas "quase invisíveis na nossa sociedade".

Os artistas João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira mostram 20 anos de obra (e vida) conjunta na Casa de Serralves, agora Casa Vale Ferreira. Aproveitaram para dar o nó, que quem tem casa quer casar.

Com Tati Bernardi aprendemos nomes de fármacos para a ansiedade. No primeiro romance, Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, agora reeditado, a brasileira desmonta a ideia da maternidade perfeita. Escreve também para jornais, cinema, teatro e televisão. Quase sempre sobre si mesma. "Sou uma exibicionista de defeitos, de buracos, de mazelas psíquicas, sou uma exibicionista de tudo o que deu ou pode dar errado. E acho que isso conquista."

Também neste Ípsilon:

- A exposição de Daniel Blaufuks no MAAT;

- Um planeta a aquecer: entrevista com Jeff Goodell, autor do livro O Calor É Que Te Vai Matar. E outras maneiras de viver na natureza: o documentário Yupumá, de Verónica Castro em colaboração com Kawá Huni Kuin, sobre um povo indígena da Amazónia brasileira;

- Cinema: recensões a Um Domingo Interminável; A Minha Avó Trelotótó; Memória; Tornados; e Podia Ter Esperado por Agosto;

- Livros: o derradeiro romance de Mario Vargas Llosa e Além da Memória, de Sebastian Barry;

- Festival Músicas do Mundo de Sines: entrevistas com a porto-riquenha iLe e com os palestinianos DAM e Haya Zaatry (ainda só disponíveis na edição impressa).

... e não só. Boas leituras!


Ípsilon no Spotify: as nossas escolhas; Leituras: o nosso site de livros; Cinecartaz: tudo sobre cinema