Morreu o secretário-geral do Partido Comunista e uma das figuras mais poderosas do Vietname

No cargo desde 2011, Nguyen Phu Trong também foi Presidente do país e liderou uma enorme campanha anti-corrupção dentro do partido. Morreu os 80 anos “devido a idade avançada e a uma doença grave”.

Foto
Discurso de Nguyen Phu Trong em 2021, depois de ter sido reconduzido a um inédito terceiro mandato como secretário-geral do PCV Kham / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:19

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Partido Comunista do Vietname (PCV) anunciou a morte do seu secretário-geral, Nguyen Phu Trong, uma das figuras políticas mais poderosas da última década no país asiático, “devido a idade avançada e a uma doença grave”. O antigo Presidente tinha 80 anos e sua morte, nesta sexta-feira, acontece num momento de enorme instabilidade interna no partido.

Na véspera, o Governo vietnamita já tinha revelado que o Presidente vietnamita, To Lam, ia assumir interinamente as funções do secretário-geral no Comité Central, no Politburo e no secretariado do PCV, para Trong se “focar num tratamento activo”. Para além disso, agraciou o líder comunista com a “Estrela Dourada”, a mais alta condecoração do Estado, pelos serviços prestados “ao partido e ao país”.

Citado pela Reuters, o comunicado diz que Trong foi “tratado com todo o empenho pelo partido, pelo Estado e por um grupo de professores, médicos e especialistas em Medicina”, mas que acabou por não resistir à doença; que não revela qual é.

Nascido em 1944, ainda no período colonial francês da antiga Indochina, Nguyen Phu Trong ocupava os cargos de secretário-geral e de secretário da Comissão Militar do PCV desde 2011 e foi Presidente do país entre 2018 e 2021.

Dentro ou fora do Palácio Presidencial, em Hanói, foi sempre uma figura influente e orientadora da governação política de um Estado que não realiza eleições livres, onde há pouca liberdade individual e cujas autoridades são acusadas por organizações como a Human Rights Watch de violações continuadas de direitos humanos.

Trong foi, no entanto, um dos principais responsáveis pela abertura económica do Vietname, tanto aos aliados históricos, como a República Popular da China ou a Federação Russa (sucessora da União Soviética), como aos Estados Unidos, que permitiram à economia do país crescer consideravelmente durante a última década.

Nos últimos tempos, deixou de aparecer tantas vezes em público, tendo chegado a admitir que estava com problemas de saúde. Uma das últimas vezes em que foi visto num evento político foi no final de Junho, aquando da visita de Estado o Presidente russo, Vladimir Putin, ao Vietname.

Lembrando que Trong foi o primeiro secretário-geral do PCV a visitar os EUA, em 2015, a embaixada norte-americana em Hanói reagiu à sua morte através de um comunicado, descrevendo-o como um “líder visionário que serviu, durante décadas, como uma ponte entre o Vietname e os EUA”.

Citado pela imprensa estatal chinesa, o Partido Comunista Chinês (PCC) falou de Trong como um “bom camarada, irmão e amigo” de Pequim e como um “marxista convicto”.

“Fim de uma era”

Em 2021, Trong foi reconduzido a um inédito terceiro mandato, depois de uma alteração às regras internas do partido, que apenas permitiam ao líder do PCV exercer dois mandatos. As parecenças com o percurso de Xi Jinping, secretário-geral do PCC e Presidente da China, que também beneficiou de alterações constitucionais e regulamentares para se manter no poder e com quem Trong criou uma boa relação, não se ficam por aí.

Tal como Xi, uns anos antes, o líder vietnamita impôs em 2017 uma enorme campanha anti-corrupção dentro do PCV, que, segundo as contas da BBC, atingiu cerca de 200 mil funcionários do partido, incluindo ministros, um presidente do Parlamento e dois Presidentes (Nguyen Xuan Phuc e Vo Van Thuong), mas também empresários e outras figuras influentes do país.

“[Nguyen Phu Trong] sempre acreditou tornar o partido limpo e relevante, para que pudesse liderar o país durante ‘mais mil anos’ – a expressão é dele. Olhava para o destino do PCV e da nação como estando ligados”, diz Giang Nguyen, investigador do Instituto de Estudos do Sudeste Asiático (Singapura) e antigo editor da BBC no Vietname, citado pela emissora pública britânica.

A morte de Trong, nesta sexta-feira, acontece num período de enorme turbulência dentro do PCV. Depois dos afastamentos de Phuc em 2022 e de Thuong em Março deste ano, por alegados envolvimentos em actos de corrupção e de suborno, que obrigaram a vice-presidente, Vo Thi Anh Xuan, a assumir duas vezes a presidência interina, o partido virou-se em Maio para To Lam, que liderava a poderoso agência de segurança do país e do qual se espera que consiga repor e manter a ordem interna.

“É o fim de uma era. Aquela versão do comunismo e do socialismo de antigamente já não existe. O que acontecerá daqui para a frente é muito difícil de prever”, diz Giang Nguyen, argumentado que, apesar de “o sistema continuar a existir”, já não está tão agarrado “a ideologia e a ideais”.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários