Mais de 200 migrantes desembarcaram esta sexta-feira na Gran Canária

Apesar de extremamente perigosa, a rota migratória com destino às Canárias tornou-se a principal porta de entrada em Espanha para migrantes oriundos da África Ocidental.

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A bordo da embarcação que chegou a Las Burras seguiam mais de 60 pessoas Borja Suarez / REUTERS
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As autoridades foram alertadas por moradores, que viram passar o barco antes de acostar Borja Suarez / REUTERS
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Um grupo de crianças observa enquanto os migrantes são assistidos pelos serviços de urgência Borja Suarez / REUTERS
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Um agente da polícia segura o bebé que vinha a bordo da embarcação Borja Suarez / REUTERS
Praia de las Burras
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O desembarque surpreendeu os primeiros veraneantes da manhã Borja Suarez / REUTERS
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Um homem que vinha a bordo da embarcação descansa na areia de Las Burras Borja Suarez / REUTERS
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Uma embarcação de madeira com mais de 60 migrantes a bordo deu à costa numa praia turística da ilha espanhola de Gran Canária por volta das 8h15 desta sexta-feira, quando já se encontravam alguns veraneantes no local. Os serviços de emergência também já estavam a postos, uma vez que, segundo o jornal regional La Provincia, várias pessoas tinham ligado para o 112 depois de se aperceberem da passagem do barco por outra praia.

Entre as mais de 60 pessoas que chegaram à praia de Las Burras – as fontes divergem quanto ao número exacto – estava pelo menos um bebé de três meses, que aparentava estar bem e foi transportado para o hospital com a mãe apenas por precaução. Mas duas pessoas a bordo encontravam-se em estado crítico e pelo menos cinco em estado grave.

Para o local foi mobilizado um grande dispositivo de emergência, que incluiu um helicóptero e ambulâncias de várias proveniências. Os migrantes que não precisaram de ser assistidos nos hospitais da ilha ficaram a descansar no areal, onde uma fotojornalista da Reuters os captou. Uma das fotografias mostra um homem deitado de barriga para baixo, o corpo meio coberto de areia, segurando um telemóvel, em pose exausta.

Quase à mesma hora a que esta embarcação chegava à praia, os meios oficiais de salvamento marítimo acompanhavam outro barco para o porto de Arguineguín, também no sul da ilha, a cerca de 50 quilómetros da capital, Las Palmas. A bordo desta seguiam pelo menos 145 pessoas, das quais três são crianças.

Pela sua proximidade ao continente africano, o arquipélago das Canárias começou a tornar-se apetecível como porta de entrada na Europa sobretudo durante a pandemia. A chamada “rota atlântica” a partir de países da África Ocidental praticamente não tinha expressão nas chegadas a Espanha até 2019, mas a partir de 2020 começou a suplantar as rotas do Mediterrâneo. Em 2023, de acordo com os dados da Organização Internacional das Migrações (OIM), 70% dos migrantes que chegaram ao país vizinho fizeram-no através das Canárias. No primeiro trimestre deste ano, 81% de todas as chegadas a Espanha foram pelo arquipélago.

Os migrantes partem de sítios tão longínquos como a Guiné Conacri (a mais de 2400 quilómetros) e nem todos se lançam ao mar apenas em Marrocos, onde a proximidade às Canárias é maior (ainda assim, são 100 quilómetros de distância). Há casos documentados de embarcações a partirem da Mauritânia, do Senegal, da Guiné-Bissau, a milhares ou centenas de quilómetros do arquipélago espanhol, o que torna o trajecto muito perigoso. As embarcações, geralmente pequenas e sobrelotadas, ficam sujeitas às correntes e ventos da costa atlântica e muitas naufragam ou têm de ser socorridas pelas guardas costeiras.

No ano passado, pelo menos 959 pessoas morreram ou desapareceram a caminho das Canárias, segundo a OIM, o que fez desta a segunda rota mais mortífera com destino à Europa (só ultrapassada, e largamente, pela rota do Mediterrâneo central).

O principal ponto de chegada dos barcos com migrantes nas Canárias é a pequena ilha de El Hierro, a mais afastada de África, onde até ao fim de Fevereiro tinham aportado mais de seis mil pessoas (de um total de 11 mil que chegaram às Canárias nos primeiros dois meses do ano). Ali chegam pessoas essencialmente desnutridas ou com hipotermia e o pessoal hospitalar não é suficiente para tanta procura.

O assunto chegou à primeira linha do debate político em Espanha. Neste momento, o Governo de Pedro Sánchez (PSOE) tenta alterar a Lei de Estrangeiros para que os menores não acompanhados que estão nas Canárias, em Ceuta e Melilha sejam distribuídos por todas as comunidades autónomas do país. Além de haver comunidades (como a Catalunha) que pretendem não ser abrangidas pela distribuição, o PP receia que esta alteração sirva como incentivo à chegada de ainda mais pessoas.

Na semana passada, o partido de Alberto Núñez Feijóo aceitou a distribuição de 347 das cerca de 6000 crianças que estão actualmente nas Canárias, o que levou o Vox a rasgar os acordos que até agora sustentavam cinco governos regionais.

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