Onda de calor na Europa traz presságio de um Verão atípico

De Portugal aos Balcãs, a onda de calor que está a assolar o continente europeu antecipa um Verão atípico que poderá ficar marcado por incêndios florestais e cheias.

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Na Europa, este Junho foi o segundo mais quente de que há registo, estando 1,57 ºC acima da média do período entre 1991 e 2020. Há mais de um ano que se registam recordes mensais de temperatura a nível global Rui Gaudêncio
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A onda de calor que se está a fazer sentir em vários países da Europa, principalmente a sul e na região dos Balcãs, tem levado a avisos meteorológicos e restrições de horários de trabalho durante esta semana. A Comissão Europeia antevê que este volte a ser um Verão atípico, com fenómenos meteorológicos extremos como incêndios florestais e cheias.

À Lusa, o comissário europeu para a gestão de crises, Janez Lenarcic, disse que "todos estes acontecimentos, todos estes fenómenos meteorológicos extremos estão a tornar-se mais frequentes e mais intensos".

Dados divulgados no início deste mês revelam que, em Junho, a Terra bateu, pelo décimo terceiro mês consecutivo, um novo recorde mensal de calor. O mês passado foi globalmente mais quente do que qualquer Junho anterior de que há registo.

Na Europa, este Junho foi o segundo mais quente de que há registo, estando 1,57 graus Celsius acima da média do período entre 1991 e 2020.

Temperaturas podem atingir 40 ºC em Portugal

A meteorologista Patrícia Gomes, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), disse ao PÚBLICO na segunda-feira que as temperaturas máximas iriam subir até ao final da semana.

Espera-se que sexta-feira seja o dia mais quente, com uma previsão de valores de “38ºC, 39ºC, ou mesmo valores de 40ºC” na região do Alentejo, e pontualmente em alguns locais da região do Vale do Tejo. Em Alcoutim, por exemplo, o IPMA prevê que a temperatura máxima na terça e na quarta-feira seja de 40ºC e 41ºC, respectivamente.

“Tudo indica que será um episódio de tempo quente, principalmente para a região sul, um episódio que dure quatro ou cinco dias”, esclareceu a especialista. Apesar disso, a meteorologista de serviço considera que “acaba por ser uma situação de calor mais característica do Verão”, já que os valores de temperatura máxima previstos acabam por estar mais próximos do limiar inferior do aviso amarelo do que do limiar superior”.

Os distritos de Bragança, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora, Setúbal, Beja e Faro encontram-se sob aviso amarelo até ao final da semana. Com o risco de incêndios florestais, concelhos como Silves, Loulé, São Brás de Alportel e Tavira estão em alerta máximo.

Espanha alerta trabalhadores para riscos do calor

Na quarta-feira, o governo espanhol deu início a uma campanha de sensibilização para o risco de calor para as pessoas que trabalham sobretudo ao ar livre. Em Madrid, onde os termómetros registaram 36ºC, as pessoas tentaram refrescar-se em parques e fontes.

"Eu aguento-me com uma ventoinha se estiver na rua e, se não estiver, vou para sítios como um centro comercial ou para um lugar onde esteja mais fresco", disse à Reuters Angela de la Vega, uma reformada que mora em Madrid.

Vizinhos conversam do lado de fora de casa para fugirem ao calor, em Espanha REUTERS/Jon Nazca
A Cruz Vermelha levou a cabo uma acção de distribuição de comida e bebidas frescas (incluindo gaspacho) a pessoas desfavorecidas e sem-abrigo REUTERS/Jon Nazca
A ação da Cruz Vermelha ajudou a combater o calor da noite de Verão em Córdova REUTERS/Jon Nazca
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Vizinhos conversam do lado de fora de casa para fugirem ao calor, em Espanha REUTERS/Jon Nazca

Segundo o serviço de meteorologia AEMET, Espanha começou a sentir a primeira onda de calor do Verão na passada quinta-feira, com grande parte do país a atingir os 38 ºC.

"Saio cedo, antes de ir para o trabalho, para evitar a vaga de calor", disse à Reuters Raul Gomez, que estava a fazer jogging no parque Casa de Campo, em Madrid, às 7 da manhã. "Depois do trabalho e à noite é impossível sair", acrescentou o homem de 43 anos.

O serviço meteorológico emitiu um alerta laranja em algumas zonas do país, proibindo efectivamente o trabalho ao ar livre durante a tarde nessas zonas, de acordo com os regulamentos governamentais introduzidos no ano passado.

A AEMET prevê que o pico deste episódio seja esta sexta-feira, quando muitas zonas do país atingirão os 40ºC. A vaga de calor deve prolongar-se até sábado, embora o calor possa persistir até meados da próxima semana, e será acompanhada por poeiras provenientes de África, que frequentemente agravam os problemas de saúde durante os episódios de calor.

Calor é um desafio para os estafetas da Grécia

Em Atenas, na quinta-feira, as autoridades encerraram todos os locais arqueológicos pelo segundo dia consecutivo e restringiram o trabalho ao ar livre, numa altura em que o país está a sofrer a segunda vaga de calor do Verão.

Yannis Asimakopoulos trabalha como motorista de entregas de comida em Atenas há 17 anos e não se lembra de um Verão mais quente do que o anterior.

"Conduzir é muito difícil. É preciso usar um capacete, as lentes do capacete embaciam-se com o suor. É preciso parar a toda a hora, os pneus derretem mais depressa, a rua é escorregadia, as condições em geral são muito difíceis", disse Asimakopoulos, adicionando que todos os anos vê uma grande diferença na temperatura.

Este ano, a Grécia registou o Inverno mais quente de sempre. O mês de Junho foi também o mais quente de que há registo e prevê-se que a actual vaga de calor seja a mais longa de sempre no país, afirmou Kostas Lagouvardos, director de investigação do observatório nacional de Geofísica.

Em Atenas, os termómetros chegaram aos 44ºC na quinta-feira REUTERS/Louisa Gouliamaki
O estafeta de entrega de comida Yannis Asimakopoulos enfrenta as temperaturas elevadas no seu quotidiano REUTERS/Louisa Gouliamaki
Os cidadãos procuravam as sombras para fugirem à onda de calor na Grécia REUTERS/Louisa Gouliamaki
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Em Atenas, os termómetros chegaram aos 44ºC na quinta-feira REUTERS/Louisa Gouliamaki

O governo ordenou a algumas empresas que não deixassem os seus empregados trabalhar ao ar livre entre o meio-dia e as 17h desta semana.

Na Croácia, turistas refugiam-se nas águas do Adriático

Samira e Toska, ambas da Suíça, fazem parte de um grupo de cerca de 900 mil turistas estrangeiros que, segundo as estatísticas da Direcção-Geral do Turismo, estão actualmente de férias na Croácia.

"Estivemos em Itália na semana passada e pensámos que estava calor lá, mas aqui está ainda mais quente...", disse Toska à Reuters, sentada numa praia nos arredores da histórica cidade adriática de Split. "Entramos na água a cada dez minutos para nos refrescarmos”.

As temperaturas diurnas em terra subiram acima dos 40ºC, enquanto a temperatura do mar em torno da cidade de Dubrovnik, a sul de Split, atingiu um recorde histórico de 29,7 ºC na segunda-feira.

Em Zadar, na Croácia, as pessoas saltam para o Adriático como forma de combate ao calor REUTERS/Antonio Bronic
O Adriático também tem atingido recordes de temperatura este Verão REUTERS/Antonio Bronic
A cidade de Split, na Croácia, atingiu um recorde histórico de 29,7ºC na segunda-feira REUTERS/Antonio Bronic
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Em Zadar, na Croácia, as pessoas saltam para o Adriático como forma de combate ao calor REUTERS/Antonio Bronic

Ivica Vilibic, oceanógrafo do Instituto Rudjer Boskovic, em Split, disse que todo o Adriático estava cerca de cinco graus mais quente do que a média para esta altura do ano.

Porém, o mar é um refúgio para os turistas. "A água é maravilhosa. A terra é quente, é um desastre", disse Jasmin Babarovic, da Bósnia. "Não me atrevo a sair da água por causa das altas temperaturas, e o mar é muito refrescante", acrescentou.

Rede eléctrica húngara atinge pico de carga

Na passada segunda-feira, a rede eléctrica da Hungria atingiu um pico de carga recorde de Verão de 6951 MW com a onda de calor a atingir a Europa Central, disse o operador da rede eléctrica Mavir em comunicado, na terça-feira.

Mavir acrescentou que, com base nas actuais previsões meteorológicas, o recorde de segunda-feira poderá ser ultrapassado ainda esta semana.

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