Homem que matou urso-pardo condenado a 2 anos de prisão e multa de 17,5 mil euros em Espanha

Em Palência, o homem que matou um urso-pardo durante uma caça ao javali em 2020 foi condenado a 2 anos de prisão e ao pagamento de 17,5 mil euros. O Tribunal considera que agiu com “malícia”.

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O caso ocorreu em Novembro de 2020, durante uma caça ao javali em Ventanilla, no Parque Natural Montaña Palentina CHRISTIAN CHARISIUS/Reuters
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Dois anos de prisão, quatro anos de inibição de caça e um pagamento de 17,5 mil euros. É esta a pena a que o Tribunal de Palência sentenciou um homem acusado de matar uma fêmea de urso pardo durante uma actividade organizada de caça ao javali. O recurso interposto pelo caçador foi agora rejeitado, pelo que se manterá a sentença imposta pelo Tribunal Criminal de Palência em Fevereiro deste ano, segundo o diário espanhol El País.

O caso ocorreu em Novembro de 2020, durante uma caça ao javali em Ventanilla, no Parque Natural Montaña Palentina, no Norte da Espanha, na comunidade autónoma de Castela e Leão. O Tribunal condenou o caçador como autor de um crime contra a fauna, por causar a morte de um urso-pardo, acompanhado à altura por uma cria que não foi encontrada, apesar da operação de busca desenvolvida após a caçada.

Como consta no jornal espanhol, o Tribunal conclui que "a soma das provas incriminatórias é tal, que é impossível construir uma história de defesa aceitável com base nas provas e no seu conteúdo".

O tiro foi disparado pelo arguido "a uma distância de cerca de 40 metros, sem tomar as devidas precauções, sem utilizar a mira que transportava, apesar de ter sido avisado e saber que se encontrava numa zona de ursos, e sem garantir a segurança necessária [do espécime sobre o qual estava a atirar] para o local onde se encontrava [Reserva do Parque Natural com uma pequena população de ursos]".

O veterinário Gabriel de Pedro examina a boca de uma fêmea de urso-pardo ibérico, a primeira a ser capturada após décadas, durante um exame de saúde em Villarino, Espanha, 8 de Setembro de 2021 REUTERS/Juan Medina
Agentes ambientais de Cervera de Pisuerga e veterinários do governo regional de Castela e Leão monitorizam as montanhas onde vivem os ursos pardos ibéricos, em Valle de Pineda, Espanha, 18 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
Daniel Pinto e Oscar Alvarez, membro da Patrulha dos Ursos do Alto Sil, movem uma gaiola com controlo remoto para capturar ursos em Sosas de Laciana, Espanha, 16 de Agosto de 2023 REUTERS/Juan Medina
Angeles Orallo (à direita), 73 anos, e o seu marido Valentin Ruiz Barreiro falam com o jornalista da Reuters, na sua casa em Villarino, Espanha, 2 de Novembro de 2023 REUTERS/Juan Medina
O veterinário Gabriel de Pedro examina a boca de uma fêmea de urso-pardo ibérico, a primeira a ser capturada após décadas, durante um exame de saúde em Villarino, Espanha, 8 de Setembro de 2021 REUTERS/Juan Medina
Daniel Pinto procura um urso com o sinal da sua coleira GPS, em Vega de Viejos, Espanha, 2 de Novembro de 2023 REUTERS/Juan Medina
Agentes ambientais, membros da patrulha de ursos de montanha de Palentina e veterinários examinam um urso-pardo ibérico, em Tosande, Espanha, 5 de Julho de 2023 REUTERS/Juan Medina
A veterinária Maria del Carmen Villa Suarez e Daniel Pinto medem a cabeça de um urso, em Tosande, Espanha, a 5 de Julho de 2023 REUTERS/Juan Medina
A veterinária Nuria Noces prepara uma injecção para anestesiar um urso, em Tosande, Espanha, a 20 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
Uma fêmea de urso-pardo ibérico com uma coleira GPS no pescoço, em Villar de Santiago, Espanha, a 4 de Agosto de 2023 REUTERS/Juan Medina
Oscar Alvarez e Daniel Pinto falam com Paloma Asensio e o seu marido Aniceto Ramon depois de terem telefonado por causa de um urso no seu jardim, em Villaseca de Laciana, Espanha, 3 de Agosto de 2023 REUTERS/Juan Medina
Daniel Pinto examina o corpo de uma vaca morta, que ele determinou não ter sido morta por um urso, em Salientes, Espanha, 3 de Agosto de 2023 REUTERS/Juan Medina
Daniel Pinto alimenta três mastins espanhóis que protegem o gado para que os técnicos possam preparar uma jaula telecomandada para prender um urso visto nas proximidades, em Tosande, 17 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
Oscar Alvarez, Pedro Garcia, Gabriel de Pedro e Daniel Pinto transportam um urso anestesiado de volta para uma jaula telecomandada depois de realizarem um exame de saúde e colocarem uma coleira GPS no animal, em Villarino, Espanha, 8 de Setembro de 2021 REUTERS/Juan Medina
Daniel Pinto e as veterinárias Laura Martin (centro) e Nuria Foces (esquerda) preparam uma injecção para anestesiar e colocar uma coleira num urso preso numa jaula telecomandada, em Tosande, Espanha, 20 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
Uma fêmea de urso-pardo ibérico, a primeira a ser capturada em décadas, anestesiada dentro de uma jaula telecomandada depois de os veterinários terem feito um exame de saúde, em Villarino, a 8 de Setembro de 2021 REUTERS/Juan Medina
Um urso-pardo ibérico morde as barras de uma jaula telecomandada de um programa especial de monitorização e proteção da espécie, em Tosande, Espanha, 20 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
Um membro da Patrulha de Ursos do Alto Sil observa uma fêmea de urso pardo ibérico a entrar numa jaula telecomandada a partir das imagens das câmaras remotas colocadas à volta das armadilhas em Villarino, Espanha, 8 de Setembro de 2021 REUTERS/Juan Medina
Um urso-pardo ibérico sai de uma jaula telecomandada, no âmbito de um programa especial de monitorização e protecção da espécie, em Tosande, Espanha, 20 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
Pessoas visitam uma exposição de ursos-pardos ibéricos na Casa do Parque Natural da Montanha Palentina em Cervera de Pisuerga, Espanha, 1 de Novembro de 2023 REUTERS/Juan Medina
Daniel Pinto procura ursos com uma mira térmica durante uma patrulha de busca em Tejedo del Sil, Espanha, 2 de Agosto de 2023 REUTERS/Juan Medina
As casas são vistas das montanhas durante uma patrulha de busca de ursos-pardos ibéricos que vagueiam pelas aldeias em Tejedo del Sil, Espanha, 3 de Agosto de 2023 REUTERS/Juan Medina
Pedro Garcia, membro da Patrulha do Urso do Alto Sil, patrulha depois de receber uma chamada sobre um urso-pardo ibérico avistado na aldeia de Salientes, Espanha, 4 de Agosto de 2023 REUTERS/Juan Medina
Os membros da Patrulha do Urso do Alto Sil, Lorenzo Gonzalez e Oscar Alvarez, usam antenas e visores térmicos para procurar uma fêmea de urso-pardo ibérico apelidada de Lechuguina, na aldeia de Villarino, Espanha, a 2 de Novembro de 2023 REUTERS/Juan Medina
O agente ambiental Alejandro Ruiz, Agustin Cabeza, os veterinários Laura Martin e Nuria Forces, e Daniel Pinto, gestor operacional de uma patrulha especial de monitorização de ursos-pardos ibéricos, organizam a captura e colocação de uma coleira GPS num urso, em Tosande, Espanha, a 17 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
Daniel Pinto, director operacional de uma patrulha especial de monitorização de ursos-pardos ibéricos, e as veterinárias Laura Martin e Nuria Foces, preparam-se para anestesiar um urso preso numa jaula telecomandada e para colocar uma coleira GPS no animal, em Tosande, Espanha, 20 de Maio de 2022 REUTERS/Juan Medina
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O veterinário Gabriel de Pedro examina a boca de uma fêmea de urso-pardo ibérico, a primeira a ser capturada após décadas, durante um exame de saúde em Villarino, Espanha, 8 de Setembro de 2021 REUTERS/Juan Medina

O facto de o condenado ser “residente” na área e “caçador habitual”, tendo inclusive escolhido a “zona mais alta e com melhor visão” durante a caçada, levou o Tribunal de Palência a concluir que houve “malícia” na sua conduta.

A indemnização de 17.505 euros que o caçador deve pagar à Junta de Castela e Leão é metade do valor reclamado pelo Ministério Público e pela Fundação do Urso-Pardo (FOP) durante o julgamento, uma vez que a sentença atribui parte da responsabilidade à própria Junta de Castela e Leão, "ao autorizar através dos seus funcionários uma caça num momento proibido e impróprio".

O caçador terá também de pagar os custos processuais do FOP, conforme já determinado pela decisão de Fevereiro.

Os ursos-pardos já estiveram quase extintos em Espanha. Embora fossem uma espécie protegida, os caçadores furtivos e a destruição de habitat quase condenaram a espécie ao fim e, na década de 1980, apenas 50 a 80 ursos-pardos restavam nas montanhas Cantábricas, divididos em duas populações isoladas.

Entretanto, o número de ursos-pardos multiplicou-se. Actualmente, a Cordilheira Cantábrica, entre a Galiza e o País Basco, é a casa de 370 indivíduos – 210 machos e 160 fêmeas –, segundo os dados mais recentes. O último censo, divulgado no início do mês pelo Ministério do Ambiente de Espanha, das regiões autónomas da Galiza, Castela e Leão, Astúrias e Cantábria e pelo Instituto de Investigação em Recursos Cinegéticos espanhol, revela que o número de animais é superior às estimativas anteriores, pelo que a população está finalmente a consolidar-se.

Os ursos adultos podem pesar entre 150 e 250 kg e medir até 2 metros. Além disso, podem viver até 30 anos. Há três décadas, existiam apenas 60 ursos em Espanha, mas actualmente a sua população será superior a 400.

O aumento do número de ursos está a levar a um maior número de encontros com humanos. Para alguns, os ursos são intrusos indesejáveis, mas outros acolhem-nos com agrado, assim como aos turistas, que, atraídos pela presença deste animal, têm aumentado. Como medida de prevenção, se os habitantes locais avistarem um urso, são aconselhados a chamar os guardas florestais e a manter a calma.

Apesar de já não estar numa situação crítica, a espécie ainda é considerada em perigo na Península Ibérica, pelo que trabalho pela protecção do urso-pardo ainda está a ser feito. Criada em 1992, a FOP trabalha desde essa altura para a conservação e estudo da espécie.