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Quando os políticos voltam atrás nas promessas para o clima
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"Acreditem em mim quando digo ecológico!" Isto é o que nos pedem políticos como a recém-reeleita presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que cumpriu o mínimo de exigências dos Verdes para obter um novo mandato. Este é também o título de um artigo científico de investigadores italianos que mostra que quando os políticos anunciam objectivos ambiciosos para a transição ecológica, mas depois não criam condições para os pôr em prática, fazem o seu país cair numa armadilha: "A economia fica refém do círculo vicioso de perda de credibilidade".
Resultado? "O falhanço da transição."
Von der Leyen garantiu que o Pacto Ecológico vai continuar – pelo menos as metas de redução de gases com efeito de estufa mantêm-se. "No entanto, a ambição da iniciativa que foi a sua bandeira [no anterior mandato à frente da Comissão] foi reduzida, acedendo às exigências agro-industriais; o seu programa agora começa com um corta-e-cola das exigências da indústria, que frequentemente estão em oposição com os padrões ambientais que protegem a saúde das pessoas", comentou o WWF-Fundo Mundial para a Natureza, em comunicado.
Muito se falou sobre a fadiga dos eleitores com as medidas para lutar contra as alterações climáticas – transformada em arma de arremesso pela extrema-direita e alguma direita. Mas alguns analistas foram mais fundo, e perceberam que os cidadãos continuam preocupados e querem políticas mais ambiciosas.
"O apoio vai para além de quem vota em partidos de esquerda ou ecologistas. O número de pessoas que querem a continuação de políticas climáticas é maior do que o das que se opõem também nos partidos liberais ou conservadores", disse ao Azul Jannik Jansen, analista do Centre Jacques Delors e da Hertie School, em Berlim, numa conversa por e-mail antes das eleições europeias. Fez estas afirmações com base num inquérito a 15 mil cidadãos de três países da União Europeia: Alemanha, França e Polónia.
Nem os eleitores, nem as empresas, gostam quando os partidos voltam atrás na palavra. "São necessárias metas ambiciosas para uma transição [ecológica] com sucesso, mas pode ser um tiro que sai pela culatra se os políticos não as cumprirem", avisa Roberta Terranova, do Centro Euro-Mediterrânico sobre as Alterações Climáticas, uma das autoras do artigo publicado na revista Journal of Economic Dynamics and Control, citada num comunicado de imprensa.
Veja-se o Reino Unido: o Governo conservador de Rishi Sunak voltou atrás em vários compromissos climáticos e ambientais. Não só foi afastado de forma arrasadora nas urnas a 4 de Julho, como o Partido Verde conseguiu eleger quatro deputados – quando antes só tinha um. E foi além do seu eleitorado urbano, fazendo conquistas em redutos rurais e conservadores.
Mas há um trabalho grande a fazer para que o país cumpra a meta de cortar 68% das suas emissões de gases com efeito de estufa até 2030, tendo como referência os valores de 1990. Só há um plano credível para um terço dessas reduções, disse nesta quinta-feira o Comité das Alterações Climáticas, um órgão consultivo. "A meta de 2030 está em risco. O novo Governo [trabalhista] tem uma oportunidade de corrigir o caminho, mas tem de o fazer urgentemente", recomendaram os cientistas, citados pela Reuters.
Do outro lado do canal da Mancha, vive-se uma crise política profunda, onde se joga também o futuro da Europa. Mas a boa notícia foi a inversão da tendência de voto da primeira para a segunda volta das legislativas antecipadas, com uma vitória de uma coligação de esquerda. Para esta união, de onde ainda tem de resultar a indicação de um primeiro-ministro, tem sido fundamental a líder do Partido Ecologista-Os Verdes, Marine Tondelier, uma jovem política que se tornou conhecida de todos pelo casaco verde que se tornou a sua imagem de marca.
Mas ela é muito mais do que um casaco verde: natural do município no Norte de França por onde Marine le Pen se tem feito eleger, Hénin-Beaumont, Marine Tondelier tem sido uma força motriz para o diálogo, e para a luta contra a extrema-direita.
As reviravoltas da política francesa ainda não terminaram. Mas Laurence Tubiana, a mulher indicada para ser a próxima primeira-ministra por socialistas, ecologistas e comunistas – e que tem a resistência da França Insubmissa, a maior força da Nova Frente Popular, a coligação de esquerda – é considerada a arquitecta do Acordo de Paris.
Em 2015, quando se realizou a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP21) em Paris, Laurence Tubiana trabalhava com o então ministro dos Negócios Estrangeiros socialista francês, Laurent Fabius. A capacidade de diálogo e de estabelecer pontes desta economista e diplomata de 73 anos é reconhecida por muitos – e permitiu chegar ao acordo bastante elástico em que os países se comprometeram a reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa de forma a limitar o aquecimento global a menos de dois graus Celsius, preferencialmente 1,5 graus.
O caminho ainda tem obstáculos, mas o que começou como uma história plena de pessimismo pode levar a uma responsável pela arquitectura climática actual à liderança do Governo francês. Ela diz-se pronta: "Quando há uma crise política, é preciso responder. É preciso avançar uma pessoa de esquerda, se tiver se ser eu, fá-lo-ei", disse numa entrevista à agência AFP.
São precisos políticos dispostos a não deixar cair a ambição. Para que não se caia "no círculo vicioso da perda de credibilidade" que conduz ao falhanço, como dizem os cientistas.