BCE mantém juros, Lagarde diz que corte em Setembro está “em aberto”

Autoridade monetária europeia diz que inflação está dentro do previsto, mas não surpreende e adia para Setembro eventual nova descida das taxas de juro.

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Christine Lagarde, presidente do BCE Jana Rodenbusch / REUTERS
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Cumprindo aquelas que eram as expectativas generalizadas nos mercados, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter, no final da reunião do conselho de governadores desta quinta-feira, as taxas de juro de referência ao mesmo nível a que tinham sido colocadas no passado mês de Junho. Uma eventual nova descida fica assim adiada para Setembro, com Christine Lagarde a dizer que a decisão a tomar nessa altura está “totalmente em aberto”.

Nos mercados, a expectativa era a de que, depois de ter feito um primeiro corte de taxas de juro em Junho, a autoridade monetária europeia realizasse uma pausa na reunião desta quinta-feira, para depois, em Setembro, voltar a baixar as taxas de juro. A primeira parte das previsões concretizou-se: a taxa de juro de depósito do BCE, que é a principal referência para os custos de financiamento na zona euro, manteve-se nos 3,75%, depois de em Junho ter sido reduzida do valor máximo de 4%, a que tinha chegado durante o período em que o banco central endureceu a política monetária para contrariar a escalada da inflação.

Mas no que diz respeito ao que irá acontecer na reunião de Setembro, foi feito tudo o que é possível para manter algum mistério.

Tal como tinha acontecido no início do mês, no Fórum anual que organizaram em Sintra, os responsáveis do BCE traçaram esta quinta-feira um cenário optimista em relação à evolução da inflação, mas ainda apontando para alguns riscos e sem compromissos expressos em relação ao que irão fazer às taxas de juro.

Logo no comunicado publicado após a reunião, deram conta de um desempenho recente da inflação que está em linha com aquilo que era esperado, afirmando que “a informação que está a ser recebida reforça de forma geral a avaliação anterior realizada pelo conselho de governadores relativamente ao cenário de médio prazo para a inflação”.

“A maior parte das medidas [de inflação] estabilizaram ou baixaram em Junho”, refere o documento, acrescentando que “o impacto inflacionista de salários mais elevados foi compensado pelos lucros”. No entanto, ao mesmo tempo, o comunicado assinala que “as pressões domésticas nos preços são ainda elevadas”, destacando em particular os níveis altos da inflação nos serviços e alertando que “a inflação subjacente deverá manter-se acima do objectivo durante uma boa parte do próximo ano”.

“O conselho de governadores irá continuar a seguir uma abordagem reunião a reunião e dependente dos dados para determinar o nível apropriado [das taxas de juro]”, afirma.

“Totalmente em aberto”

Não são dadas, por isso, novas pistas sobre aquilo que o BCE irá fazer nas próximas reuniões. E aquilo que Christine Lagarde disse na conferência de imprensa realizada meia hora depois também pouco ajudou.

A presidente do BCE insistiu na ideia de que as decisões que venham a ser tomadas dependem dos dados que sejam conhecidos na altura. “A decisão que foi tomada esta manhã foi unânime. Mas aquilo que também foi decidido de forma unânime foi que estávamos determinados a continuar dependentes dos dados, a decidir reunião a reunião e a não ter qualquer percurso de taxas de juro já pré-determinado. Por isso, a questão sobre aquilo que iremos fazer em Setembro está totalmente em aberto”, afirmou em resposta aos jornalistas.

Os sinais que fazem com que, nos mercados, as expectativas sejam de um corte de juros continuam a existir, é certo. Lagarde repetiu que “os dados actuais confirmam que o processo de desinflação está de momento em curso”, dizendo que está à espera que a inflação caminhe para a meta de 2% ao longo da segunda metade do próximo ano e assinalando mesmo que não se pode colocar de lado a hipótese de a inflação surpreender pela positiva, apresentando um valor mais baixo “no caso de a política monetária suprimir mais a actividade económica do que o previsto” e afirmou que tal reforça a confiança que o BCE precisa de ter para voltar a baixar as taxas de juro.

No entanto, mais uma vez, será preciso esperar para ver o que é que acontece até Setembro, nomeadamente num indicador que é considerado crucial para o BCE. Lagarde lembrou esta quinta-feira que os salários estão a registar, sem surpresa, subidas consideráveis para compensar a escalada verificada anteriormente dos preços. O BCE quer ver se se confirma a tendência para um abrandamento ou se, pelo contrário, os preços continuam a subir, superando os ganhos de produtividade, que até ao momento não dão sinais de aumentar.

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