Com ondas de calor a Sul e cheias a Norte, Europa prepara-se para um Verão atípico

Mais ondas de calor, mais fogos e mais cheias. É com este cenário que a Comissão Europeia se prepara para o Verão deste ano — o mais atípico da UE. Bruxelas vai apoiar Portugal na compra de Canadair.

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Uma mulher passa por uma esplanada com um dispositivo de pulverização de água no exterior da Ágora Antiga durante uma onda de calor em Atenas, Grécia, a 17 de Julho de 2024 GEORGE VITSARAS / EPA
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A Comissão Europeia antevê que este volte a ser um Verão atípico na União Europeia (UE) com fenómenos meteorológicos extremos como ondas de calor que causam incêndios e chuvas fortes que provocam cheias. Bruxelas prepara-se para ajudar os países europeus e já há novidades sobre Portugal: vai apoiar o país na compra de dois aviões Canadair para evitar fogos semelhantes aos de 2017.

"Todos estes acontecimentos, todos estes fenómenos meteorológicos extremos estão a tornar-se mais frequentes e mais intensos", afirma em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o comissário europeu para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic.

Numa altura em que a Europa do Sul enfrenta elevadas temperaturas, enquanto o centro e Norte se vê confrontada com dias consecutivos de chuva, o responsável garante que os serviços de Protecção Civil estão preparados para ocorrências como incêndios ou inundações, nomeadamente através do mecanismo criado em 2001 para resposta a catástrofes. "Assinalamos agora o terceiro aniversário das terríveis inundações na Bélgica, na Alemanha, nos Países Baixos e no Luxemburgo, nas quais morreram mais de 200 pessoas, e ninguém se lembraria de algo assim no passado", ou seja, de tais fenómenos ocorrerem em pleno Verão, apontou Janez Lenarcic.

O responsável assinalou que estas situações atípicas têm vindo a acentuar-se com o decorrer dos anos, sendo que, "no ano passado, pela primeira vez na existência do Mecanismo de Protecção Civil da União, foram feitos dois pedidos no mesmo dia, em Agosto, para apoio a inundações na Eslovénia e outro devido a incêndios florestais de Chipre".

Para este Verão, a UE constituiu uma frota especial composta por 28 aviões de combate a incêndios e quatro helicópteros em 10 Estados-membros, incluindo Portugal, com dois aviões que vai adquirir formalmente esta quinta-feira por 100 milhões de euros vindos de verbas comunitárias.

Em causa está um acordo que será formalizado pelo Executivo para compra de dois aviões bombardeiros pesados de combate a incêndios que estarão baseados em Portugal e farão parte da reserva estratégica da Protecção Civil da União Europeia (UE), num total de 12 que Bruxelas financia com um orçamento total de 600 milhões de euros (para Portugal, Espanha, França, Grécia, Itália e Croácia).

"Tudo remonta a Portugal, em 2017, quando ocorreram incêndios muito grandes em que morreram cerca de 100 pessoas e quando se percebeu que não temos na Europa capacidades suficientes", recorda Janez Lenarcic. Numa alusão aos fogos florestais de Maio e Outubro de 2017 no país, que causaram mais de 100 mortos e 500 mil hectares de área ardida, Janez Lenarcic diz à Lusa que, nesse ano, "Portugal não tinha essa capacidade própria", nem pôde contar com apoio de outros Estados-membros por falta de disponibilidade de meios.

Por essa razão, desde então, a Comissão Europeia apostou na preparação contra fogos florestais e, após as necessárias negociações entre os co-legisladores da UE (por a Protecção Civil ser competência nacional), esteve em conversações com a fabricante canadiana Canadair, que foram recentemente concluídas, para reforçar a frota europeia e dos países "mais vulneráveis". Mas o primeiro avião só deverá estar pronto dentro de três anos.

"Com as assinaturas [entre os Governos destes seis países e a empresa] que esperamos que ocorra este ano, devemos concluir este processo. [...] Dois Estados-membros já assinaram contratos deste tipo em Março, a Grécia e a Croácia; e esperamos que Portugal o faça [...] e que, em breve, também Espanha, Itália e França o façam para assim ser possível iniciar a produção", indica Janez Lenarcic à Lusa.

O ano de 2023 teve uma das piores épocas de incêndios florestais jamais registadas na UE, tendo sido reforçada a frota aérea de combate estes fogos.

O Mecanismo de Protecção Civil da UE foi activado 10 vezes no ano passado, chamando o bloco a colaborar quer no combate a incêndios em Estados-membros e participantes (Islândia, Noruega, Sérvia, Macedónia, Montenegro, Turquia, Bósnia-Herzegovina, Albânia, Moldava e Ucrânia), quer em países terceiros como Chile, Bolívia e Canadá. Desde a sua criação em 2001, o Mecanismo de Protecção Civil da UE foi activado mais de 700 vezes para responder a emergências.

No que toca às temperaturas, dados divulgados no início deste mês revelam que, em Junho, a Terra bateu, pelo décimo terceiro mês consecutivo, um novo recorde mensal de calor. O mês passado foi globalmente mais quente do que qualquer Junho anterior de que há registo, com uma temperatura média do ar à superfície de 16,66°C — ou seja, 0,67°C acima da média do período de 1991 a 2020 para esse mês — e 0,14°C acima do anterior máximo estabelecido em Junho de 2023.

Na Europa, este Junho foi o segundo mais quente de que há registo, com 1,57ºC acima da média do período entre 1991 e 2020.