Grupo de trabalhadores a recibos verdes da Global Media suspende trabalho até pagamento
Sindicato diz que esta situação é “absolutamente inadmissível” e que há centenas de vidas em suspenso. Trabalhadores não recebem pagamento há dois meses.
Um grupo de 40 trabalhadores a recibos verdes em títulos da Global Media anunciou esta terça-feira a suspensão da colaboração por tempo indeterminado por falta de pagamento, confirmou a Lusa junto do Sindicato dos Jornalistas (SJ). A entidade sindical já se solidarizou com a luta destes trabalhadores, dizendo que esta é uma “situação recorrente nos últimos meses e absolutamente inadmissível”, que deixa em suspenso centenas de vidas. O Bloco de Esquerda já questionou o Governo sobre esta situação.
De acordo com fonte do sindicato, estes colaboradores não recebem salários há dois meses. Segundo um email enviado por estes colaboradores, a que a Lusa teve acesso, trata-se de “um grupo de cerca de 40 jornalistas, fotojornalistas e gráficos a recibos verdes que interrompeu hoje [terça-feira] a colaboração com o Jornal de Notícias, Notícias Magazine, O Jogo, Volta ao Mundo, TSF e Diário de Notícias, por tempo indeterminado”.
Esta interrupção deve-se ao facto de ainda não terem recebido os pagamentos relativos aos meses de Abril e Maio, sem que a “administração da Global Media Group [GMG] tenha avançado com qualquer justificação para tal, ao longo destes meses, apesar das constantes tentativas de contacto e pedidos de esclarecimento”.
Os colaboradores também trabalharam em Junho, mas este mês costuma ser liquidado em Agosto, já que recebem dois meses depois.
“A decisão de parar de trabalhar foi comunicada à administração na última quinta-feira, dia 11 de Julho, caso os valores em causa não fossem liquidados até ontem, dia 15, o que não sucedeu”, referem os trabalhadores na missiva tornada pública na terça-feira.
“Esta situação afecta cerca de 130 jornalistas, fotojornalistas e gráficos a recibos verdes, que se sentem desrespeitados por não estarem a receber pelo trabalho realizado e indignados com o silêncio da administração”, prosseguem, referindo que, “nos últimos meses, têm sido avançadas diversas datas para se concluir o negócio da venda do Jornal de Notícias, JN História, O Jogo, Volta ao Mundo, Notícias Magazine, Evasões, TSF, N-TV e Delas, sem que tal se tenha verificado”.
Apontam que “foi preciso chegar a este ponto para a administração da Global Media reagir e responder aos pedidos de explicação individuais, pouco depois de terem recebido” o email a comunicar a suspensão.
“Apesar disso, nessas respostas individuais, faz depender o pagamento das dívidas para connosco da finalização do negócio com o novo grupo, Notícias Ilimitadas, quando sabemos que este já transferiu cerca de quatro milhões de euros, também com o objectivo de nos pagar, compromisso que os administradores da Global Media não têm cumprido”, salientam.
“Estamos conscientes que a nossa paragem vai afectar o trabalho dos colegas da redacção, dos editores e da direcção, o que lamentamos, mas sentimos que não tínhamos alternativa, a não ser parar e alertar para a existência deste problema, que nos está a afectar financeira e psicologicamente”, sublinham.
A esperança, referem, “é que os pagamentos em atraso sejam liquidados rapidamente” e que “o negócio com o grupo Notícias Ilimitadas seja concluído”.
BE questiona o Governo
O Bloco de Esquerda questionou esta quarta-feira o Governo sobre a situação destes trabalhadores. No requerimento, dirigido ao ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, a bancada bloquista lembra a crise que o grupo tem vivido nos últimos meses, salientando que a "situação destes títulos da imprensa portuguesa está longe de estar estabilizada".
"Estes sinais de crise de importantes títulos da imprensa portuguesa e o desrespeito sistemático pelos profissionais do jornalismo, mantém o alerta sobre a Global Media", lê-se no texto.
Neste contexto, o BE quer saber se o Governo "tem conhecimento desta situação", que medidas vai tomar para "garantir o respeito pelos direitos dos trabalhadores do Grupo Global Media, quer os contratados, quer os trabalhadores a recibos verdes" bem como para "promover uma situação estável e transparente da propriedade dos órgãos de comunicação social em Portugal, de forma a garantir o pluralismo e a liberdade de imprensa".
O Sindicato dos Jornalistas sinalizou que está a acompanhar o processo "pressionando a empresa e alertando os poderes públicos e político". "Sinal disso, as reuniões com o ministro da tutela, Pedro Duarte, em que o GMG foi o tema principal, e com o grupo parlamentar do PSD, partido que suporta o Governo em funções", indicou.
No requerimento é lembrado que em Abril, as propostas do BE e do PAN para a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito sobre o grupo Global Media foram chumbadas em plenário, com votos contra de PSD, PS e CDS-PP.
A favor votaram BE, PAN, PCP e Iniciativa Liberal, enquanto o Chega se absteve.
As propostas para um inquérito parlamentar tinham como objecto a compra da Global Media Group (dono de títulos como Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF, O Jogo) pelo World Opportunity Fund (com sede no paraíso fiscal Bahamas), os actos de gestão e a instabilidade gerada no grupo assim como a actuação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).
Notícia actualizada às 17h17 horas para incluir o requerimento do Bloco de Esquerda ao Governo