Entre o hip hop e o rock, eis no Meco o 28.º Super Bock Super Rock

Entre quinta e sábado, passarão pelo festival os 21 Savage, Måneskin, Stormzy ou Anna Calvi. Também em destaque, o regresso dos Mind da Gap e os Capitão Fausto a interpretarem Pesar o Sol.

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O Super Bock Super Rock regressou à Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, o ano passado Henrique Lourenço

É uma longa história, com quase três décadas, que recua aos tempos da implantação definitiva dos festivais de música em Portugal. Uma história que se foi fazendo em vários formatos e localizações, de Alcântara ao Parque Tejo, do Meco ao Parque das Nações, de festival em recinto único à sua dispersão por várias salas. Em 2010, porém, o festival chegou àquele que, na segunda metade da sua longa vida, se tornou o seu espaço privilegiado, a Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, Sesimbra. Aí cumprirá o Super Bock Super Rock a sua 28.ª edição, entre esta quinta-feira e sábado, com o glam rock festivaleiro dos Måneskin e o hip hop de 21 Savage, de Stormzy e dos históricos Mind da Gap em destaque no cartaz.

O ano passado marcou o regresso ao Meco, depois de várias edições no Parque das Nações, durante as quais foi recuperado o formato de festival urbano. O regresso ao campo, ao campismo e à praia deveria ter sido concretizado em 2022, porém, dadas as condições climatéricas naquele Verão, o cumprimento da legislação em vigor quanto aos perigos de incêndio florestal adiou esse desejo. E 2023 foi então o ano do reencontro, ao som dos Wu Tang Clan, Roísin Murphy, Legendary Tigerman, Franz Ferdinand ou Offspring.

Um ano depois, o Super Bock Super Rock, não reunindo a mesma quantidade de nomes sonantes, divide-se entre a tendência mais rock no primeiro dia e hip hop nos seguintes. Esta quinta-feira, sobem a palco os italianos Måneskin, que saltaram para o estrelato com a vitória na Eurovisão, em 2021, Tom Morello, o guitarrista dos Rage Against the Machine, ou os britânicos Royal Blood. Nos dias seguintes marca presença Savage 21, um dos nomes de destaque no panorama hip hop actual, questionador metódico da ideia de “sonho americano”, Slow J, músico em estado de graça com a edição do celebrado Afro Fado (ambos sexta-feira), Stormzy, estrela maior no Reino Unido natal, e os Mind da Gap, reunidos quase uma década depois para actuar no festival (ambos sábado).

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Os italianos Måneskin saltaram para a ribalta em 2021, com a vitória no Festival da Eurovisão Sander Koning

Claro que estas não são barreiras estanques. Afinal, a última noite terá o já referido Stormzy, voz poderosa a emergir da mais recente vaga emanada do grime, e os históricos Mind da Gap, mas também, por exemplo, o rock visceral de Anna Calvi e o funk luminoso dos Vulfpeck.

A merecer destaque no alinhamento do festival surge também um momento de celebração, com os Capitão Fausto a dedicarem o seu concerto no primeiro dia a Pesar o Sol, o seu segundo álbum, editado há dez anos e a que regressarão agora, interpretando-o na íntegra, num concerto preparado especificamente para o Super Bock Super Rock.

Como habitualmente, os concertos serão divididos por três palcos. O principal, Super Bock Super Rock, o palco Pull & Bear, onde ouviremos Capitão Fausto ou Anna Calvi, e o palco Sommersby, o último a iniciar actividade, às 23h, e que se prolongará até madrugada alta, com os últimos protagonistas de cada um dos dias a subirem a palco às 2h45 (por ali passarão nomes como New Max, dos Expensive Soul, Anna Prior, baterista dos Metronomy, DJ sets dos Chromeo e de Yen Sung ou o hip hop norte-irlandês dos Kneecap).

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Os Mind Da Gap regressam aos palcos nove anos depois do último concerto Paulo Pimenta

Estreias e regressos

O início estará, então, sob o signo do rock. O dos italianos Måneskin, estreantes em Portugal, surpreendentes vencedores do Festival da Eurovisão que recriam sem qualquer pudor os clichés roqueiros do glam e hard rock dos anos 1970 e 1980, como explicado em Rush, o álbum mais recente editado no ano passado (a baixista Victoria De Angelis, também DJ, encerrará, horas depois, o palco Sommersby). No extremo oposto dessa exuberância, surge Tom Morello, guitarrista dos Rage Against The Machine que, nas edições a solo, reúne um sem número de convidados para dar forma comunitária à sua verve activista, sempre à esquerda, anticapitalista, anti-imperialista, anti-racista. Entre uns e outros, os Royal Blood, o duo inglês de Mike Kerr e Ben Thatcher que editou no ano passado o seu quarto álbum, Back to the Water Below.

Em destaque neste primeiro dia estará igualmente Will Butler. O ex-membro dos Arcade Fire, irmão do seu líder, Win Butler, apresenta-se no Meco, acompanhado das Sister Squares, meses depois da passagem pelo Super Bock em Stock, em Lisboa – da colaboração de Butler com as Sister Squares nasce música apontada à dança, subtexto disco e com os anos 1980 de David “Let’s Dance” Bowie no horizonte.

Nos dias seguintes, um regresso único e uma estreia. O regresso é o dos Mind da Gap, o trio portuense formado por Ace, Presto e Serial, nascido em 1993 e que se tornaria banda fulcral do hip hop português através de álbuns como Sem Cerimónias (1997) e canções como Dedicatória e Bazamos ou ficamos. No concerto de sábado, em princípio único, mas que, dependendo do que acontecer em palco e na interacção com a plateia, poderá frutificar em algo mais, teremos, sobretudo, “um greatest hits”, como revelou a banda recentemente em declarações à Lusa. Um dia antes do regresso dos Mind da Gap, que acontece nove anos depois do último concerto, o palco principal acolhe como cabeça de cartaz uma estreia em palcos portugueses, 21 Savage.

Nascido em Londres, em 1992, emigrado aos 7 anos para Atlanta, no sul dos Estados Unidos, Shéyaa Bin Abraham-Joseph tornou-se um nome de relevo no panorama musical americano. Revelado às massas com Issa Album, editado em 2017, assinando colaborações com Drake, Post Malone, Childish Gambino, J. Cole ou Travis Scott, 21 Savage editou no início deste ano American Dream, álbum em que transforma a sua biografia num relato das lutas, tensões, vitórias e tragédias da vivência imigrante nos Estados Unidos. Antecede-o Slow J, figura do maior relevo no cenário português, tanto em alcance artístico como em sucesso junto do público. Depois das Meo Arenas esgotadas em Março, continuará a mostrar no Meco a nova pele que expôs em Afro Fado.

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Será o primeiro concerto de 21 Savage em Portugal (na fotografia, concerto num festival na Suíça) GIAN EHRENZELLER

O Super Bock Super Rock encerra sábado, com o imponente Stormzy de regresso ao festival em que actuou em 2018, na altura na Meo Arena. Com Heavy Is the Head (2019) e This is What I Mean (2022) a sucederem à estreia Gang Signs & Prayer (2017), o músico que se diz filho da crueza e dos ritmos convulsivos do grime, mas tocado pela sensibilidade do r&b, tornou-se um dos mais célebres e respeitados das ilhas britânicas. É esse que reencontraremos seis anos depois da estreia em Portugal, no mesmo dia em que se destaca no cartaz o balanço inventivo e de ágil virtuosismo instrumental dos americanos Vulfpeck, a espalhar groove mundo fora desde 2011, e uma cantora e guitarrista londrina que fomos acompanhando em Portugal desde o início, Anna Calvi, de uma intensidade emocional próxima da de PJ Harvey e de um dramatismo art rock que podemos alinhar com St. Vincent.

A herdade do Cabeço da Flauta tem como lotação máxima 25 mil espectadores diários. Os bilhetes para o festival custam entre os 72€ (diários, os mais baratos) e os 279€ do passe para os três dias Golden Circle, com campismo, que dá acesso a espaços privilegiados junto ao palco, bem como de restauração e sanitários. O passe geral, com campismo, custa 174€, e sem campismo, 164€.

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