Primeiro-ministro do País de Gales demite-se ao fim de apenas quatro meses no cargo
Trabalhista Vaughan Gething não resiste a polémica sobre donativo político e é forçado a renunciar ao cargo após demissão de quatro ministros do seu governo.
Vaughan Gething demitiu-se esta terça-feira do cargo de primeiro-ministro do País de Gales, na sequência de uma onda de demissões de ministros do executivo descentralizado britânico, em protesto contra a sua liderança, e após quatro meses de uma governação muito atribulada.
Eleito em Março líder do Partido Trabalhista Galês, o primeiro chefe de governo negro do País de Gales era alvo de muitas críticas devido a um donativo que recebeu; às declarações que fez num inquérito sobre a resposta à covid-19, referente a um período em que foi ministro da Saúde; e à decisão de afastar uma ministra depois de a ter acusado de passar informações à comunicação social.
No mês passado, Gething perdeu, inclusivamente, uma moção de confiança não vinculativa no Senedd (Parlamento do País de Gales).
“Tem sido um período muito difícil para mim e para a minha família. A alegação continuada de que existiu algum tipo de infracção tem sido perniciosa, politicamente motivada e manifestamente falsa”, criticou o primeiro-ministro demissionário, num comunicado, informando ainda que, para além da chefia do Governo, também vai deixar o cargo de líder do Labour galês.
Vaughan Gething aceitou cerca de 200 mil libras em donativos políticos da Dauson Environmental Group, uma empresa de reciclagem que foi condenada, com penas suspensas, em 2013 e em 2017, por infracções relacionadas com descargas ilegais de resíduos. Segundo a BBC Wales, o primeiro-ministro fez lobbying junto da agência pública Natural Resources Wales para tentar que a empresa não fosse prejudicada.
“Nunca tomei qualquer decisão para benefício pessoal. Nunca usei indevidamente ou abusei das minhas responsabilidades ministeriais. A minha integridade importa. Não a comprometi”, assegurou, no entanto, o primeiro-ministro.
A pressão sobre Gething atingiu o seu ponto mais elevado quando quatro membros do Governo – Mick Antoniw (procurador-geral), Julie James (ministra da Habitação), Jeremy Miles (ministro da Economia) e Lesley Griffiths (ministra da Cultura) – se demitiram em bloco nesta terça-feira.
“O País de Gales precisa de um Governo confiante e estável. Não acredito que [Gething] seja capaz de lhe dar isso”, afirmou Antoniw na sua carta de demissão, dirigida ao primeiro-ministro trabalhista.
A saída de Gething de cena desencadeia uma segunda disputa pela liderança do Labour galês e da chefia do executivo do País de Gales em apenas um ano, depois de o dirigente demissionário ter substituído Mark Drakeford em Março. Antoniw e Miles são apontados como possíveis candidatos, assim como os deputados Ken Skates, Hannah Blythyn, Eluned Morgan e Huw Irranca-Davies.
O partido independentista Plaid Cymru, que em Maio pôs fim a um acordo de cooperação com o Partido Trabalhista, apelou à realização de eleições antecipadas no País de Gales.
O Governo galês é responsável por áreas como a Saúde ou a Educação, enquanto outras, como a Defesa, a Energia ou a Política Externa são definidas e implementadas pelo Governo do Reino Unido, que, desde o início deste mês, é liderado pelo Partido Trabalhista, vencedor das eleições legislativas nacionais.
A turbulência no Labour galês surge como um incómodo inesperado para o novo primeiro-ministro, Keir Starmer, que prometeu investir nos vários países que compõem o Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) e que se encontrou com Gething no âmbito de uma visita a Cardiff há pouco mais de uma semana.
“Sei que esta foi uma decisão difícil para ele, mas também sei que a tomou porque considera que é a melhor decisão para o País de Gales”, reagiu Starmer, num comunicado.