Macron aceita demissão de Gabriel Attal e pede governo “de forças republicanas”

A demissão tinha sido pedida pelo primeiro-ministro um dia depois da segunda volta das eleições legislativas de 7 de Julho, nas quais a Nova Frente Popular obteve o maior número de deputados.

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Attal tinha apresentado a sua demissão no passado dia 8 de Julho, uma dia depois da segunda volta das eleições legislativas LUDOVIC MARIN / VIA REUTERS
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O Presidente Emmanuel Macron aceitou esta terça-feira a demissão do primeiro-ministro francês Gabriel Attal, no dia em que se realizou aquele que foi o último conselho de ministros do actual Governo.

Num comunicado emitido pelo gabinete presidencial, Emmanuel Macron aceitou a demissão do primeiro-ministro, cujo governo continuará em gestão “dos assuntos correntes” até à formação de um novo executivo.

O Presidente, lê-se no comunicado, espera que o período de gestão termine “o mais rapidamente possível”, e afirma que “cabe às forças republicanas trabalhar em conjunto para construir uma frente unida em torno de projectos e acções ao serviço do povo francês”.

Attal tinha apresentado a sua demissão a dia 8 de Julho, depois da segunda volta das eleições legislativas, em que o campo macronista ficou em segundo lugar, atrás da coligação de esquerda da Nova Frente Popular.

Na altura, Macron tinha pedido ao primeiro-ministro cessante para ficar no cargo “para garantir a estabilidade” do país até à conclusão da composição da nova Assembleia Nacional.

Impasse na procura da liderança do Governo à esquerda

Quem irá ocupar o cargo de chefe de Governo francês está ainda por decidir. No campo da Nova Frente Popular, não há ainda qualquer entendimento sobre quem poderá ser o nome apontado pela coligação de esquerda.

O nome mais recente foi o de Laurence Tubiana, economista e representante francesa na conferência do COP de 2015, que reuniu consensos entre o Partido Socialista (PS), os Ecologistas (EELV) e o Partido Comunista Francês (PCF), mas Tubiana foi rejeitada pelo maior partido da Nova Frente Popular, a França Insubmissa (LFI).

Antes de Tubiana, o nome de Huguette Bello tinha também sido proposto pelo PCF, tendo obtido o apoio da França Insubmissa. Apesar do apoio destes partidos, Bello, líder e fundadora do partido de esquerda regionalista da ilha de Reunião conhecido por Para a Reunião, que também faz parte da Nova Frente Popular, foi rejeitada pelo PS e pelos Ecologistas.

O deputado da LFI Paul Vannier demonstrou descrença na rede social X sobre a rejeição de Bello e subsequente proposta de Tubiana, que considera ser uma “candidatura Macron compatível com Matignon (sede do governo francês)” e afirma que seria “uma traição ao compromisso assumido com milhões de eleitores”.

Esta terça-feira, o deputado da LFI Manuel Bompard disse que as discussões sobre o nome para primeiro-ministro estavam suspensas, tendo considerado que a proposta dos parceiros “não era séria”.

Em resposta a Bompard, o secretário-geral do PS, Olivier Faure, disse, numa entrevista à rádio France Info que não quer “fazer com que a palavra de uns se impusesse à dos outros” e que ainda estavam em discussões para decidir quem seria o nome da Frente Popular.

Já Fabien Roussel, secretário-geral do PCF, afirmou à estação de televisão BFM TV que as críticas dos deputados da LFI eram um “espectáculo angustiante” e que se a França Insubmissa “quiser sair da Nova Frente Popular, estará a assumir uma pesada responsabilidade”. O secretário-geral comunista pediu ainda à LFI que volte à mesa das negociações e que, se a esquerda não encontrar “uma solução nas próximas horas ou dias, será um verdadeiro naufrágio” e “uma falta de respeito por todos os eleitores que manifestaram o seu desejo de mudança”.

Esquerda pede "bloqueio republicano" contra extrema-direita

Em disputa mais directa entre as várias forças parlamentares estão os cargos de comissões e da própria presidência da Assembleia Nacional, nos quais a extrema-direita pretende ocupar alguns cargos.

Na rede social X, Marine Le Pen escreveu esta terça-feira que “todas as forças políticas devem participar na gestão” da Assembleia Nacional, “em conformidade com as nossas práticas republicanas e com o regulamento interno”.

Marine Le Pen enfrenta, no entanto, uma “barreira republicana”. Os líderes dos grupos parlamentares da Nova Frente Popular (incluindo os grupos comunistas, socialistas e ecologistas) pediram aos grupos parlamentares macronistas e de direita para bloquearem a União Nacional de aceder a qualquer cargo importante na Assembleia Nacional.

Em resposta a este anúncio, Le Pen afirmou na rede social X que os partidos da esquerda “estão todos unidos, mas apenas no seu ódio à democracia, ao pluralismo e a quase 40% dos franceses”, dizendo que “o mais interessante é saber quem responderá a este apelo, que é uma negação da República porque é uma negação da democracia que a sustenta”.

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