FMI alerta para risco de juros altos por mais tempo

Fundo passou, nos últimos três meses, a apontar para uma descida mais lenta da inflação, algo que pode “complicar a normalização da política monetária”.

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FMI apresentou novas previsões para a economia mundial Yuri Gripas / REUTERS
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve quase sem alterações as suas previsões para o crescimento das principais economias mundiais, mas passou nos últimos três meses a estar mais preocupado com a resistência de pressões inflacionistas, algo que, avisa, poderá atrasar o ritmo de descida das taxas de juro por parte dos bancos centrais.

Na actualização das suas previsões económicos realizada esta terça-feira, a entidade com sede em Washington voltou, tal como já tinha feito em Abril, a apontar para um crescimento este ano da economia mundial de 3,2%, o que representa uma estabilização do ritmo de actividade económica depois da variação de 3,3% registada no produto interno bruto (PIB) mundial em 2023. No que diz respeito a 2025, a previsão de crescimento do FMI passou de 3,2% em Abril para 3,3%.

A ausência de surpresas significativas ao longo dos últimos três meses não impediu, contudo, que os responsáveis do fundo fizessem alguns ligeiros acertos nas estimativas realizadas para cada um dos grandes blocos mundiais. Enquanto nos EUA a previsão de crescimento para este ano foi revista em baixa em 0,1 pontos percentuais, para 1,9%, e no Japão em 0,2 pontos, para 1%, no caso da zona euro e da China, o FMI passou a estar ligeiramente mais optimista. A projecção de crescimento na zona euro passou de 1,4% em Abril para 1,5% agora, enquanto a da China subiu de 4,1% para 4,5%.

A grande alteração de perspectivas ocorreu, todavia, na evolução esperada dos preços. Em Abril, o fundo estava mais confiante na velocidade a que a taxa de inflação continuaria a caminhar para os objectivos definidos pelos bancos centrais, mas, agora, aquilo que assinala é que “os preços nos serviços estão a atrasar os progressos no processo de desinflação, o que está a complicar a normalização da política monetária”.

Tanto nos EUA como na zona euro, a persistência da inflação nos serviços está a ser vista pelos bancos centrais como a última grande barreira para que possam descer de forma mais rápida as taxas de juro. Até agora, o Banco Central Europeu (BCE) realizou apenas uma descida das suas taxas de juro de referência em Junho (de 4% para 3,75%) e a expectativa é a de que esta semana opte por manter os juros inalterados, preferindo esperar por mais dados para eventualmente, na reunião de Setembro, fazer outra descida.

Nos EUA, a Reserva Federal ainda não começou a descer as taxas de juro, havendo a expectativa de que, em Setembro, se os dados da inflação entretanto ajudarem, isso poder acontecer.

O risco, assinala o FMI, está na forma como irão evoluir os salários quando comparados com a produtividade. Se os salários aumentarem mais do que a produtividade, avisa o relatório publicado esta terça-feira, isso tornará “mais difícil às empresas moderar os seus aumentos de preços, especialmente nos casos em que as margens de lucro já forem apertadas”.

Para o fundo, não há dúvida: nos últimos três meses, “os riscos em alta para a inflação aumentaram, reforçando as expectativas de taxas de juro mais altas durante mais tempo”, algo que ocorre “num contexto de maiores tensões no comércio e de incerteza relativamente às políticas seguidas”.

“Para gerir estes riscos e preservar o crescimento, a combinação de políticas deve ser aplicada de forma prudente para atingir a estabilidade de preços e reforçar as almofadas entretanto reduzidas”, defende o fundo.

O FMI não apresenta no relatório publicado nesta terça-feira, que é dedicado exclusivamente às principais economias do planeta, novas previsões para a economia portuguesa. Em Abril, as estimativas eram de um crescimento de 1,7% em 2024 e de 2,1% em 2025.

Há, no entanto, um indício positivo para a evolução futura das projecções para Portugal. O FMI reviu fortemente em alta a sua previsão de crescimento económico para a Espanha este ano, de 1,9% para 2,4%. Tendo em conta a forte ligação que existe entre as economias portuguesa e espanhola, torna-se provável que o FMI venha a assumir em futuras revisões um cenário também mais positivo para a variação do PIB nacional.

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