The Bear, uma cozinha com mais tensão e intensidade

Os dez novos episódios da criação de Christopher Storer, fenómeno vencedor de vários prémios, chegam esta quarta-feira ao Disney+. Falámos com Lionel Boyce, que faz de Marcus, o pasteleiro.

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Lionel Boyce em The Bear FX
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Lionel Boyce é hoje conhecido pelo papel de Marcus, o pasteleiro sensível responsável pelas sobremesas do restaurante em The Bear, a série-fenómeno criada por Christopher Storer há dois anos e passada nos tensos bastidores de um pequeno restaurante em Chicago. Antes disso, Boyce, também chamado L-Boy, era, ao lado de nomes como Tyler, the Creator, Earl Sweatshirt ou Syd, o membro não-músico com piada do ruidoso colectivo de hip-hop Odd Future que fez furor no início dos anos 2010 e está hoje inactivo.

Já na altura, Boyce estava mais interessado em fazer televisão e representar, mas ia aparecendo nos discos e canções do colectivo por diversão. Foi com esses amigos que co-criou a série de sketches Loiter Squad. Também foi responsável, com Tyler, the Creator, pela série animada The Jellies!.

Nada disso o preparou, contudo, para a série que lhe trouxe uma visibilidade mais mainstream. É certo que The Bear, um original FX cujos dez episódios da terceira temporada chegam esta quarta-feira ao Disney+, algumas semanas após a estreia original nos Estados Unidos, ganhou prémios na categoria de comédia, incluindo Globos de Ouro e Emmy de "melhor série cómica". Só que esta é uma empreitada muito diferente de tudo aquilo a que estava habituado. É mil vezes mais dramática e só raramente está preocupada em ter piada.

A falar ao PÚBLICO numa curta entrevista via Zoom, Boyce explica que vê a série tanto como comédia quanto como drama, algo, diz, comum à maior parte da televisão de hoje. Marcus, o pasteleiro atencioso e com gosto no que faz, não é, admite, a personagem "mais hilariante da cozinha" nesta série. Quando aceitou o papel, "não tinha percebido que ia ser assim, mais dramático". E acrescenta que "foi um bocadinho desgastante... Fui mais ou menos atirado para a fogueira".

Ainda assim, para Boyce "tem sido uma óptima experiência de aprendizagem", mencionando que fica contente que as pessoas se tenham conseguido relacionar com o seu trabalho. "A cada nova temporada sinto que estou a descobrir uma nova camada" da personagem, assegura. "Fico sempre a pensar 'quem me dera ter descoberto isto na primeira época'". "Foi uma transição interessante, porque estou muito mais habituado a improvisar, dizer piadas, inventar", ou pôr uma peruca, como fazia em Loiter Squad, e nesta série é algo que não pode fazer. A sua personagem em The Bear usa "um gorro", mas ele tem como instinto "pôr uma peruca com um rabo-de-cavalo e dizer algo parvo".

Para ajudar na preparação, foi trabalhar em cozinhas de restaurantes e pastelarias da vida real, como a Hart Bageri, em Copenhaga, na Dinamarca. "Ajudou muito", não necessariamente nos dotes da culinária, mas mais "observar, ver como é que eles gerem as coisas". E "falar com as pessoas não sobre como é que desempenham uma tarefa específica, mas sobre a história delas e como é que acabaram a trabalhar lá". Encontrou semelhanças com muitas dessas histórias e a série em termos de percurso. "Há algumas pessoas para quem trabalhar numa cozinha é o seu primeiro amor, algo que buscam, mas para muitos outros foi um segundo amor no qual tropeçaram. É uma paixão que cresce", foi percebendo tanto na pesquisa quanto na rodagem da série. As pastelarias foram especialmente interessantes, já que, diz, têm "a mesma urgência sem terem a intensidade da cozinha" de um restaurante normal, o que influenciou "a forma como Marcus opera" quando está a trabalhar.

"Intensidade" é uma palavra que vem à cabeça quando se vê The Bear, uma série tensa. Marcus, que estava, na leva de episódios anterior, a cuidar da mãe, sofre, mas não é a personagem que mais carrega pressão sobre os ombros. "Venho de um mundo em que tenho amigos com muita energia", diz, referindo-se aos colegas de Odd Future. "Estou habituado a isso, acho que sou bom a operar no caos".

Boyce é californiano, cresceu longe dos Invernos rigorosos e do ambiente de Chicago, tal como parte do resto do elenco. Ainda assim, diz que os locais não olharam para estes forasteiros com suspeição e aceitaram a série. "As pessoas têm muito orgulho na sua cidade natal e há muito calor de toda a gente que aprecia o que fazemos", desenvolve. Quando é abordado, há sempre "coisas simpáticas" que lhe são ditas. Fala de como nas rodagens da primeira e da segunda temporadas, sempre que tinha tempo livre e os colegas do elenco – os laços entre eles não são "performativos", garante, são reais – estavam a trabalhar, ia "comer sozinho" a restaurantes. "Era comum um estranho sentar-se ao meu lado e começar a meter conversa, a falar sobre a vida. Conversar só por conversar, de forma genuína, que é algo que não acontece muito em Los Angeles ou Nova Iorque", adiciona.

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