A crise climática está a tornar os nossos dias mais longos, diz estudo

O derretimento do gelo no planeta está a desacelarar a rotação da Terra e pode interferir com a navegação por GPS, o tráfego da Internet e até as transacções financeiras, sugere estudo científico.

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As alterações da duração do dia são da ordem dos milissegundos, ou seja, não são perceptíveis no quotidiano, mas podem ter impactos em certas actividades FRIEDEMANN VOGEL / EPA
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A humanidade está a interferir com a rotação da Terra – e isto está a tornar os nossos dias mais longos. Um novo estudo científico mostra que a crise climática, provocada pela emissão de gases com efeito de estufa, está a fazer com que a duração de cada dia aumente à medida que o degelo das calotas polares muda o formato do planeta.

“As alterações climáticas actuais não têm precedentes. Nas últimas décadas, acelerou o degelo dos glaciares e dos mantos de gelo polares, conduzindo a uma subida do nível do mar. Este transporte de massa dos pólos para a linha do equador aumentou significativamente a obliquidade da Terra e a duração do dia desde 1900. Mostrámos que a actual taxa de aumento é mais elevada do que em qualquer momento do século XX”, escrevem os autores num estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica PNAS.

Por outras palavras, a queima desenfreada de combustíveis fósseis, desde a era industrial, alterou profundamente a atmosfera do planeta, aquecendo-o. Isto provocou uma lenta redistribuição da água armazenada nos pólos, que se acumulou em maiores quantidades nos mares próximos à linha do equador, deixando a Terra mais “gordinha”. Com este novo formato, mais achatado, a rotação do planeta tende a abrandar e os dias ficam mais longos.

“As alterações climáticas estão a derreter tanto gelo que podemos ver um enorme impacto na forma como o planeta está a girar”, disse o co-autor Surendra Adhikari, geofísico do Laboratório de Propulsão a Jacto da agência espacial norte-americana (NASA, na sigla em inglês), ao diário norte-americano The Washington Post.

Para já, as alterações verificadas na duração do dia são da ordem dos milissegundos, ou seja, não são perceptíveis na nossa rotina quotidiana. Contudo, tais mudanças são suficientes para perturbar potencialmente o tráfego da Internet, as transacções financeiras e até a navegação por GPS, uma vez que todas estas actividades dependem da precisão da cronometragem.

Consoante a evolução da crise climática, os dias podem continuar a ficar mais longos. “Em cenários de emissões elevadas, a taxa de duração do dia induzida pelo clima continuará a aumentar e poderá atingir uma taxa que é duas vezes superior à actual, ultrapassando o impacto da fricção das marés lunares. Estas descobertas comprovam o efeito sem precedentes das alterações climáticas no planeta Terra e têm implicações para a cronometragem precisa do tempo e a navegação espacial, entre outras”, alertam os autores no artigo.

O fenómeno é uma demonstração de como a humanidade está a transformar a Terra e a rivalizar com processos naturais que existem há milhares de milhões de anos, lê-se no diário britânico The Guardian.

“Podemos ver o nosso impacto, enquanto seres humanos, em todo o sistema terrestre, não apenas a nível local, como o aumento da temperatura, mas também a nível fundamental, alterando a forma como a Terra se move no espaço e gira. Devido às nossas emissões de carbono, conseguimos fazer isto em apenas 100 ou 200 anos. Enquanto os processos que regem o planeta estavam a decorrer há milhares de milhões de anos, o que é impressionante”, afirmou o co-autor Benedikt Soja do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (ETH) em Zurique, na Suíça, ao The Guardian.

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