Pandemia afastou 21 milhões de crianças da vacinação, alerta a OMS e Unicef

Número de crianças que não receberam as vacinas previstas em 2023 aumentou para 21 milhões. Novo balanço da OMS e Unicef diz que a cobertura vacinal não recuperou da queda provocada pela pandemia.

Foto
Imagem de arquivo. Maioria das crianças que não receberam as vacinas previstas são de países em conflito ou em situações vulneráveis Daniel Rocha
Ouça este artigo
00:00
03:31

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Cerca de 21 milhões de crianças não receberam as vacinas previstas em 2023. São mais 2,7 milhões do que antes da pandemia de covid-19, um retrocesso nos objectivos globais de imunização que estão longe das metas para 2030.

O alerta consta de um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado esta segunda-feira com dados sobre a cobertura mundial da vacinação e que indica que ainda não foram alcançados os níveis globais de 2019, o ano anterior ao início da pandemia de covid-19.

"Dos dados de 2023 que os países e regiões submeteram, o que sabemos é que a cobertura de imunização global ainda não recuperou totalmente da histórica queda que vimos durante a pandemia e, de facto, em 2023, o incremento da cobertura estagnou, comparando com 2022", salientou Katherine O"Brien, directora do departamento de imunização da OMS, em conferência de imprensa.

Segundo os dados das duas agências, o número de "doses-zero" — crianças que não receberam uma única dose de vacina durante o programa de imunização de rotina — aumentou de 13,9 milhões em 2022 para 14,5 milhões em 2023, muito acima das 12,8 milhões em 2019. Além destas, outros 6,5 milhões de crianças não receberam a segunda e terceira doses da vacina contra a difteria, tétano e tosse convulsa (DTP).

No conjunto, entre as "dose-zero" e a sub-imunização, são 21 milhões de crianças em 2023 que estão nessa situação, mais 2,7 milhões do que antes da pandemia, quando eram 18,3 milhões, alertaram a OMS e a Unicef.

Mais de metade dessas crianças (55%) vivem em países com condições vulneráveis ou em conflito, apesar de representarem apenas 28% do global de nascimentos, como Nigéria, Etiópia, Paquistão, Iémen e Afeganistão, entre outros, salientou Ephrem Lemango, chefe da área da imunização da Unicef.

Katherine O"Brien realçou que as crianças que vivem nestes ambientes debatem-se também com falta de segurança, de nutrição adequada e de cuidados de saúde, elevando a probabilidade de virem a morrer de uma doença prevenível pela vacinação, se forem infectados. A especialista da OMS alertou ainda que as crianças que ficam sub-imunizadas estão, na prática, a perder vacinas contra várias doenças como o sarampo, a meningite e febre-amarela.

O relatório agora divulgado indica também que, em 2023, 84% das crianças a nível global (180 milhões) receberam as três doses da vacina contra a difteria, tétano e tosse convulsa (DFT), que é considerada um indicador do programa de imunização. Essa percentagem não melhorou em comparação com 2022 e ainda está aquém do objectivo de 90% previsto na Agenda da Imunização 2030.

Na conferência de imprensa, Katherine O"Brien salientou que os dados agora conhecidos também apresentam aspectos positivos, como a diminuição das "dose-zero" em África.

Além disso, a administração da terceira dose da vacina DTP aumentou nas Américas e em África e nos países de baixo rendimento, onde os sistemas de saúde sofreram mais com a pandemia, verificou-se uma evolução ligeira dos níveis de imunização.

A especialista destacou ainda o aumento da cobertura global em 2023 da vacina HPV, contra o vírus papiloma humano, ano em que 27% das raparigas receberam a primeira dose, mais 7% do que 2022, através da sua introdução em países populosos como Bangladesh, Indonésia e Nigéria, apoiada pela aliança GAVI.